Por Josep Maria Montaner
Hoje Palácio Capanema, o antigo Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro é uma obra emblemática da arquitetura do século 20. Na verdade, foi o primeiro edifício público moderno do planeta, demonstrando a grande capacidade criativa dos então jovens arquitetos brasileiros. Sob a influência de Le Corbusier, sim, mas de uma monumentalidade inesperada. Obra-prima de síntese, conjuga a colunata de sabor clássico com a modernidade de composição e movimento abstratos, de lançamentos axiais e encaminhamentos oblíquos, integrando arte e jardinagem. Ícone octogenário, é patrimônio que não pertence só aos brasileiros.
Patrimônio nos informa o dicionário, é herança. O patrimônio demarca e incorpora a história comum, e nenhum tipo de patrimônio é mais eficaz nesse sentido que o patrimônio arquitetônico. Mas a privatização do patrimônio arquitetônico ameaça a sua acessibilidade e transparência, o seu usufruto democrático, a sua persistência enquanto memória edificada que edifica.
Bem faz a lei brasileira que proíbe a alienação de bem público tombado, ou seja, reconhecido formalmente como patrimônio nacional. É o caso do Palácio Capanema. Vender um patrimônio significativo da história nacional é ilegal no Brasil. Mesmo que não fosse, por à venda o Palácio Capanema é já um ultraje, amostra da miséria cultural de um pensamento para o qual tudo é mercadoria e o mercado tudo decide e tudo consome.
Por à venda um patrimônio significativo da história universal é também insensatez, considerando que o valor do Palácio – obras de arte incluídas – está muito além do que o mercado pagaria. Espera-se que o ultraje não prospere e a insensatez se recolha. Mas antes prevenir do que remediar.
Sobre o autor
Josep Maria Montaner é arquiteto, historiador e professor. É professor catedrático da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona. É autor de dezenas de livros, dentre eles Arquitectura y política (Gustavo Gili, 2011) e Arquitectura y crítica en Latinoamérica (Nobuko, 2011), com versão brasileira pela Romano Guerra Editora.
Fonte: Vitruvius
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