CAU na COP 30

“Arquitetura local amazônica não deve ser confundida com precariedade”, diz professora

Foto: Emerson Fonseca Fraga | CAU/BR

 

“A arquitetura local amazônica que inclui palafitas, flutuantes e uso de materiais tradicionais não deve ser confundida com precariedade, pois representa um profundo entendimento do ecossistema e resiliência das populações ribeirinhas”, afirma a professora Carla Tames, arquiteta e urbanista e moradora de Porto Velho. O desenvolvimento saudável da Amazônia e o futuro da arquitetura local foram temas de discussão nesta sexta-feira (18), no Seminário Amazônia Legal, último evento da programação CAU na COP 30, que ocorre nesta semana em Manaus.

“Como arquitetos, carregamos uma responsabilidade fundamental na construção de um futuro mais sustentável, equitativo e adaptado às realidades”, afirma Carla. Ela reforça a necessidade do desenvolvimento de uma arquitetura local forte, que utilize técnicas e materiais regionais. “Estamos projetando para a realidade ou para idealizações distantes?”, provoca.

A arquiteta e urbanista destacou a importância das culturas locais amazônicas. “Sou ‘beradeira’ com muito orgulho. Ser ‘beradeiro’ é um pertencimento cultural, significa que você mora na Amazônia e mora perto dos rios. É maravilhoso ser beradeiro, embora a palavra carregue um peso de preconceito”, explica.

Sem a valorização das riquezas locais, a sociedade tende a se perder, segundo a professora. “A Amazônia, apesar de ser a maior bacia hidrográfica do mundo, enfrenta um paradoxo de insegurança hídrica e alimentar, por exemplo.”

A boliviana Rim Safar Sakkal, presidente da Regional de Arquitetos do Grupo Andino (RAGA), expôs referências de projetos arquitetônicos amazônicos, como os de Severiano Mário Porto, Edwin Bause, Marta Maccaglia, Diego Samper e Rolando Aparicio. Ela argumentou que é possível integrar a arquitetura à floresta e aos povos da região de forma harmônica e sustentável.

Rim também criticou o processo de destruição da floresta. “Foram encontrados, por exemplo, militares queimando terrenos na Amazônia para plantar coca no território da Bolívia, infelizmente”, critica.

“Desenvolvimento saudável”

Francisco Milanez, arquiteto e urbanista, biólogo e professor universitário, falou sobre o que ele chama de “desenvolvimento saudável” aplicado aos ambientes amazônicos. “Qualquer cidade do mundo surgiu no ecossistema, e depois expulsou ele do ambiente”, diz.

“Nós temos que compreender o comportamento humano e animal e trabalhar em cima dele”, afirma, também defendendo o uso de materiais, dinâmicas e conhecimentos regionais para a arquitetura e o urbanismo. Ainda segundo o professor, “o efeito estético e psicológico da destruição é mais destruição”. “Em uma cidade suja, as pessoas passam a jogar lixo na rua”, afirma.

O debate foi mediado por Gerardo Fonseca, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí (CAU/PI).

CAU na COP 30

A série de eventos CAU na COP 30, em Manaus, promovida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU/AM), aborda o futuro da arquitetura e do urbanismo na Amazônia e prepara o setor para o Seminário CAU na COP 30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém no próximo ano. Entre as outras agendas da semana, ocorreram o 44º Fórum de Presidentes de CAU/UF, as reuniões da Comissão de Organização e Administração e da Comissão de Política Profissional do CAU/BR, o 4º Encontro de Coordenadores das Comissões de Política Urbana e Ambiental do CAU e o Seminário de Políticas Profissionais, todos entre 15 e 18 de outubro.

MAIS SOBRE: CAU na COP 30

NOTÍCIAS RELACIONADAS

CAU na COP30 destaca o Patrimônio Arquitetônico e Urbano de Manaus

CAU/BR promove debate para pensar a respeito de soluções sustentáveis

Arquitetura indígena e sustentabilidade encerram seminário do CAU na COP30

Pular para o conteúdo