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Arquitetura Sustentável: Responsabilidade ambiental ou interesse mercadológico

As edificações sustentáveis ganham cada vez mais espaço em nosso País e criam inúmeras oportunidades, mesmo com a escassez de mão de obra especializada e de leis mais transparentes e, apesar disto, nota-se uma evolução que deve ganhar cada vez mais espaço em nossas cidades e gerar muitas oportunidades.

 

 Consequentemente, esta arquitetura produzida deve priorizar o respeito ao lugar de intervenção: sua topografia, a cultura local, sua paisagem, as condições climáticas de cada lugar e as reais necessidades de seus usuários, para que se obtenha o desempenho energético satisfatório nos ambientes construídos e para um melhor desempenho energético e econômico da edificação, fazendo-se necessário a integração de estratégias adequadas aos condicionantes expostos, conforme palavras do arquiteto Edson Mahfuz.

 

Assim, a arquitetura sustentável exige do profissional arquiteto um maior conhecimento das relações bioclimáticas e de eficiência energética para sua plena realização em um edifício e assim apresenta-se, hoje, em um nível de exigências sem precedentes, onde as demandas por edifícios mais confortáveis, seguros e, ao mesmo tempo, com consumo reduzido de energia e de água, associados também a um menor impacto sobre o ambiente construído existente, possam ser contempladas.

 

O arquiteto Siegbert Zanettini afirma que a “arquitetura contemporânea apoia-se em fundamentos que incluem questões sobre ecoeficiência, sustentabilidade, utilização das condições climáticas naturais, incorporação de novas formas de energia”. Dentre outros aspectos relevantes e fundamentais diante das condições atuais de uma cidade em desenvolvimento ou mesmo em qualquer outra do nosso país, sejam na diminuição da exploração dos recursos naturais, da poluição e resíduos sólidos, como na utilização da eficiência energética e da qualidade ambiental.

 

Segundo o arquiteto Fabiano Sobreira, a arquitetura sustentável e a arquitetura verde tem o mesmo significado de uma arquitetura ecológica e o resultado final é um edifício ecoeficiente e com o mínimo impacto ambiental. De fato, o discurso em torno de práticas ambientais, verdes, ecológicas ou sustentáveis definitivamente já entrou no universo da arquitetura.

 

Pode-se atribuir essa “onda verde” a uma preocupação coletiva crescente com o meio ambiente, motivada e estimulada por uma crise ambiental e energética que parece nova, mas que é cíclica, e também por preocupações mais objetivas, como a economia de recursos. Por outro lado, existe o interesse político e mercadológico nos ecoprodutos, e a arquitetura tem sido inserida como mais uma linha de produtos na prateleira.

 

No meio desse turbilhão de imagens, conceitos, produtos e propagandas, surge uma inquietação: como os projetos de arquitetura têm sido prescritos, apresentados e avaliados, no contexto dessa “onda verde”? Trata-se de uma questão complexa, que pode nos conduzir por caminhos disciplinares e interpretativos os mais diversos.

 

Diante desta responsabilidade ambiental, a arquiteta e professora da FAU-UnB, Cláudia Amorim afirma que o projeto arquitetônico atual deve, obrigatoriamente, levar em consideração as questões ambientais e uma forte tendência de normas cada vez mais rígidas com relação ao atendimento da eficiência energética já constante no projeto, exigindo assim uma maior preparação dos arquitetos ao projetarem edifícios com qualidade ambiental e com eficiência energética, elevando o desempenho da edificação durante sua vida útil, considerando aspectos ambientais, sociais, econômicos, o entorno, a gestão dos recursos e a especificação dos materiais.

 

As dificuldades atuais são a falta de qualificação da mão de obra, de profissionais especializados, de coordenação e de compatibilização eficaz de projetos sustentáveis, agravado ainda pelo fato de não ser inserido na formação de novos profissionais de arquitetura e de engenharia. Ainda observa-se que os fabricantes de materiais de construção, repassam pouca informação aos profissionais e falta de transparência no que diz respeito às características dos produtos oferecidos ao mercado consumidor.

 

Observa-se nos últimos uma ampliação dos edifícios projetados e construídos que incorporam os critérios da qualidade ambiental e da eficiência energética e estas construções seguem os princípios sustentáveis, além de reduzirem os custos com manutenção, geram um menor volume de resíduos, com consequente redução de gastos desnecessários com transporte e com sua disposição final.

 

Finalizando, apesar dos problemas relacionados anteriormente,  somados como os fatos da inexistência de incentivos fiscais, de normatização e de legislação sobre a arquitetura sustentável, somos otimistas quanto a esta verdadeira luta pela qualidade do edifício e da cidade, e as grandes e médias cidades do Brasil devem seguir esta mesma tendência e ampliar a construção destes edifícios sustentáveis na prática e não apenas como produto de marketing para melhor comercialização.

 

RENATO DE MELO ROCHA – Coordenador geral do REARQ Arquitetura e Urbanismo; Doutorando da Universidade de Brasília – UnB, em Edifícios com qualidade ambiental e eficiência energética; Professor de Construção Sustentável do Instituto de Pós-graduação-IPOG, em Goiânia. [email protected]  

 

 

Publicado em 31/01/2017

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