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Arquitetos e urbanistas se manifestam sobre à tragédia do Museu Nacional

Arquitetos e urbanistas de todo o país  tem se manifestado, através de artigos e posts em redes sociais, sobre a tragédia que destruiu o Museu Nacional.  Veja aqui uma amostra.

 

Carlos Fernando de Andrade, Conselheiro Federal do CAU/BR pelo Rio de Janeiro: “Os espaços de cultura precisam entrar na pauta dos governos de maneira permanente, através de Planos Plurianuais, nos quais a aplicação de recursos possam preliminarmente eliminar riscos e não apenas quando ocorrem sinistros de várias origens e que acarretam a perda de acervos que estão neles exatamente porque se espera que sejam preservados. Neste sentido há de se eliminar os danos estruturais, garantir a estanqueidade e segurança além da prevenção contra sinistros. Esses procedimentos devem ser aplicados tanto na utilização de verbas orçamentárias quanto em recursos oriundos de renúncia fiscal”.

 

Raquelson Lins, chefe de gabinete da Presidência do CAU/BR: “Recentemente enchemos nossos peitos de patriotismo e nos arvoramos a acolher o mundo nas duas maiores manifestações esportivas deste planetinha moribundo: uma secular, os jogos olímpicos e a outra, mais nova e mais identificada com outra vocação tupiniquim, o futebol, ainda representado pelo talento de outro ícone nacional, o Pelé, cujo nascimento, sem querer fazer trocadilhos, retrata outra rica e forte característica brasileira, a miscigenação”.

 

“Nossa história transborda de  personagens e de exemplos da riqueza cultural,  que trazem como marca a nossa brasilidade, nosso maior patrimônio. Nos jogos olímpicos de 2016, demos pouco cabimento para nossos talentos. Um exemplo disto foi o esquecimento de nossos mestres  para nos  atrevemos em exibicionismos de novos milionários. Aderimos ao modismo internacionalista e resolvemos marcar a data e a nossa já rica paisagem com um esquelético edifício, pálido e faminto no seu gestual, o “Museu do Amanhã”. Uma estranha conjunção de palavras que em um primeiro momento parece sem sentido! E é! Só mesmo a confusão de um país ideologicamente indefinido poderia gerar esta confusão semântica”.

 

Museu Nacional (Fonte: Pilar Olivares)

 

“Não tenho outra interpretação para aquela instalação que parece engolir nossa brasilidade, nossa cegueira terceiro mundista, ainda atolada nos atoleiros de onde surgem outros tantos  monstros, maiores que o Museu do Amanhã! Porém precisávamos mostrar ao mundo que também temos nossos monstros! E ele surgiu, impávido, devorando verbas milionárias, verbas que poderiam ter salvado o que de fato tínhamos como nosso! Fruto da nossa história, da nossa brasilidade, que detinha toda a dignidade possível e passível de ser mostrada ao mundo”.

 

“Talvez,  com o descaso de nossos curadores da vergonha mundial,  da mesma forma que se foi o Museu Nacional,  o monstro do lago, da estupidez, da roubalheira, enferrujará, fechará  suas mandíbulas esqueléticas e mergulhará de volta para as  profundezas do mar da ignorância. Espero que não leve o país e o que resta de sua cultura, juntos”.

 

A professora do Curso de Pós-graduação em  Arquitetura da UFRJ (Proarq/FAU/UFRJ) e diretora de Cultura do Departamento do Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), lamentou a perda e declarou que a perda do acervo é irreparável. “O país perdeu, no dia 2 de setembro de 2018, valiosos e inestimáveis objetos de diferentes gêneros e naturezas materiais ajuntados e guardados por diversas gerações que representaram a história, a tradição e a cultura do estado e da sociedade brasileira”.

 

“Com acervo de longo espectro e com arquitetura da época real e imperial, o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi um importante contenedor da nossa vontade lembrar e nunca esquecer. De ora em diante, os deveres e as necessidades da instituição que, sempre, foram motivos de tensões e incertezas cotidianas, serão trágicas recordações. Desalento, é este o sentir que, hoje, une os brasileiros. Infelizmente”.

 

Museu Nacional após o incêndio (Fonte: Muro Pimentel)

 

Valério Junior, presidente do Núcleo Leste-Metropolitano do Instituto Brasileiro de Arquitetos do Rio de Janeiro:  “No momento em que deveríamos cuidar do nosso patrimônio, investimos na construção de dois novos museus: Museu do Amanhã e Museu de Arte do Rio (MAR). Aportes financeiros significativos em detrimento a outros bens importantes que já estavam em atividade. A questão é também legal. O edifício estava em desconformidade com as normas dos bombeiros. É a cultura do descaso”.

 

“Outro exemplo foi o incêndio, em 2011, do antigo Hospício Pedro II, na Praia Vermelha. Cinco anos depois, as chamas destruíram o oitavo andar do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. São três bens protegidos pelo patrimônio incinerados em menos de dez anos. Isso reflete o descaso dos gestores. A gente só vê discurso de destruição de todos os fundos voltados à cultura e manutenção desses edifícios: congelamento dos gastos públicos e proposta de extinção do Ministério da Cultura. Movimentos políticos que visam ao sucateamento do Estado”.

 

Hélio Brasil, arquiteto e escritor:  “Além de todas as reações, das lágrimas às expressões grosseiras, vi destruída parte das minhas infância e adolescência. E mais do que descobrir culpados (responsáveis?) será fundamental assumir uma ‘política da vergonha’. Não houve vítimas humanas. Apenas carbonizadas nossas almas brasileiras”.

 

Veja o artigo completo: Correio Braziliense 

 

Dalmo Vieira Filho, arquiteto e urbanista: “No Brasil não há política cultural digna desse nome. Nos estados, inclusive em Santa Catarina, a regra é que as entidades sejam ocupadas por indicações políticas, totalmente alheias aos problemas e necessidades da atividade cultural, em nosso estado, pode haver tragédias dessa natureza”.

 

Veja a entrevista completa: CAU/SC

 

Rodrigo Bertamé, presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado do Rio de Janeiro (Sarj): “O Sarj sente-se consternado com a tragédia incomensurável que se abateu sobre o Museu Nacional. Foi uma perda patrimonial para a humanidade e afetiva para inúmeros de nós, que frequentávamos e amávamos seus espaços. Acreditamos porém que o luto deve se reverter em luta e que nossa categoria assim como nossas entidades têm o dever ético de trabalhar para que outras tragédias como esta não voltem a ocorrer. Que das cinzas da história que se perde, possamos fazer renascer a força de uma agenda séria de preservação de nosso patrimônio cultural”. 

 

Jorge Astorga, arquiteto e urbanista: Costumo dizer que as pessoas e as ações estão intimamente ligadas aos espaços construídos, livres ou à própria natureza. Assim, preservar estes lugares é salvaguardar não só o patrimônio, mas a memória física. Quantas histórias hoje em dia podem ser apenas ouvidas? Temos que cuidar, dar valor e, de tempos em tempos, escolher o que manter. Não é possível salvar a memória na nuvem, por vezes teremos que visitá-la e tocá-la”. 

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