Lecionar Arquitetura e Urbanismo é desafiador. Além de colocar em prática um conhecimento adquirido ao longo de anos de dedicação e esforço, repassando aos estudantes o fruto do aprendizado, o bom professor deve contribuir para que o aluno descubra seu potencial e seja cada vez mais motivado a se envolver com o futuro campo profissional. No Piauí, a arquiteta e urbanista Ana Negreiros é uma das profissionais que se destacam por ter escolhido a sala de aula, atuando para formar novos Arquitetos e Urbanistas e sendo reconhecida por divulgar a produção acadêmica da área para a sociedade através de projetos de extensão.
Mestre em projetos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ana Negreiros já atuou como arquiteta e urbanista em órgãos públicos, na iniciativa privada, mas logo na graduação percebeu que se identificava mais exercendo a função de professora. Ela já atuou em faculdades particulares e hoje se dedica exclusivamente ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Piauí. “Eu entendia que me sentia mais realizada ministrando aula, que tinha como dar uma contribuição maior a sociedade. Apesar de gostar muito do mercado, na sala de aula eu me sentia mais útil”, explica Ana Negreiros.
Ana Negreiros ressalta que pelo fato de trabalhar na formação de futuros Arquitetos e Urbanistas, observa que muitos alunos entram sem entender bem o que é a profissão. Dessa forma, a academia tem como missão orientar os alunos a desenvolverem o que eles querem dentro de inúmeras possibilidades de atuação. “Não é só jogar conhecimento, é ser orientador, todo mundo só faz bem feito o que faz com prazer. Então é dizer para o futuro arquiteto e urbanista que ele tem a capacidade de desenvolver várias possibilidades e potencial para contribuir com a sociedade, é motivar e incentivar o aluno”, pontua, acrescentando que os estudantes de Arquitetura tem que ser curiosos. “Eles já são criativos e precisam compreender que ser arquiteto é resolver problemas”.
Com base em sua experiência na academia, Ana Negreiros afirma que há características que são essenciais para o Arquiteto e Urbanista. Entre as principais estão a curiosidade e a empatia. Ela cita que as pessoas cobram do profissional a solução de problemas num momento em que estão realizando sonhos. “O cliente está realizando o sonho de construir sua casa, sua sala comercial, e exige do arquiteto a solução daquele problema. Isso também vale para o planejamento urbano. Então o arquiteto precisa ser curioso para pesquisar e entender toda a subjetividade no processo de criação, precisa ter empatia, se colocar no lugar do outro, entender as intuitos das pessoas”, conclui.
O mais importante, segundo a arquiteta, é compreender que na Arquitetura e Urbanismo você trabalha para seres humanos. “Muitas vezes como arquitetos pensamos apenas no objeto construído, no prédio como uma escultura, mas a essência do trabalho do Arquiteto é entender que a edificação existe para melhorar a qualidade de vida das pessoas. A arquitetura existe para o ser humano. É assim no pensar desde da ambientação dos espaços ao complexo sistema do fluxo interno por exemplo de hospitais, como também, na construção das praças, na preservação do patrimônio etc. É conversar com as pessoas e perceber olhares que trazem diferenças para o nosso trabalho”, argumenta.
“A Tecnologia é uma ferramenta auxiliar no processo de criação”
O desenvolvimento da tecnologia tem influenciado em todas as profissões e na forma como as pessoas interagem e se relacionam com o trabalho. Na Arquitetura e Urbanismo, os reflexos do avanço tecnológico tem levado a uma nova dinâmica na produção dos profissionais.
Ana Negreiros argumenta, por exemplo, que as redes sociais tem gerado um impacto muito grande na percepção e na forma como os próprios arquitetos e urbanistas discutem a cidade. “Hoje, ainda enquanto estudante, observamos um diálogo mais intenso entre a academia e a sociedade, principalmente pelas redes sociais, inclusive discutindo a cidade. É comum observar agora que os estudantes de Arquitetura usam as redes sociais para se aproximar de outros jovens, idosos, entendendo que todos precisam vivenciar a cidade”, pontua.
Já no que diz respeito a parte da tecnologia que envolve softwares de produção na Arquitetura e Urbanismo, a professora ressalta que é interessante deixar claro que o aluno e os profissionais não devem se limitar por não ter domínio pleno de algum programa. “Uma preocupação sempre é a de que a tecnologia sirva para fazer eles irem além, e não limitar-se a ela. A tecnologia existe para que a gente utilize ela com criatividade, mas o mais importante é tirar os projetos da cabeça, materializar e explicar para as pessoas a real função do nosso trabalho”, diz a professora, acrescentando que o desenho, a maquete, enfim, são importantes, mas apenas um instrumento para comunicar e representar o real pensamento do Arquiteto e Urbanismo, que deve ir além. “A ferramenta amplia a possibilidade, expande, eles são positivos, mas sempre com a intenção de auxiliar a criação”.
Pesquisa, extensão e divulgação da Arquitetura e Urbanismo
Quando decidiu trilhar o caminho do magistério na Arquitetura e Urbanismo, Ana Negreiros sentiu a necessidade de mostrar a sociedade o resultado dos trabalhos produzidos dentro das faculdades. Essa ideia levou a criação do +Portfólio, projeto de extensão que leva trabalhos produzidos por acadêmicos para espaços públicos. O evento já teve seis edições e reúne alunos, professores e recém-formados. “O objetivo é melhorar a comunicação entre os alunos e a comunidade e incentivar à melhor produção projetual e a pesquisa científica nos diversos segmentos da arquitetura”, pontua a professora.
A presença da mulher no futuro da Arquitetura
Sobre o futuro da profissão, Ana Negreiros avalia que a Arquitetura e o Urbanismo sempre foram correlacionadas as questões sociais e políticas, e por este motivo, é provável que as mulheres ocupem um espaço mais significativos nas atividades do setor. Em 2018, apesar de corresponderem a 63% dos profissionais, as mulheres foram responsáveis técnicas em 44% dos serviços. “Acredito que no futuro a situação tende a se equilibrar, afinal de contas em uma sociedade civilizada preza-se pela igualdade e equilíbrio de oportunidades. Isso também vai influenciar na nossa profissão”, pontuou a professora de Arquitetura e Urbanismo.
Por João Magalhães
Analista de Comunicação do CAU/PI