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Arquiteto dinamarquês elaborou guia para pensar a vida pública nas metrópoles

Estimular a integração entre os habitantes e os espaços públicos de uma metrópole é um dos maiores desafios dos administradores dos municípios. Entretanto, pensar ações que viabilizem o aproveitamento do ambiente público, entender as necessidades de uma população e usar essa relação para melhorar as políticas públicas – mobilidade urbana, segurança e saúde pública – requer um entendimento profundo sobre as problemáticas da vida pública. Criado pelo renomado arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, o Gehl Institute fez da relação população – espaço público o seu principal objetivo de pesquisa, que resultou no Guia da Vida Pública para Prefeitos – A Mayor’s Guide to Public Life.

A publicação, lançada em 2017, compreende o termo “vida pública” como um conceito que está relacionado com a maneira que os habitantes interagem com os espaços públicos e se integram entre si, sem necessariamente de se relacionar diretamente. Por exemplo, quando alguém senta em um banco de uma praça com um desconhecido, ambos estão interagindo com o espaço público e entre si, sem precisar em se comunicar. Para Gehl, a vida pública é um direito de todos os moradores de uma cidade. Direcionado para os prefeitos e suas equipes, o guia sugere cinco estratégias que os gestores devem seguir para aplicar com maestria o conceito de vida pública na sua cidade. São elas:

 

Medir: O texto analisa o tráfego de pedestres na Times Square, principal rua de Nova Iorque – onde o instituto está localizado – como case principal. O primeiro passo do guia recomenda que os gestores meçam onde e como as pessoas gastam seu tempo livre nos espaços públicos, ao invés de iniciar um mapeamento de dados do zero. De acordo com o texto, a mensuração dos hábitos da população reflete diretamente no desenvolvimento das políticas públicas para a melhoria dos espaços de uso comum. “Claro, medir as pessoas conta apenas parte da história. Deve ser combinado com pesquisas, várias formas de engajamento e coleta de dados quantitativos sobre o composição física dos espaços públicos”, destaca o texto.

 

Convidar: Muitas vezes os cidadãos são questionados pelo poder público se preferem “opção 1, 2 ou 3” mas não têm poder de decidir quais projetos eles realmente querem que sejam implementados. Para transformar essa realidade o guia sugere que os gestores ampliem o engajamento dos cidadãos na construção de melhorias para o ambiente público das cidades. De acordo com Gehl, para fomentar a vida pública, cada pessoa precisa sentir-se bem-vinda para participar da criação e do design dos espaços públicos.

 

Fazer: Nem sempre é fácil tirar uma ideia do papel e construir um projeto. Por esse motivo, a partir do que foi construído nas etapas anteriores, o guia sugere ações para produzir resultados reais nos espaços públicos, começando com intervenções temporárias que se baseiam no que já existe, mas focando em direção a uma mudança sistemática de longo prazo. O primeiro passo é experimentar projetos de baixo custo e baixo risco, entre eles, novos mecanismos de comunicação. “Para expandir e diversificar as vozes na criação de cidades, os líderes precisam encontrar novas maneiras de solicitar feedback e aproximar os cidadãos da participação no novo processo de desenvolvimento”, aponta o texto. A segunda etapa foca na construção sobre o que já existe e do que as pessoas já realizem nos espaços, como andar de skate, fazer churrasco, cortar gramados, sendo essas atividades legais ou não. Para o autor, isto sinaliza um desejo pessoal para o uso dos recursos do espaço público.

 

Evoluir: Se a construção de um projeto se deu a partir de um ponto de vista, não quer dizer que essa percepção não possa mudar, pelo contrário. O guia aponta que o monitoramento e a avaliação de um projeto devem ser constantes, tendo em vista que a maneira como as pessoas usam a cidade está em constante evolução. Para desenvolver projetos de sucesso para os espaços públicos, é preciso ter o entendimento de que a cidade “nunca está terminada”. Além disso, a evolução de um projeto depende da facilidade do entendimento dos cidadãos sobre o que está sendo proposto. Ou seja, é necessário o uso de uma linguagem mais direta ao invés de utilizar conceitos técnicos e complexos.

 

Formalizar: Na última etapa do guia, entende-se que foi iniciada a execução dos projetos e que a relação dos habitantes com a cidade já foi modificada. Entretanto, por mais que a valorização de um único parque ou praça valha a pena, ainda são pequenas ações isoladas. O principal objetivo é torna-las maiores e institucionaliza-las, abrangendo as pessoas do governo e da sociedade civil. Ou seja, incluir nas demandas de longo prazo das prefeituras os projetos para a relação moradores espaço público. Formaliza-las não significa retirar o poder de decisão dos cidadãos, pelo contrário. Mais do que nunca, os habitantes devem estar no centro das decisões. Tal abordagem não é apenas possível, mas provou ser altamente bem sucedida na escala das cidades.

 

Além das estratégias, o guia é composto por uma série de estudos de caso relacionados às cidades de Nova Iorque, Pittsburgh, San Fraciso e St Paul, Dender e Lexington, respectivamente.

 

Quanto ao cenário nacional, o arquiteto considera que os desafios das cidades brasileiras são os mesmos desafios de qualquer outro lugar. “Em todo mundo nós temos pessoas se movendo, uma população crescente e pessoas se mudando para as cidades”, disse em entrevista ao portal The City Fix Brasil, durante o evento Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre (RS), no ano de 2016.

 

Assim como o Mayor’s Guide to Public Life, no Brasil, a prefeitura de São Paulo elaborou o Guia de boas práticas para espaços públicos da cidade de São Paulo. A principal diferença entre as duas publicações é que o material brasileiro pensa ações a partir da mobilidade urbana. Apesar dos textos serem baseados em cidades especificas, ambas iniciativas podem ser utilizadas para auxiliar os gestores a pensar soluções para melhorar a integração dos habitantes com o ambiente no qual eles estão inseridos.

 

Fonte: FNA

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