As nossas avenidas estão sendo transformadas em rodovias. A engenharia de tráfego está ligada aos interesses da indústria automotiva, petrolífera e da construção. Para ela, carros e caminhões resolvem tudo e os outros modais são eliminados. No Brasil ela se instalou nos anos 50, com a Belém –Brasília, a Transamazônica e a criação de uma imensa rede rodoviária. Os mesmos interesses foram estendidos às nossas cidades com carreteiras e viadutos, que ligam um ponto engarrafado a outro e destroem os espaços urbanos.
Essas empresas doam a prefeitos e governadores projetos visando as obras. Elas não estão interessadas em urbanismo. Destroem áreas verdes para criarem rodovias e viadutos. Um bulevar e um calçadão, como os de Copacabana e Ipanema, são obras urbanas, mas como são baratas não interessam às construtoras. Salvador não tem passeios, nem arborização nas ruas, senão veredas de 1,00 m, cheias de postes, buracos, degraus e rampas para garagens. De que servem pisos tácteis, com esses obstáculos e sem semáforos sonoros? As passarelas, quando existem, estão a quilômetros de distancia, como na Paralela.
Onde existiam rotulas, que são centros de articulação e decisão, elas constroem viadutos, que são vias unidirecionais, Sobre a Rótula do Abacaxi construíram dois viadutos superpostos e ameaçam com um terceiro se a Linha Viva, pedageada, for feita. Pois bem, o viaduto que leva ao Retiro está sempre vazio, enquanto os motoristas desviam para o que restou da rótula, que leva à Barros Reis, ao Cabula, ao Comercio e é retorno nas duas direções.
Paris e Lisboa não têm viadutos, senão rond points, Goiânia também. Nunca vi as rótulas dos Reis Católicos, do Largo do Tanque e de São Rafael engarrafadas, mas viadutos sim. O retrato de nossas empreiteiras é a via expressa Baia de Todos os Santos. Onde bastava um túnel, foram feitos quatro. Para o pedestre atravessar a rua precisaria pegar dois elevadores, que não existem. Na nova Avenida Orlando Gomes, que virou um viaduto, como na Ladeira da Fonte das Pedras (ou Nova), há pilares no meio das pistas. Essas empreiteiras não são só corruptas, são ineptas.
Fonte: A Tarde – 14/01/2018