Do total de arquitetas e urbanistas registradas no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), que atualmente contabilizam mais de 63,5% (114.107) da categoria, 10 mulheres receberam os primeiros registros: Vera Fabrício Carvalho (nº 12/RS); Clementina Delfina Antônia de Ambrosis (nº 14/SP); Odette e Silva Duval (nº 20/RJ); Yara Ruschel Kruger (nº 48/RS); Ivone Manske (nº 51/RS); Dinaise Vieira dos Santos (n° 54/RJ); Maria Beatriz Pontes de Miranda Menegale (nº 55/RJ); Lore Patzak Calegari (nº 60/RJ); Rosa Grena Kliass (nº 64/SP) e Lais Guimarães de Pinho Salengue (nº 70/RS).
A arquiteta e urbanista Vera Fabrício Carvalho, hoje com 92 anos, se formou na turma de 1951, do Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vera foi a única mulher da turma e durante sua trajetória foi responsável por importantes projetos como o da Faculdade de Medicina da Santa Casa, o Hospital Santa Rita, e o que completou o Hospital das Clínicas, ambos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Este último foi um dos mais prazerosos, embora trabalhoso, uma vez que o prédio estava parcialmente construído, mas internamente incompleto”, informou em entrevista concedida ao CAU/RS, em 2018, para Alice Nader Fossa e Gabriela Belnhak.
Na mesma entrevista, Vera Carvalho sugeriu que os arquitetos e urbanistas precisam ter “consciência da realidade urbana e dos desafios que o crescimento acelerado das cidades ocasiona, prezando pela qualidade de vida e sustentabilidade. Além disso, é fundamental saber valorizar o patrimônio histórico e toda a riqueza cultural que eles representam”.
A arquiteta foi homenageada pela gestão fundadora do CAU/RS. O atual presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, esteve presente e conta uma curiosa história a respeito. Ao ser informada que a cerimônia seria realizada em Plenária no período da tarde de uma sexta-feira, Vera Carvalho fez um alerta: não poderia ir às 14 horas. Mesmo não sendo isso um problema, o então presidente Roberto Py ficou curioso e indagou a razão. Ela respondeu: “É que às 14 horas eu tenho que estar na obra pagando os operários”.
Outra arquiteta que integra o grupo das 10 primeiras inscritas é Rosa Grena Kliass, pioneira do Paisagismo no Brasil, área em que começou a atuar quando o tema tinha somente como referência Roberto Burle Marx. Também na década de 50, Rosa Kliass concluiu o curso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Entre as inúmeras obras de Rosa Kliass destacam-se os projetos paisagísticos para a Avenida Paulista (1973), a revitalização do Vale do Anhangabaú (1981), ambos em São Paulo, e mais recentemente, pelas obras em grande escala para os Estados do Amapá (Parque do Forte) e do Pará (Mangal das Garças), no início dos anos 2000. Ainda em São Paulo, o projeto paisagístico para o Parque da Juventude (inaugurado em 2003 e concluído em 2007), na capital, foi premiado pela Bienal de Arquitetura de Quito em 2004, uma das muitas premiações de sua carreira.
Além disso, Rosa tem uma intensa e constante atuação nas entidades profissionais, tendo sido a primeira mulher a compor a diretoria do IAB-SP, em 1959, e fundadora e primeira presidente da ABAP (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas), em 1976.
Em 2019, durante a cerimônia de abertura da 12ª. Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, a arquiteta e urbanista Rosa Kliass recebeu o Colar de Ouro do IAB, símbolo do reconhecimento da entidade para profissionais e personalidades que colaboraram para o engrandecimento da Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Ela foi a primeira mulher agraciada com a comenda, assim como foi a primeira arquiteta a integrar a diretoria do IAB. E participou da criação da comenda em 1967. Em seu pronunciamento emocionado, Rosa destacou: “não poderia deixar de mencionar um aspecto que também é relevante. Depois de mais de 50 anos de homenagens, apenas esse ano uma mulher recebe o colar de ouro. Tenho a certeza que tal fato não deriva da ausência de profissionais mulheres com qualidade para receber o prêmio antes de mim. Sou muito grata e espero que essa decisão possa incluir a questão de gênero também dentre os demais critérios de atribuição do prêmio daqui em diante”.
Por Socorro Aquino, jornalista