A França anunciou um Concurso Internacional de Arquitetura para reconstruir a torre central (popularmente conhecida como “agulha” ou “flecha”) da Catedral de Notre-Dame de Paris, depois que ela desmoronou em um grande incêndio no dia 15 de abril. O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, disse que o concurso garantirá que o marco arquitetônico danificado receba um nova torre “adaptada às técnicas e desafios de nossos tempos”.
A promessa de realizar uma competição acontece logo depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu reconstruir a catedral de 850 anos em cinco anos. Notre-Dame foi construída em um período de quase 200 anos a partir de meados do século XII, mas o pináculo central, de 500 toneladas de ferro, 250 toneladas de chumbo e 93 metros de altura, foi adicionado apenas em meados do século XIX durante um grande projeto de restauração concluído pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc. A flecha, rodeada por estátuas de 12 apóstolos, substituiu uma semelhante que foi construída em 1250 e demolida entre 1786 e 1792. No incêndio de segunda-feira, a torre e o telhado da catedral desabaram, enquanto a estrutura principal, que inclui os dois campanários retangulares do marco mundial da UNESCO, sobreviveu.
“A competição internacional nos permitirá perguntar se devemos recriar a torre como foi concebida por Viollet-le-Duc”, disse Philippe a repórteres após uma reunião de gabinete dedicada ao incêndio. “Ou, como é frequentemente o caso na evolução do patrimônio, se devemos dotar a Notre-Dame com uma nova torre. Este é obviamente um enorme desafio, uma responsabilidade histórica. ”
Após definida a reconstrução da catedral, pesquisadores da área buscam estimar a complexidade dessa tarefa e as habilidades técnicas que serão abordadas no processo. O site norte-americano de arquitetura e de mercado imobiliário Curbed consultou três especialistas na área de reparo de patrimônio para estipular quais serão os maiores desafios na reforma de Notre-Dame.
Apesar de a torre central e o telhado da catedral terem desabado, a estrutura principal, assim como as paredes de pedra, resistiram ao incêndio. Inicialmente, a tarefa mais importante para o reparo é investigar o estado das conchas de pedra. Daniel Allen, diretor da CTA Architects, um escritório de arquitetura nova-iorquino especializado em reconstrução de igrejas histórias, afirmou que mesmo que a alvenaria seja a prova de fogo, danos podem ocorrer quando uma estrutura como a de Notre-Dame é atingida por uma onda de calor.
Quando expostas ao calor, as paredes de calcário e de argamassa podem calcinar. Devido à onda de calor e ao rápido resfriamento provocado pelos bombeiros, é possível que as pedras – de centenas de anos – possam desmoronar. No dia seguinte ao incêndio, técnicos já puderam identificar fraquezas em alguns pontos da estrutura principais.
Após a avaliação de danos, os arquitetos e especialistas em preservação precisam decidir se querem manter ou substituir a pedraria original, que está danificada. Segundo o diretor do Programa de Preservação da Universidade de Columbia Otero-Pailos, “Pode ser que tenha que derrubar peças que estão tecnicamente em pé, mas que não são estruturalmente sólidas.”
Para Caroline Bruzelius, professora de História da Arte e de Estudos Visuais da Universidade de Duke, a complexa estrutura da pedraria original irá tornar os reparos mais complicados. “Cada pedaço de pedra está entrecruzado um no outro. Eles fazem parte de um sistema que suporta o prédio e são essenciais para a integridade geral da estrutura. Se você perde uma peça, você pode perder a outra”.
A execução do plano de reconstrução será uma questão de talento. São poucos os especialistas em construção em pedra, mas felizmente, esforços recentes para reconstruir catedrais garantiram um grupo de profissionais habilidosos na área, a partir de reparos como o da Catedral De Nidaros, em Trondheim, na Noruega e a Catedral York Minister, em York England.
Em adição à competência dos profissionais, a reconstrução de Notre-Dame também será beneficiada pela tecnologia moderna. Em 2010, o historiador de arte Andrew Tallon realizou um scan a laser do interior da catedral, que fornece uma planta virtual aqueles que irão reconstruir o monumento. Soluções como essa auxiliam a equipe de preservação a manter a fidelidade ao projeto original da catedral.
Alguns outros recursos tecnológicos podem auxiliar a equipe de reconstrução a construir uma estrutura mais forte e resiliente, de acordo com o diretor da CTA Architects Daniel Allen. Ao substituir as estruturas de madeira, os construtores podem considerar utilizar materiais mais modernos para evitar o apodrecimento. Máquinas de roteamento computadorizadas podem duplicar os detalhes complexos de modo que não seria possível décadas atrás. Membros estruturais escondidos podem fortalecer os “ossos” de Notre-Dame. Novas formas de impermeabilização podem oferecer camadas adicionais de proteção.
Com informações do Architects Journal e do Curbed
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