ARQUITETURA SOCIAL

Arquitetos fazem ‘cartilha’ para colaborar na redução da disseminação do coronavírus

A pandemia de coronavírus tomou conta das discussões em todas as áreas. As primeiras recomendações quando se fala do assunto é evitar aglomeração, fazer isolamento social e higienização de ambientes, para evitar o contágio da doença. Mas como fazer isso em ambientes onde convivem muitas pessoas? Para responder a esta questão e dar dicas que podem colaborar para reduzir a disseminação do vírus, o presidente do IAB/RJ (departamento do Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil), Igor De Vetyemy, promoveu na terça-feira (dia 17/03), uma mesa redonda virtual, com a participação de profissionais da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar (ABDEH), da Fiocruz e do próprio IAB, parceiro do Rio Capital Mundial da Arquitetura.

 

Igor De Vetyemy, presidente do IAB/RJ

O grupo de profissionais elaborou uma série de dicas simples e mais complexas para ambientes domésticos e de saúde, entre outros. As recomendações vão desde a ventilação natural dos ambientes e superfícies e organização de espaços de isolamento em casa, até a utilização de maçanetas e torneiras que permitam a abertura com o cotovelo.

 

“Compilamos instruções e dicas destes profissionais sobre o que podemos fazer dentro do confinamento de cada um, situações diferentes, quem vive com muita gente, com pessoas mais fragilizadas, em moradias com poucos ou um cômodo. Outras gerações já tiveram desafios complexos. Devemos ficar em casa e tomar todos os cuidados para evitar o espraiamento rápido deste vírus”, alerta Igor.

 

Os profissionais lembram que arquitetura dos espaços construídos pode auxiliar no controle de infecções como o novo coronavírus (COVID-19). Algumas dicas simples aplicadas ao espaço físico da casa e dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) podem ser muito úteis neste período de isolamento social.

 

“Nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde podem ser colocadas ‘barreiras, proteções, meios e recursos (físicos, funcionais e operacionais) relacionados a pessoas, ambientes, circulações, práticas, equipamentos, instalações, materiais e fluídos'” , acrescenta Doris Vilas-Boasarquiteta Especialista em Sistemas de Saúde, Salvador (BA).

 

O professor Carlos Eduardo Nunes Ferreira lembra que problemas de saúde da população motivaram grandes mudanças em cidades

 

Carlos Eduardo Nunes Ferreira, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Veiga de Almeida e Centro Universitário IBMR, destaca a importância da Arquitetura na saúde pública. Ele lembra que em alguns períodos da história mundial, cidades tiveram até que se remodelar para melhorar a saúde da população.

 

Por volta de 1850, Paris (França) tinha foco de cólera e a transmissão ocorria principalmente pela água. A solução chegou através de criação de rede de abastecimento e esgoto, além de criação de boulevares, alterações em parques, uma mudança executada pelo Barão Georges-Eugène Haussmann.

 

AÇÕES E RECOMENDAÇÕES DE ARQUITETOS E URBANISTAS DA ÁREA DE SAÚDE OU COM ATIVIDADES NO SETOR PARA MINIMIZAR A DISSEMINAÇÃO DO COVID-19 EM ATIVIDADES RELACIONADAS AO AMBIENTE CONSTRUÍDO

 

Bia Gadia, arquiteta – São Paulo

 

EM CASA E NO LOCAL DE TRABALHO:

 

-Ventilação Natural – O ambiente interno contribui para a proliferação de qualquer tipo de bactéria, germe inclusive o vírus corona. Ambientes ventilados é sinônimo de ambiente seguro.

– Ar interno – Purificador de ar de preferência com luz ultra violeta, carvão ativado e filtro HEPA de maior eficiência. Esse cuidado aniquila bactérias, germes e vírus do ambiente.

– Na entrada de casa, comércio ou trabalho, álcool gel para as mãos.

– Separar um local na entrada da casa ou do trabalho para os sapatos, esses carregam germes do ambiente externo para o ambiente interno.

 

 

Bianca Melo, arquiteta, Recife-PE

 

Em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS):

– Refletir o controle de acesso da equipe de saúde, administrativa por biometria através das digitais. Pontos de funcionários digitais também demandam filas.

– Lembrar da higienização das EAS que fazem uso dos crachás para o controle do público.

 

 

Claudia Queiroz Miguez,  arquiteta- Rio de Janeiro

 

EM CASA:

 

– Na entrada, adaptar uma prateleira ou mesa para colocar álcool gel para limpeza das mãos e maçanetas. Assim a limpeza não será esquecida ao entrar em casa.

– Colocar nos sanitários papel toalha descartável para evitar uso de toalhas de rosto comunitárias.

Doris Vilas-Boas, arquiteta e urbanista, especialista em Arquitetura de Sistemas de Saúde: abrir torneiras e maçanetas com o cotovelo

 

 

Doris Vilas-Boas, arquiteta Especialista em Sistemas de Saúde, Salvador-BA

 

EM CASA:

 

-Ventilação natural em todos os cômodos (portas e janelas abertas)

-Maçanetas que possibilitem abertura das portas com o cotovelo

– Torneiras com alavancas que permitam o acionamento da água através do cotovelo

– Colocação de prateleiras com álcool em gel a 70% ou vasilhame com suporte do mesmo em locais estratégicos como o hall do elevador, entrada da casa, cozinhas e sanitários.

– Em caso de pacientes que apresentam sintomas da doença, o isolamento do mesmo em um cômodo da casa, separado dos demais membros da família,  pode ser feito mantendo a porta aberta e criando uma barreira técnica por meio de uma pequena mesa ou biombo que impeça a entrada de outra pessoa no recinto sem a consciência da necessidade de não tocar nos objetos utilizados pelo paciente.

– Utilização de materiais e mobiliários de fácil higienização. Se for necessário reduzir temporariamente o número de móveis e objetos no cômodo.

– Utilizar cartazes e sinalização que alerte o usuário da necessidade da lavagem de mãos e higienização dos utensílios constantemente.

– Colocação de suporte para papel toalha na cozinha e banheiros.

 

EM EAS:

 

– Adaptação de leitos de internação comum por meio da criação de barreiras técnicas provisórias com biombos e EPIs (Equipamentos de proteção individual) permitindo que a equipe esteja atenta e se paramente antes de entrar em contato com o paciente.

– Sistemas de abertura da porta com cotovelo ou com os pés.

– Instalação de pias para lavagem de mãos em corredores e hall de acesso principal.

– Colocação de álcool em gel nos controles de acesso e de ponto dos funcionários, em todos os leitos de pacientes, sejam eles de UTI ou comum.

– Prever ventilação natural ou sistema de ar condicionado com renovação de ar.

– Afastar as poltronas em salas de espera

– Criar esperas em áreas externa e jardins


Elizabeth Hirth, arquiteta Rio de Janeiro

 

Split não renova o ar, não é indicado. Ar condicionado de parede renova muito pouco.

– Higienização das mãos: lavatórios com dimensões  adequadas e torneiras maiores que permitam a colocação dos antebraços embaixo da água;

– Maçanetas em alças curvas são melhores pois podem ser abertas com o cotovelo, as redondas não são adequadas;

– Isolamento em quartos separados ajudam pois restringem o ar contaminado;

– Materiais de acabamento lisos, homogêneos, com o mínimo de juntas possíveis são mais fáceis de higienizar;

– Lixeira de pedal.

 

Laís de Matos Souza, arquiteta e urbanista, Salvador, Bahia

 

EM CASA:

– Separar os utensílios de cozinha de cada morador.

– Higienizar com frequência as maçanetas, guarda corpos, portas de geladeira/freezer, portas de armários., controles remotos, celulares, tablets, teclados e mouses.

 

EM EAS:

– Reorganizar as esperas de modo a separar o fluxo e a permanência dos usuários que apresentam sintomas/suspeita daqueles que não apresentam. Se possível, organizar uma espera ao ar livre ou em área com ventilação natural, distribuindo álcool gel nas áreas de acesso e em outros locais visíveis.

– Evitar a presença de acompanhantes ou usuários saudáveis próximos, principalmente, às áreas mais críticas

 

Patrícia Marins Farias,  arquiteta – Salvador – Bahia

 

EM MORADIAS COMPARTILHADAS COM IDOSOS:

– Restringir a circulação do idoso na residência

– Manutenção diária de higienização e desinfecção das superfícies no espaço reservado para o idoso

– Separar um sanitário da residência para uso exclusivo do idoso, mantendo controle diário de higienização e desinfecção.

– Manter o ambiente com circulação de ar natural (retirar todas as cortinas).

– Promover a iluminação natural para produção da vitamina D (retirar cortinas)

– Servir a alimentação adequada no próprio ambiente reservado para ele, evitando que o idoso circule, desnecessariamente, na residência.

-Separar utensílios para uso exclusivo do idoso com higienização adequada.

– Disponibilizar água dentro do ambiente para manter o idoso hidratado.

– Controlar o acesso de pessoas ao quarto do idoso e as pessoas que acessarem deverão manter um protocolo de acesso como higienização das mãos, proteção da face e distanciamento seguro.

– Estimular o idoso com ferramentas que ofereçam mensagens positivas.

 

Raquel de Oliveira Teodoro, arquiteta – Brasília, DF

 

 

EM EAS:

– Capacitar a equipe de Manutenção para o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e higienização dos seus equipamentos de trabalho, visto que tem contato direto em todas as áreas do hospital e suas tarefas incluem acesso às instalações hidrossanitárias, expondo-os a toda variedade de secreções.

 

Rita Siqueira C. Lourenço, arquiteta – Brasília/DF

 

EM EAS:

-Evitar o uso de longarinas, ou sinalizar as cadeiras que não poderão ser utilizadas para criar um vão entre cada pessoa.

– Controlar acesso ao refeitório hospitalar por turnos para evitar aglomerações.

– Higienizar sempre os mouses e teclados utilizados pela equipe assistencial nos postos de enfermagem, prescrição médica, triagens e consultórios.

– Maçanetas, corrimãos, bate-macas, também deverão ser higienizados periodicamente.

 

Tainá de Paula é copresidente do Instituto de Arquitetos do Brasil Foto: André Capella

 

Tainá de Paula, arquiteta e urbanista – Rio de Janeiro

 

MELHORIAS HABITACIONAIS EMERGENCIAIS EM ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS:

-Garantir ventilação dos ambientes, principalmente os ambientes dormitório, e as áreas molhadas (cozinha e banheiro);

-Caso os ambientes não possuam janelas, mesmo que de forma improvisada, sem esquadria, fazer abertura do vão (1x1m) e fechamento com microtela perfurada (mosquiteiro ou galinheiro);

-Limpar  uma vez por dia o chão com detergente, saponáceo ou água sanitária diluída em água;

-Casas com doentes ou com pacientes no grupo de risco respiratório não devem ficar em casas com problemas de umidade. Caso a casa tenha problema crônico de umidade, faça uma canaleta ao redor de toda a casa, impermeabilizando a canaleta para impedir o acúmulo de água nas paredes. É necessário remover todo o revestimento da parede e aplicar produto impermeabilizante direto sobre a alvenaria. A aplicação pode ser tanto pelo lado interno quanto externo do ambiente. Isso vai controlar a umidade durante o surto de corona;

-Substituir algumas telhas de fibrocimento ou cerâmica por telhas translúcidas, para aquecer o ambiente e assim evitar a umidade no interior das casas;

-Separar a pia de lavagem da pia ou tanque de serviço. Abrir um ponto de água só para lavar sapatos e roupas que entram em contato com a rua;

– Estabelecer horário de uso do banheiro dos doentes com coronavírus em casa, após o uso do banheiro ele deve ser higienizado com produtos de limpeza e álcool 70%;

-As pessoas infectadas com coronavírus devem dormir em quarto ou ambiente específico, a fim de manter o isolamento e melhor higienização da casa.

 

Talissa Patelli dos Reis, arquiteta – Brasília DF

 

EM EAS:

– Verificar as superfícies de bancadas de apoio e atendimento. Enfatizar a assepsia (em especial as de materiais porosos) e atentar para o intervalo de tempo necessário para limpeza de acordo com orientações dos infectologistas.

 

Participaram da mesa redonda virtual também: Fábio Bitencourt, Rio de Janeiro, Arquiteto, Professor, Pesquisador, Doutor em Ciências da Arquitetura para a Saúde (D Sc), Mestre em conforto ambiental e eficiência energética aplicadas a edificações para a saúde (M Sc) e Acadêmico Titular da Academia Brasileira de Administração Hospitalar (ABAH); Katia Fugazza, arquiteta- Rio de Janeiro; Natália Cidade, arquiteta, Rio de Janeiro.

 

Fonte: UIA2020RIO

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