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Arquitetura e artes brasileiras perdem Carlos Bratke, o arquiteto da Berrini

Faleceu na tarde do dia 09/01/17,  em São Paulo,  o arquiteto e urbanista Carlos Bratke. Tinha 73 anos. Pela manhã ele trabalhou normalmente em seu escritório e no início da tarde saiu para almoçar em casa, onde faleceu repentinamente. 

 

Ele é autor de centenas de projetos, diversos dos quais premiados. São projetos dos mais variados programas: casas unifamiliares, prédios de apartamentos, igrejas, escolas, indústrias e, sobretudo, edifícios de escritórios. Dentre estes, destaca-se sua produção na região da avenida Luís Carlos Berrini, uma antiga região pantanosa do bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo, que ele –  junto com o irmão Roberto Bratke e Francisco Collet, também arquitetos, construtores – ajudou a consolidar, elaborando projetos de escritórios para a área, hoje uma das mais valorizadas da capital paulista. São mais de 60 projetos construídos, com área aproximada de 650 mil metros quadrados. 

 

Carlos Bratke faz parte da primeira geração de arquitetos paulistas  – os chamados “não alinhados” – que contestou os dogmas da arquitetura moderna. Seus projetos são marcados pelo experimentalismo tanto formal como técnico.Tinha experiência internacional com projetos nos Estados Unidos, Uruguai, Israel e México.  

 

O velório foi realizado no dia 10, no Funeral Home, na Bela Vista, e o enterro do corpo foi feito no Cemitério Redentor, no bairro do Sumaré.

 

COLAR DE OURO – Para Haroldo Pinheiro, presidente do CAU/BR, a perda é lamentável. “Muito entristece a impossibilidade abrupta de convivio com colegas como o Carlos Bratke — sempre atentos às questões mais importantes da profissão, sempre disponíveis quando chamados a contribuir para o desenvolvimento da Arquitetura e do Urbanismo com seus conhecimentos técnicos, sua cultura vasta, sua inteligência sem pretensão”.

 

“Além da vasta e qualificada obra profissional, Bratke ofereceu muito de seu tempo ao trabalho voluntário pela profissão, tendo sido diretor e presidente do IAB/SP; membro do Conselho Superior do IAB por diversos mandatos; diretor do Museu da Casa Brasileira; conselheiro e presidente da Fundação Bienal de São Paulo (ao tempo em que as Bienais Internacionais de Arquitetura eram realizadas no Pavilhão das Bienais de SP).

 

“Em 2003 foi um dos 35 primeiros arquitetos a assinar o manifesto em favor da criação do CAU, ao lado de Oscar Niemeyer, Nestor Goulart, Lelé, Paulo Mendes da Rocha, Severiano Porto, Joaquim Guedes e tantos outros importantes líderes da nossa profissão. Em 2012, participou de uma das primeiras reuniões plenárias do CAU/BR, debatendo conosco sobre o futuro da Arquitetura e deixando gravada sua contribuição para a organização do CAU. Em vida, recebeu prêmios e distinções diversas, merecidamente. Pelo conjunto de sua obra e importante contribuição à profissão, em 1999 recebeu o ‘Grande Colar de Ouro’ – comenda maior do Instituto de Arquitetos do Brasil”. 

 

Gilberto Belleza, presidente do CAU/SP, declarou que ‘perdi um amigo, a Arquitetura brasileira um de seus grandes nomes e os arquitetos e a profissão um dos seus grandes defensores”. 

 

O Departamento São Paulo e a Direção Nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil editaram notas lamentando a morte de Carlos Bratke, bem como a AsBEA (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura) e a FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas).

 

 

FAMÍLIA DE ARQUITETOS – Carlos Bratke possuia a Arquitetura e Urbanismo no sangue. Nasceu em São Paulo, em 20 de outubro de 1942, filho de um dos principais expoentes da profissão, Oswaldo Arthur Bratke. Carlos resolveu seguir a mesma carreira do pai traçando seu próprio caminho. Formou-se em 1967 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie (FAAUM) e fez pós-graduação em Planejamento e Evolução Urbana pela Universidade de São Paulo (USP).

 

Ele fez parte do grupo que nos anos 1970 o jornalista Vicente Wissenbach, na época editor da revista Projeto, denominou dos “não alinhados”.  Em entrevista que deu a respeito, 30 anos depois, Bratke declarou que “do ponto de vista da satisfação pessoal, foi maravilhoso trabalhar sem pensar no que fulano de tal estava pensando a respeito de nossa produção. Deixa ele pensar o que quiser, eu estou pouco me lixando, estou fazendo com seriedade, não estou me prostituindo. Meu pai sempre me disse: “Carlos, inventa, inventa. O bacana da arquitetura é inventar”. E isso ficou muito dentro da minha cabeça”.

 

Foi docente na Universidade Mackenzie e da Faculdade de Arquitetura em Belas Artes. Ocupou a vice-presidência do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB de 1988 a 1991 e presidiu o Instituto nos dois anos seguintes. Dirigiu o Museu da Casa Brasileira. Por fim, tornou-se conselheiro e presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

 

Em 8 novembro de 2012, Carlos Bratke foi o palestrante convidado da série “CAU Conversa com”. O evento foi realizado durante a 12ª Reunião Plenária do CAU/BR em Brasília.Um dos assuntos principais foi a avaliação do ensino e formação dos arquitetos e urbanistas de hoje. Na opinião dele, seria interessante o Conselho refletir sobre a necessidade de um exame de ordem, assim como ocorre para os profissionais do Direito. Segundo ele afirmou, é preciso que todos os profissionais possuam um nível básico exigido pelo próprio exercício da profissão.

 

Assista trechos de depoimento de Carlos Bratke, gravado em novembro de 2012, para a série “Conversa Com” do CAU/BR:

 

A poesia da Arquitetura

 

Ensino e Formação Profissional

 

Exercício Profissional

 

Leia também entrevista com Carlos Bratke (Midia News): 

 

 “Brasileiro é muito caipira para aceitar as inovações que propomos”

 

REPERCUSSÕES – Em boletim especial, a AsBEA publicou as seguintes declarações de arquitetos que conviveram com Carlos Bratke:

 

“De temperamento tão explosivo quanto seu grande talento, o Carlos nunca recusou os desafios da sua profissão,os enfrentando armado de sua ágil lapiseira. Grande perda para o universo arquitetônico brasileiro. Bom descanso Carlos.” (Gianfranco Vannucchi)

 

“Na segunda-feira de 2017, no dia 09 de Janeiro, o Arquiteto Carlos Bratke nos deixou!!! Referência de excelência cultural no panorama da Arquitetura e Urbanismo no Brasil e no exterior, formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie em 1967, Carlos foi professor nessa Faculdade, Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil em São Paulo, Diretor do Museu da Casa Brasileira, e Presidente da Fundação Bienal de São Paulo. Fica a memória de sua presença afetiva e profissional, as dezenas de prêmios recebidos por sua obra no Brasil e no exterior, e o significativo acervo de projetos e obras realizados pelo arquiteto e por sua equipe. DURA PERDA, Sentiremos sua falta Carlos.”  (Roberto Loeb)

 

 “O privilégio de ter acompanhado de perto, com muito trabalho e grandes risadas durante os anos 80 e 90, a produção de Carlos Bratke quando ele imprimiu sua marca na cidade de São Paulo e disseminou seu modo de pensar desalinhado dos dogmas da Arquitetura Paulistana faz parte das minhas boas memórias e da história da Arquitetura Brasileira.” (Denise Barretto, sócia nos anos de 1986 a 1997 do Escritório Carlos Bratke)

 

“Perdemos um professor que ousou ensinar a uma geração de arquitetos, nas pranchetas do Mackenzie, o ofício de uma profissão despreocupada de alinhamentos e preceito, mas comprometida com o saber fazer da obra arquitetônica, atento ao desenho e focado no cliente, no usuário, e principalmente na sua relação com a cidade.” (Paulo Lisboa) 

 

Leia também:

 

Pedro Cury: Não poderia deixar de fazer esta pequena homenagem ao Carlos

 

Mario Biselli: Carlos Bratke, invenção e criatividade

 

PRINCIPAIS PROJETOS:

  • Avenida Eng. Luís Carlos Berrini situada na Zona Sul de São Paulo com 60 projetos construídos, com área aproximada de 650.000 m²
  • Igreja São Pedro e São Paulo – Cidade Jardim – SP.- 1968
  • Escola Renovadora Aquarius 1º grau – Cotia – SP com área de 2.500,00m² – 1973.
  • Escolas – Fundação para Desenvolvimento de Educação – FDE – Ferraz de Vasconcelos – SP, Lauzane Paulista – SP e Ribeirão Pires – SP.
  • Casa do Arquiteto – Morumbi – SP-1994.
  • Indústria Tecnoverest – São Bernardo do Campo – SP área aproximada de 3.000 m² – 1979.
  • Banespa – Agência da Praça da República – São Paulo – com área aproximada de 26.400 m² – 1992.
  • Edifício Plaza Centenário – Av. Nações Unidas – São Paulo – com área aproximada de 90.000 m² – 1995
  • Hotel Caesar Towers Berrini – Brooklin Novo – São Paulo – com área aproximada de 21.300 m² – 1998.
  • Parque do Povo – Itaim Bibi – São Paulo – com área de construção aproximada de 514.309 m² – 1990/1995.
  • Poupatempo – São Bernardo do Campo – SP com área de 10.696,26m².
  • Centro Empresarial e Cultural João Domingues de Araújo – Pç. General Gentil Falcão – Brooklin – SP – com área de 26.573,00m² – 2002 / 2005.
  • Projetos nas áreas residencial/unifamiliar, comercial, edifício de apartamento, indústria, planejamento urbano e outros. Nos seguintes Estados: Rio de Janeiro, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Amazonas, Ceará e Brasília.
  • Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente – Cubatão – SP – com área do terreno 20.000m² – área construída 4.000 m² – 2004.
  • Fundação Maria Luisa e Oscar Americano – Morumbi – São Paulo – com área de 14.571,11 m² – 2003.
  • Centro administrativo da RPBC – Refinaria de Presidente Bernardes – Cubatão – SP – com área de 30.000,00 m² – 2005.
  • Condomínio Residência (Green Fields) – Rodobens – São José do Rio Preto – com área de 42.354,04 m² – 2006.
  • Edifício Comercial – Multi Construtora – Brasília – DF – área de 77.437,02 m² – 2007.
  • Centro Empresarial para Rodobens – São José do Rio Preto – área de 18.500,00 m² – 2008.

 

           Croquis da Berrini feito por Bratke

 

     Bolsa de Imóveis  (Berrini)

 

             Croquis da fachada

 

Um de seus projetos, o edifício Oswaldo Bratke, integra a coleção de arquitetura do Centro Georges Pompidou, em Paris.

 

Em 2009, em entrevista para a revista Arquitetura e Urbanismo (aU), perguntado sobre qual era sua obra mais importante, ele respondeu: “Acho mais importante é a que estou fazendo no momento, é aquela que me faz quebrar a cabeça; ou a que ainda pretendendo fazer. É por ela que fico apaixonado… Já as antigas têm uma importância mais didática. Eu olho, e digo: “puxa vida, podia ter feito melhor aquela entrada”, “aquela cor não ficou boa”, ou “como ficou legal aquela estrutura”. Mas tenho algumas obras que utilizo como reflexão, e uma delas é o Robocop (edifício Plaza Centenário), na Marginal Pinheiros. Gosto dele porque é uma referência que marcou a região. Hoje eu mudaria muita coisa, inclusive esteticamente, mas acho que, sem fazer muita ginástica, consegui resolver muito bem o problema de insolação e iluminação. Gosto muito do Morumbi Plaza, perto da ponte do Morumbi; e também da casa onde eu morava, no Morumbi, já demolida, toda de pré-moldado de concreto. Mas eu não fico pensando qual a obra mais bonita que já fiz. Ainda quero fazer a mais bonita!”. 

 

                                 Carlos Bratke apresenta sua casa, projetada em 1992, ao jornalista Paulo Markun (vídeo da série HabitarHabitat do SescTV)

 

Por sua vez, o jornalista Vicente Wissenbach lembrou que Carlos Bratke morreu sem ver concretizado dois grandes sonhos, ambos importantes projetos de projetos de uso publico: o do Centro Cultural Oscar Americano e o Teatro de Opera de Campinas. Ambos apresentados na Bienal de Buenos Aires e no III Destaques das Bienais de Arquitetura, de Florianópolis.  O centro cultural ocupará a área de lazer da casa de Oscar Americano, no Morumbi, projetado por seu pai, o arquiteto Oswaldo Bratke. O outro é o Teatro de Opera de Campinas que será um importante espaço de uso publico e o único teatro de opera da região. Contribuições exemplares que mostram o amplo universo de sua presença em nossa Arquitetura”.

 

     Projeto do Centro Cultural da Fundação Oscar Americano 
                             Teatro De La Ópera de Campinas

 

PREMIAÇÕES

Prêmio Assembléia Legislativa de São Paulo – 43º Salão Paulista de Belas Artes – 1979.
Prêmio Assembléia Legislativa de São Paulo – 45º Salão Paulista de Belas Artes – 1981.
Prêmio Medalha de Ouro – 46º Salão Paulista de Belas Artes – 1983.
Prêmio Rino Levi na Premiação Anual do IAB /SP – 1985.
Prêmio Cubo de Plata na 2a Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires – 1987.
Expôs individualmente sua obra em 1989 em Washington.
Prêmio Belgo-Mineira Arquitetura – 1994.
Prêmio ABCEM para estruturas metálicas – 1994.
Prêmio Categoria Residencial Unifamiliar – Premiação Anual IAB/SP 1994.
Prêmio Conjunto de Obras – Premiação XV Congresso Brasileiro de Arquitetos – Curitiba – 1997.
Grande Prêmio III Bienal Internacional de São Paulo – 1997.
Prêmio “Vitrúvio 99” de Arquitectura Latinoamericana do Museo Nacional de Buenos Aires, 1999.
Prêmio AsBEA 2006 – Edifícios Institucionais.
Prêmio Conjuntos de Edifícios – Corporativos XI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires – 2007

 

 

Este texto, publicado às 18h20 de 09/01/2017, foi atualizados seguidas vezes, a última às 14h43 de 12/01/2017

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