NADIA SOMEKH

Arte, memória e resistência em debate no VI Diálogos Franco-Lusófonos

A produção e reprodução dos territórios a partir de referências historicamente invisibilizadas ganharam destaque na mesa redonda “Espaço Público, Espaço Comum: Reexistências”, que abriu o segundo dia do VI Diálogos Franco-Lusófonos nesta terça, 9 de novembro. O evento acontece em formato virtual com transmissão ao vivo pelo canal do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da Universidade de São Paulo (USP), Campus São Carlos – SP,  no Youtube, e conta com o apoio do CAU Brasil.

 

Para compor a reflexão, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (FAUFBA), Ana Maria Fernandes, convidou a pesquisadora Gabriela Gaia Leandro (FAUFBA), a professora da Escola de Urbanismo e da Universidade de Paris, Florine Baliff, e o professor, pesquisador e curador do Acervo da Laje, em Salvador, José Eduardo Ferreira Santos.

 

 

Gabriela Gaia Leandro trouxe três escritoras representativas da diáspora negra como referência para o registro cultural, histórico e espacial no século passado. A partir da produção literária da brasileira Carolina de Jesus (1914 – 1977) e de Françoise Ega (1920-1976) e Suzanne Césaire (1915 – 1945), ambas martinicanas radicadas na França, Gaia chamou a atenção para a produção destas artistas que projetaram, a partir da escrita, formas de expressão dos seus contextos específicos que extrapolaram os limites políticos, atravessando o continente. “Em conexão, as autoras colocam suas construções imbricadas em suas histórias raciais e suas experiências de trânsito”, apontou a pesquisadora.

 

 

Em sua apresentação, a professora Florine Baliff expôs experiências de ocupações urbanas no território de Paris. Na capital francesa, a conversão de prédios abandonados em habitações de interesse social experimentam formatos de auto-organização e projetam ações artísticas em diálogo com os territórios. A palestrante reforçou o conceito de território como espaço social de fabricação da sociedade democrática, evidenciado pela professora Sabrina Bresson na mesa redonda do primeiro dia do evento (acesse aqui). “Estes espaços vêm sendo construídos de forma a receber o público para a experiência da convivência e na perspectiva da formação do cidadão. O uso é mais importante que a propriedade”, relatou.

 

 

O terceiro palestrante foi José Eduardo Ferreira Santos, curador do Acervo da Laje, em Salvador. O espaço se dedica a catalogar e preservar a memória artística, cultural e de pesquisa sobre o subúrbio ferroviário da capital baiana. A proposta do acervo é restituir a memória para resistir ao apagamento, valorizando o olhar periférico. “A memória está presente na periferia e nosso espaço urbano é permeado de significados. Com ele, deslocamos o olhar da centralidade, provocando outros debates e produzindo uma nova cartografia do lugar”, afirmou o professor, que defendeu a criação e recriação da memória do território como ferramenta de resistência. “A memória é um canal de enfrentamento das crises e um legado para o futuro”, disse José Eduardo.

 

A partir das reflexões dos palestrantes, a professora Ana Maria Fernandes convocou a uma nova produção projetual dos territórios a partir de olhares historicamente relegados. “Pensar projetos societários que possam florescer através da arte, da construção de memória e do reconhecimento de múltiplos sujeitos no processo de tessitura da cidade é fundamental para pensar os nossos territórios”, concluiu.

 

 

Assista à mesa!

O último dia do VI Diálogos Franco-Lusófonos, nesta quarta (10 de novembro), debaterá o tema Movimentos Sociais e Espaço Público. A mesa terá coordenação da Profa. Profa. Cibele Rizek (IAU/USP) e participação dos professores Prof. Marcia Leite (UERJ), Christian Laval (Universidade Paris-Ouest Nanterre-La Défense) e Stella Bresciani (Unicamp). Acompanhe a partir das 10h

 

 

Confira a programação completa do VI Diálogos Franco-Lusófonos

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