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Arquitetos discutem os desafios das cidades de língua portuguesa

As apresentações do segundo dia de debates do Fórum Internacional “A metrópole contemporânea. Os mundos da lusofonia”, que integraram a programação da série de eventos ARQ21, tiveram como foco os desafios urbanos das cidades de Lisboa (Portugal), de Luanda (Angola), de Salvador (Bahia), de Brasília (Distrito Federal), de Macau (China) e de Mindelo (Cabo Verde). Promovido pelo IAB, o evento visou a discutir o tema da metrópole contemporânea e o papel de suas áreas centrais para o desenvolvimento.

 

Para o presidente da Ordem dos Arquitetos de Portugal, João Santa Rita, Lisboa, localizada no estuário do rio Tejo, é uma cidade que conseguiu preservar o seu passado. Porém, tem como grande desafio a promoção da conexão do seu Centro com a zona portuária e outras áreas da cidade. A perda de densidade populacional é outro ponto a ser enfrentado.

 

“Um dos principais problemas de Lisboa atualmente é a perda de densidade populacional. Em 2001, a densidade da cidade era de 6.656,8 habitantes por quilômetros quadrados. Em 2014, esse número caiu para 5.474,59 habitantes por quilômetros quadrado”, explicou Santa Rita.

 

A apresentação do vice-presidente da Ordem dos Arquitetos de Angola, Manuel de Carvalho, expôs os planos e os marcos legais da Luanda para lidar com o crescimento demográfico da cidade que, após períodos de guerras, viu sua população crescer a uma taxa média de 7% ao ano entre 1940 e 1970. “O rápido crescimento populacional tornou a infraestrutura existente insuficiente, e gerou um déficit habitacional. O país teve que criar instrumentos urbanísticos para regulamentar a ocupação do espaço como lei de terras, planos territoriais urbanos e rurais, entre outros”, afirmou Carvalho.

 

Um dos relatores do UIA 2020 RIO, Nivaldo Vieira de Andrade Junior falou sobre a cidade de Salvador. O arquiteto iniciou sua apresentação abordando as semelhanças geográficas entre a capital baiana e Lisboa. Em seguida, tratou do crescimento demográfico vivenciado pela cidade a partir da década de 1950, cujo auge ocorreu entre as décadas de 1980 e 1990. “O final do século XX foi um período em que a cidade inchou pelo êxodo rural. Isso teve como consequência uma série de situações de desigualdades sociais e conflitos”, disse Nivaldo de Andrade.

 

Nivaldo explicou ainda que a capital baiana concentra hoje 74% da população da Região Metropolitana de Salvador, apesar de ocupar apenas 15% do território total: “Aproximadamente 12% das terras soteropolitanas não são ocupadas. Salvador não tem mais para onde crescer, a não ser em situações muito específicas. ”

 

Ao falar sobre Brasília, o arquiteto Cláudio Queiroz apresentou imagens para mostrar as características do sítio em que a cidade foi erguida, sobre a bacia do Paranoá; o Plano Piloto de Lúcio Costa; e a atual forma urbana da capital federal. “Durante 200 anos, Brasília foi uma ideia aperfeiçoada. Existiu, nesse período de idealização, uma condição rara, mesmo em comparação com outros países do mundo. Brasília é cheia de ícones e relações culturais fortes”, defendeu Queiroz.

 

Macau, na China, e seus desafios foram apresentados pelo recém-eleito presidente do Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP), arquiteto Rui Leão. Construída a partir da Rua Direita e de ruas que formas anéis, características das cidades portuguesas, o urbanismo da cidade tem a peculiaridade de não possuir águas territoriais. “Quando a gente põe os pés na água, estamos em território chinês”, brincou Leão.

 

A influência sino é também muito forte em Macau. Ela é mais evidente nos grandes projetos, como na grande ponte que ligará Hong Kong, Macau e Zhuhai e nas edificações localizados na parte da península voltada para a China. “A contiguidade de cidade chinesa e portuguesa não é completamente óbvia em Macau. Isso é muito interessante”, destacou.

 

O presidente da Ordem dos Arquitetos de Cabo Verde, César Freitas, apresentou o Plano de Reordenamento da Orla Marítima de Mindelo, uma pequena cidade na Ilha de São Vicente, cuja população é de 80 mil habitantes. Segundo Freitas, há pouca reflexão sobre o ordenamento da ilha. O período em que se pensou um pouco mais a cidade foi o colonial. De acordo com o arquiteto, um dos desafios atuais é o espraiamento urbano: “Mindelo é uma cidade com um número populacional baixo. Toda a cidade desenvolvida está em volta do porto e da baía. Porém, nos finais dos anos 1960, a cidade passou a aumentar sua malha urbana. Isso é fruto da inoperância da própria municipalidade, apesar dos planos e leis que marca a intenção de ordenamento no papel. ” Outros desafios apontados por Freitas a serem superados são: perda de vitalidade do núcleo histórico, ocupação das encostas e a falta de integração entre os bairros.

 

Para a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense Margareth Pereira, o que chamou a atenção nas apresentações foi a total preocupação dos arquitetos, das diferentes cidades de língua portuguesa, para com as questões urbanas: “é interessante perceber que todos não estão mais interessados no protagonismo do edifício isolado ou do próprio arquiteto, mas na produção de uma reflexão sobre cidade e arquitetura que está profundamente imbricada. ”

 

A arquiteta Angélica Alvim identificou alguns pontos importantes nas apresentações realizadas no segundo dia do Fórum Internacional “A metrópole contemporânea. O mundo da lusofonia”: “todos tocaram em cidade e na relação entre arquitetura e cidade como um elemento estratégico. Isso demonstra a importância do sítio e da forma urbana a partir do sítio. ”

 

Publicado em 29/02/2016

Fonte: IAB

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