ARQUITETURA SOCIAL

Arquitetos discutem desafios e oportunidades da Habitação Social

 

 

O CAU/BR vem apresentando, desde março, diversos exemplos de arquitetos e urbanistas envolvidos em projetos de Habitação Social. Alguns desses casos foram debatidos na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, realizada no Rio de Janeiro em outubro de 2017. Com a presença de centenas de colegas, três profissionais de destaque na área consideraram as oportunidades e desafios presentes na Arquitetura Social. São eles: Demetre Anastassakis, responsável pelo projeto do Conjunto da Maré, no Rio de Janeiro; Jorge Mário Jauregui, que fez a urbanização de mais de 20 favelas; e Gilson Paranhos, presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab-DF).

 

O arquiteto e urbanista Demetre Anastassakis, ex-presidente do IAB, é veterano em projetos de habitação popular. Seu projeto para o Conjunto da Maré está exposto na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2018. Durante a Conferência, ele convocou arquitetos de todo o Brasil a buscar terrenos dsponíveis, movimentos sociais e empreiteiras para fazer as habitações de interesse social. “Arquitetos podem fazer um prédio sem esperar governo nenhum. O governo não empreende, só cria as condições. Neste caso, as condições estão postas. Tem R$ 350 bilhões disponíveis do FGTS, e a gente não pega. Vamos começar”.

 

Da esquerda para a direita: Arquitetos Demetre Anastassakis, Jorge Mario Jauaregui, Gilson Paranhos e Sanderland Ribeiro.

 

EMPREENDEDORISMO

“Se tiver um arquiteto que quiser construir um Copan com o dinheiro Minha Casa Minha Vida, ele consegue. Não faz porque não quer”, afirmou. “Eu fabrico meu próprio trabalho, faço incorporação, faço contrato, converso com movimentos sociais, uso Minha Casa Minha Vida Entidades. Não estou esperando uma empresa encomendar um projeto, porque elas não vão”. Demetre contou que fez isso em parceria com uma empreiteira no projeto Novos Alagados, em Salvador (BA). Todas as unidades forma vendidas em menos de um mês, a R$ 35.000 cada.

 

“Nós fizemos o pioneiro projeto popular de uma grande empreiteira. Uma coisa concebidas por nós, que nós propusemos, com projeto pronto, que nós negociamos com os movimentos sociais”. Ele fez a mesma proposta em relação às ações de Assistência Técnica em Habitação Social. “As pessoas ficam esperando regulamentar a Lei de Assistência Técnica no estado, no município. Aloca recurso e vamos em frente. Não tem que esperar uma lei estadual para cumprir uma lei federal, isso é uma burrice”, disse.

 

Novos Alagados, em Salvador (BA). Projeto de Demetre Anastassakis

 

ENFRENTANDO A BUROCRACIA
O arquiteto Gilson Paranhos, presidente da Codhab-DF, está realizando desde 2015 um projeto revolucionário na periferia de Brasília, com a instalação de dez postos de assistência técnica em comunidades, 50 mutirões de renovação urbana, 12 concursos públicos de Arquitetura e mais de 30.000 escrituras entregues. Ele defende que os arquitetos e urbanistas precisam promover uma mudança cultural para enfrentar os desafios da habitação social. “Temos que mudar o foco. Nosso produto final é o papel e imagem, e não a obra ou a cidade como deveria ser”, afirmou. “Temos uma baixa estima muito grande e não acreditamos na capacidade de transformação das cidades.”

 

Gilson destacou ainda que não podem deixar que os departamentos jurídicos de órgãos públicos decidam o que deve ser feito, sem contestação. “Nós viabiliamos o fatiamento do projeto quando o jurista não deixa contratar vencedor de concurso. A lei manda fazer concurso público, mas quando fazemos, temos que justificar. É o contrário: quem não faz concurso é que tem que justificar.” Isso acontece também com os arquitetos que aprovam projetos e seguem normas de forma acrítica. “Temos que enfrentar isso, senão não vamos mudar nossas cidades, não podemos ter medo de assinar aquilo que sabemos que é melhor. A Caixa Econômica não ia financiar a casa da Dona Dalva por causa das normas. Caixa e Ministério das Cidades não entendem nada de projeto.”

 

Posto de Assistência Técnica da CODHAB, em Brasília

 

ÉTICA E ESTÉTICA

Para o arquiteto Jorge Mário Jauregui, argentino radicado no Brasil e responsável pelos projetos de reurbanização de mais de 20 favelas cariocas, o tema da habitação de interesse social é um assunto de múltiplas entradas. Envolve questões éticas , questões estéticas (articulando cultura popular com saber disciplinar), e questões políticas. Ele exemplificou essa atuação apresentando uma metodologia de projeto de melhorias habitacionais aplicada no Rio de Janeiro, em 287 casas no Complexo do Alemão, no entorno das estações Adeus e Palmeiras.

 

A metodologia tem seis passos: questionários com vistorias, construção de bases de dados, definição dos kits, atribuição dos kits às unidades, composição de preços e orçamento. Foi projetada uma casa-protótipo para se analisar questões de viabilidade da construção e orçamento. No projeto também foram planejadas vias de acessos entre as casas e a criação de hortas e centros comunitários, incluindo a fabricação de tijolos ecológicos, fabricados nos próprios canteiros de obras.

 

Neste caso, foi entregue o projeto básico ao Governo do Rio Janeiro, mas a construção foi interrompida por causa da grave crise financeira que o Estado atravessa. Os outros debatedores destacaram que a falta de vontade política é outro fator que impede a democratização da Arquitetura e Urbanismo. “Valor do automóvel médio é o valor de uma casa média. No momento que o país tomar a decisão de resolver o problema habitacional, em três anos se resolve”, afirmou Gilson. “Melhoria habitacionais são essenciais, especialmente para edifícios abandonados no centro da cidade. Nós arquitetos temos que mostrar isso para sociedade, ir para a briga politica concreta”.

 

SÉRIE ESPECIAL DE REPORTAGENS

Esta reportagem faz parte de uma série especial do CAU/BR e dos CAU/UF que está mostrando o trabalho de arquitetos e urbanistas que, superando orçamentos reduzidos e unificando diferentes opiniões, conseguiram desenvolver moradias dignas e de qualidade para as famílias de baixa renda.

 

Você atua em projetos de habitação social? Envie um e-mail para habitacaosocial@caubr.gov.br falando sobre o seu trabalho na área. Não se esqueça de inserir os autores dos projetos, contatos das pessoas envolvidas (arquitetos, autoridades e beneficiários), com um breve descritivo do projeto e até três fotos/ilustrações. Se sua história for selecionada, o CAU entrará em contato para produzir uma reportagem especial sobre os projetos.

 

SAIBA MAIS

Arquitetura Social: O mal-entendido que levou Ruy Ohtake a Heliópolis, em SP

Arquitetura Social: Confira 10 dicas para começar a empreender na área

Arquiteto de Família: Site permite financiamento coletivo de reformas

Centro de SP tem exemplos de recuperação de áreas como saída para falta de moradia

Entrevista: Clóvis Ilgenfritz, pioneiro na Arquitetura de Habitação Social no Brasil

Escritório Público de Salvador já entregou 5 mil projetos

Antiga fábrica em Curitiba abriga casas de famílias carentes

Projeto de habitação popular no coração de Porto Alegre

Iniciativa mantém 10 postos de assistência técnica na periferia de Brasília

Em Diadema, Casas Cubo são solução para abrigar famílias excluídas de reurbanização

Arquitetura Social: CAU/BR e CAU/UF destacam projetos inovadores

 

(Foto do topo: Núcleo Habitacional da Rocinha, no Rio de Janeiro. Projeto de Jorge Mario Jauregui)

3 respostas

  1. Meu nome é Gilberto Reis Jordão, tenho 51 anos de formado como Engenheiro Arquiteto Urbanista,pela UFMG, e trabalha na cidade de Varginha no Sul de Minas Gerais desde que me formei , sou filho de outro Arquiteto e junto com meu pai trabalhamos a mais de sessenta anos na região e no Brasil. Quero aqui deixar uma pequena insatisfação como profissional que sou com mais de 1.800 projetos e 1.800.000 m2 de obras executadas, com o CREA/MG e CAU/MG, fui credenciado no CREA/MG até a criação do CAU/MG e fui professor universitário durante 22 anos nos cursos de Matemática da Fepesmig (07 anos) , na Unifenas (11 anos) no Curso de Arquitetura e no Unis Varginha (4 anos) no curso de Arquitetura e Urbanismo. Já tentei falar com o CAU/MG e com o CAU/BR por e-mail a respeito de um livro didático que escrevi sobre minha atuação como Arquiteto e Urbanista e principalmente como Professor Universitário, porém parece que os Arquitetos do Interior não tem muita atenção e não são valorizados, pois só vemos artigos e participações nas publicações de Arquitetos famosos das Capitais e grandes Centros.Só agora consegui uma editora para publicar este meu livro fazendo tudo por minha conta sem a menor ajuda ou interesse de Órgão nenhum. Iste deveria ser resvisto pelos Cau e Crea na valorização de quem luta por uma Arquitetura melhor no Brasil. Espero que este aviso surta algum defeito.

  2. Fico muito triste porque estou bloqueado no CAU BR. O motivo? Porque estou colaborado para que as matérias tenham uma linha de informação mais convergente, tentando evitar controvérsias. E como não entendi que algumas matérias são direcionadas para reforçar o prestigio de alguns arquitetos, ou ao contrário, para se ancorar no prestígio de alguns arquitetos mais proeminetes. Eu estava imaginando que contava mais se colaborar com a história com mais fidelidade. Desculpem-me eu ter sido um chato. Mas se vocês divulgavam que uma lei fora apresentada como projeto de lei por um deputado tal, e o texto da lei fora feito por arquieto fulano, que já fora deputado anteriormente.Eu achei que esclarecendo quem foi que fez o texto, vocês corrigiriam e dariam os créditos para nós aqui, corrigindo a informação, e colaborando com uma maior fidelildade à realidade. Mas não. Quando exclareci os fatos, nós não ganhamos o direito de substituir o deputado fulano como autor do texto da lei. E agora as regras mudaram. Só pode citar o nome se para botar o nome de um deputado. Como nós, que fizemos o texto da lei não somos deputados, imediatamente muda-se a regra e não se pode escrever mais o nome de quem fez a proposta de lei.
    Tudo bem. Estou concluindo que nas minhas lutas e participações em conselhos profissionais e ambientais, e em sindicatos patronais filiado à FIEC, e em asociações, ainda está faltado eu me candidatar à presidência do CAU. Só assim vamos ter chances de contar a história de forma mais fiel aos fatos.
    Se eu sou filiado ao CAU, pago as anuidades, pago as RRTs. no mínimo eu mereceria uma resposta. A resposta que me deram não respondeu as minhas indagações e indignações. Responderam e pronto, bloquearam meus comentários. Porque eu que eu espero é apenas que troquem os creditos na autoria da proposta de lei. Nada disso. Porque o CAU poderia se ofender em ter uma ajuda com uma crítica construtiva? Na hora que solicito os créditos de uma proposta de lei, vocês me negam os créditos. E mais, vejam pelo lado bom: eu estou ajudando a vocês, fazendo críticas construtivas, mostrando onde as matérias estão necessitando de correções, para manter a coerência e não perder a credibilidade. Não estou querendo ofender ninguém. Solicitar os créditos é colaborar com a matéria, ajudando a ter coerência. Já fiz uns 5 comentários, mas a página não aceita meu comentário.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

NOTÍCIAS EM DESTAQUE

Assistência Técnica

Comissão aprova relatório da Medida Provisória prevendo inclusão da assistência técnica no Programa Minha Casa, Minha Vida

ARQUITETURA SOCIAL

Nadia Somekh no Estadão: MP do Minha Casa, Minha Vida é oportunidade histórica para colocar ATHIS em prática

ARQUITETURA SOCIAL

Como a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS) pode revolucionar o “Minha Casa, Minha Vida”

Assistência Técnica

Nota Técnica do IPEA defende inclusão de melhorias habitacionais no programa “Minha Casa, Minha Vida”

Skip to content