No dia 03 de maio, durante um debate sobre assédio no mercado de trabalho, foi lançado o GT Saúde do Trabalhador do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) e também a Campanha Arquitetas Contra o Assédio. Confira o manifesto:
Nosso atual modelo econômico, baseado no modo de produção capitalista, promove um grau de competitividade extremamente acirrado entre as empresas, escritórios, instituições e, consequentemente, indivíduos. No contexto histórico nacional e internacional, a inserção da mulher no mercado de trabalho com o sexismo enraizado socialmente, culminou na oportunidade de exacerbação dos processos de acumulação primitiva e extração de mais-valia, através de baixos salários e altas jornadas de trabalho. Tal fato acentua as dificuldades nas relações de emprego, e acaba por possibilitar ocorrências graves na esfera do trabalho, como agressão física, repreensões constrangedoras, humilhações, precarização e divisão injusta de tarefas, além de possíveis perseguições e o uso da força ou outro mecanismo de manipulação para a coerção do trabalhador. Este cenário pode causar sérios problemas emocionais, psíquicos e físicos aos trabalhadores.
O assédio no trabalho é um problema real, muito mais comum do que imaginamos, e as vítimas em sua maioria são mulheres. Segundo os dados da Organização Mundial do Trabalho (OIT), mais de 52% das mulheres vinculadas a algum emprego já foram assediadas. Porém, nós acreditamos que os números de casos podem ser ainda maiores, pois, muitas vezes, ou não levamos a sério as situações onde sofremos assédio, mergulhadas na dinâmica machista de nossa sociedade, e/ou nos silenciamos, seja para manter o emprego, por medo da exposição, dentre outras razões. No cotidiano do trabalho, podemos vivenciar diversas formas de violência, sendo o mais comum, o assédio moral, seguido do assédio sexual e psicológico.
Contudo, para formalizar o(s) assédio(s), existem alguns obstáculos, como a dificuldade de reunir evidências e os baixos índices de punição. Precisamos pensar em caminhos para nos proteger e isso pode se dar por meio de denúncias e de medidas que podem ser construídas no próprio ambiente de trabalho, tais como:
Criar um Regulamento Interno sobre ética que proíba todas as formas de discriminação e de assédio moral
Diagnosticar o assédio, identificando o agressor, investigando seu objetivo e ouvindo testemunhas.
Avaliar a situação através de ação integrada entre as áreas de Recursos Humanos, CIPA e SESMT.
Buscar modificar a situação, por meio de verificação da possibilidade de aplicar ações socioeducativas para o agressor;
Não sendo possível, deverão ser adotadas medidas disciplinares contra o agressor, inclusive sua demissão, se necessário.
Oferecer apoio médico e psicológico ao empregado assediado;
O GT Mulheres na Arquitetura do SASP se manifesta com a intenção de deixar pública essa conjuntura, convocando a todos a combater o assédio com a mesma ferocidade com que ele tem atingido as mulheres. Propondo se unir em defesa das arquitetas, a campanha pretende contribuir com a identificação de casos de assédio, ações de combate a suas diversas manifestações dentro do ambiente de trabalho e orientações para auxiliar as vítimas a buscarem apoio.
Dessa forma, a campanha “Arquitetas contra o Assédio” tem os seguintes objetivos:
Exemplificar situações recorrentes no ambiente de trabalho que se configuram como formas de assédio – físico, psicológico ou moral, de modo a facilitar seu reconhecimento, tanto por parte da vítima como por seus colegas que presenciam tais acontecimentos.
Contribuir no processo de desnaturalização de comportamentos que são nocivos às trabalhadoras
Apoiar e direcionar as arquitetas vítimas de assédio
Compartilhar experiências de modo a fortalecer o combate
Não aceitamos que continuemos a ser maltratadas em silêncio, nem que algumas de nós permaneçam vítimas do(s) assédio(s). E, não aceitaremos mais, caladas, todo esse constrangimento e sofrimento que afeta brutalmente a vida e carreira de tantas mulheres.
São Paulo, 03 de maio de 2018.
Fonte: SASP