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Morte do médico Aloysio Campos, fundador do Sarah, entristece a Arquitetura

Aloysio Campos da Paz Júnior tinha 80 anos (Foto: Rede Sarah)

O médico Aloysio Campos da Paz Júnior, fundador da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, faleceu no domingo, 25/01, em Brasília. Aos 80 anos, ele foi vítima de insuficiência respiratória. Deixa esposa, dona Elsita Campos, três filhos e quatro netos. O corpo foi velado e sepultado na última segunda-feira (26/01) na capital federal.

 

A  presidente da República, Dilma Rousseff, divulgou nota de pesar em que lembra que o médico tratava os doentes com base no potencial de cada um e não nas dificuldades. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, decretou luto oficial de três dias em reconhecimento aos benefícios do trabalho do médico.

 

A morte emocionou não só o meio médico, mas também muitos arquitetos que conviveram com ele, como Haroldo Pinheiro, consultor técnico da Rede Sarah de Hospitais por mais de 10 anos e atual presidente do CAU/BR. Ele lembra da grande amizade que o ortopedista manteve com o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e da obra que realizaram juntos:

 

“Foi a união de dois talentos pela humanização do tratamento dos pacientes, oferendo assistência médica de excelência em ambientes mais fraternos, em primorosas construções industrializadas que inovaram a arquitetura hospitalar e lhes renderam justo prestígio internacional”.

 

Projeto de Lelé, o Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, o Sarah Lago Norte, no DF, foi inaugurado em 2003

 

 

PERFIL

 

Em 1980, o médico e o arquiteto iniciaram a Rede Sarah de Hospitais, com a inauguração de um Hospital de referência no Centro de Brasília, para 350 leitos, no terreno onde funcionava o pequeno Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek.

 

Em sequência, realizaram os hospitais Sarah das cidades de São Luís, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Macapá, Belém e Rio de Janeiro, além do Centro Internacional de Neurociências e Reabilitação, o “Sarah Lago Norte”, também em Brasília. Outras unidades foram projetadas para Curitiba, Natal e Recife, ainda não executadas.

 

Após a realização do primeiro hospital de Brasília e do seguinte em São Luís, criaram o Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) em Salvador, na Bahia, que, sob a coordenação do Lelé e sua equipe, fabricou os demais hospitais da Rede. Com a mesma tecnologia de industrialização, o CTRS ainda construiu postos avançados do Tribunal de Contas da União em diversas unidades da Federação, prédios diversos para programas sociais e passarelas cobertas, além de equipamentos urbanos e hospitalares.

 

Em horas vagas, médico e arquiteto se encontravam para seções musicais igualmente afinadas – Aloysio no trompete e Lelé ao piano –, acompanhados pelos muitos amigos instrumentistas e cantores das cidades em que construíram hospitais e treinaram novas gerações de médicos e arquitetos.

 

HOMENAGEM AO AMIGO LELÉ

 

Em 21 de maio de 2014, data do falecimento de Lelé, o médico-ortopedista Aloysio Campos da Paz Jr falou sobre a parceria que manteve com o arquiteto. ” Ele criou os espaços que permitiram a implantação de uma cultura em medicina de reabilitação, que, por meio de gerações, vem beneficiando milhares de brasileiros. Alguns são honrados com monumentos depois da vida. O Lelé ergueu os seus monumentos em vida e eles são a maior testemunha de seu gênio”, disse ao portal G1.

 

Na edição de junho de 2014, a revista Brasileiros publicou um comovente depoimento do médico sobre o arquiteto. Eis a íntegra:

 

TRATAMENTO HUMANIZADO
por Campos da Paz

 

Conheci João da Gama Filgueiras Lima – o Lelé – quando, retornando da Inglaterra, passei a chefiar o 10º andar do Hospital Distrital, hoje Hospital de Base. Lá se internavam os traumatizados. Lá foi tratada Alda Rabelo Cunha, companheira de Lelé, que tinha sofrido grave acidente automobilístico. Na época, notívago como hoje, eu passava horas montando trações com os equipamentos que o Distrital havia recebido, pois tudo havia sido importado da América. Procurava as melhoras maneiras de viabilizar o tratamento conservador. Lelé acompanhava e desenhava esquemas, os quais eram pendurados nas paredes para que as enfermeiras pudessem reproduzi-los nos traumatizados. Dessa nossa convivência, nasceu uma amizade caracterizada pela discussão constante sobre a humanização do tratamento que tanto nos interessava e que buscamos implementar. Em 1968, quando fui convidado para dirigir o Centro de Reabilitação SARAH Kubitschek – hoje o Sarinha –, surgiu a oportunidade de aproveitar os jardins que o cercavam, o sol, o verde, as plantas, enfim, agregar liberdade de espaço com tratamento. As camas pesadas eram empurradas para os jardins, onde se davam as visitas médicas. Os doentes, na maioria crianças, recebiam parentes em ambiente aberto e ensolarado. Essa vivência deu origem aos grandes espaços que Lelé projetou, em Brasília e, posteriormente, em todos os Hospitais da Rede SARAH. Implantou-se uma cultura, na qual a mobilidade, que foi dada pelo projeto de uma cama especial – a Cama-Maca –, permitia que o doente pudesse ser transportado sem o sofrimento, que muitas vezes ocorria com a sua remoção de um ponto para outro. Esse é o legado maior, o qual até hoje surpreende muitos: espaços e alegrias, sol no horizonte de Brasília, e não quartos como escritórios ocupados por burocratas equivocados, que não compreendem que a liberdade e o direito de vivenciar vários espaços são fatores fundamentais para a cura.

 

ENTREVISTA

 

Conheça mais sobre Aloysio Campos da Paz no caderno especial publicado pelo jornal Correio Braziliense: O Doutor da Esperança

 

Em 2010, o jornal Correio Braziliense entrevistou Aloysio Campos, primeiro ortopedista do Distrito Federal, para a série “Bravos Candangos”, que trazia conversas com pioneiros de Brasília. Clique aqui e leia a matéria completa.

 

CONHEÇA OS HOSPITAIS DA REDE SARAH

 

O Centro Internacional Sarah de Neurorreabilitação e Neurociências, no Rio de Janeiro

 

O Centro de Reabilitação Sarah Kubistchek Brasília, o primeiro da rede, inaugurado em 1960

 

Centro de Neurorreabilitação Sarah Fortaleza

 

Hospital Sarah Salvador

 

Sarah São Luís

 

Centro de Fisioterapia e Reabilitação Sarah Macapá

 

Sarah Belo Horizonte

 

Centro de Reabilitação Infantil Sarah Belém

 

 

Publicado em 26/01/2015. Atualizado em 27/01/2015.

 

 

6 respostas

  1. Gratidão é o que me vem a mente por existirem pessoas tão interessadas nos seres humanos, em diminuir o seu sofrimento e em estabelecer parcerias para oferecer a beleza da natureza e da arte durante o tratamento.

  2. Dois Brasileiros de primeiríssima linha, pena que os bandidos(políticos) anulam os grandes feitos do país.

  3. Foi gratificante a informação da ligação médico-arquiteto da qual não sabia. Achava q tudo ainda era produto da Sarah. Estou usando a Rede no RJ e me impressiona como tudo funciona em excelencia. Nem nas melhores Redes ou planos de saúde particulares há o atendimento da Rede Sarah de reabilitação. Cau RJ A18864-6

  4. Convivi com o dr. Campos (como o chamávamos) de janeiro de 1971 a agosto de 1972 quando trabalhei como fotógrafo dos casos de ortopedia e de outras especialidades ali tratadas no “Sarinha” antes da construção do edifício projetado por Lelé. Nesse período tivemos oportunidade de, quando meu trabalho ia até depois do horário normal, de trocar ideias sobre fotografia quando ele aparecia no minúsculo laboratório. Ele sempre me tratou como igual – eu ainda estava cursando Arquitetura – e me fazia par4ticipar, como ouvinte das reuniões das Terças-feiras quando se discutiam os casos mas complicados da semana. Quase me tornei ortopedista de tanto ouvir as várias opiniões dos médicos sobre cada paciente (brincadeira). Infelizmente o salário estipulado pelas Pioneiras Sociais era ínfimo. Reconhecendo isso, ele e alguns dos médicos faziam uma vaquinha para completar o ordenado regular.

  5. O que li sobre Aloysio e Lelé e as imagens que vi, me transportaram à um mundo mágico e possível, idealizado, planejado e realizado para atender pessoas de forma integral e não só de seu órgão adoecido. Levaram VIDA, RESPEITO aos pacientes. Colocaram jardins à altura dos leitos dos pacientes para que vislumbrassem com a beleza das flores e através delas, quem sabe, sentissem que Deus estava ali bem pertinho.
    Com certeza Aloysio receberá em outra dimensão, tudo que ofereceu aqui nesta vida.

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