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CAU/BR presta homenagem ao arquiteto Sergio Rodrigues

 

 

Sergio Rodrigues, arquiteto e designer reconhecido internacionalmente pela criação de móveis inovadores, recebeu nessa quinta-feira (08/01) uma homenagem póstuma do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Ele faleceu em setembro do ano passado, aos 86 anos de idade. Em sua homenagem foi confeccionada uma placa comemorativa destacando sua contribuição para o desenvolvimento da Arquitetura, do Urbanismo e do Design no Brasil, entregue ao seu primo, o arquiteto Fernando Mendes de Almeida.

 

A homenagem foi proposta, ainda em 2014, pelo então conselheiro federal pela Bahia, Paulo Ormindo de Azevedo, que se encarregou da leitura de texto que escreveu sobre “o arquiteto e designer que revelou ao mundo a forma suave, mole do “dolce far niente” brasileiro, reflexivo e criativo”.

 

Paulo Ormindo, Fernando Mendes de Almeida, Haroldo Pinheiro, Renato Nunes e Luiz Fernando Janot

 

Paulo Ormindo lembrou que no período colonial os moveis, mesmo feitos no pais, eram de estilo português. No século XIX, com a abertura dos portos, os móveis eram integralmente importados da Europa. As primeiras casas modernistas do país tinham móveis art-deco. Nos anos 30, a maior parte dos arquitetos-designers que atuavam no Brasil era constituída por estrangeiros. Entre os brasileiros, Oswaldo Bratke, Rino Levi, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Bernardo fizeram peças pontuais.

 

“É nesse cenário que Sérgio Rodrigues se firma como designer de móveis buscando raízes para o mobiliário brasileiro”. Como a bibliografia sobre o tema era rara, ele pesquisou em museus e arquivos. “Não resgatou apenas a funcionalidade e o artesanato de arcas, cadeiras e aparadores do período colonial senão o legado indígena das cuias, dos tamboretes e das redes de trançados que formaria o suporte de muitas de suas poltronas. Não seria exagero dizer que Sérgio Rodrigues foi o criador do móvel brasileiro”.

 

CRIATIVO E GENEROSO

 

Sérgio, carioca, de 27 anos, herdou do pai Roberto (morto quando ele tinha dois anos) o gosto pelo desenho, e o amor à madeira que aprendeu a trabalhar com o tio-avô materno. Formou-se em Arquitetura na Universidade do Brasil (hoje UFRJ), em 1952. Participou da equipe que projetou o centro cívico de Curitiba, onde foi sócio de uma fábrica de móveis com Carlo Hauner, que mais tarde criaria em São Paulo a Forma e chamaria o designer para trabalhar com ele.

 

Em 1955, em sociedade com o conde Leoni Graselli, Sergio fundaria no Rio a Oca. A loja, que se tornou um “point” em Ipanema, lembrou Paulo Ormindo, “produziu cerca de mil diferentes modelos de móveis avançado mas usando os materiais  de tradição indígena e luso-brasileira: madeira, couro e palha, ao invés do inox do Bauhaus ou a fibra de vidro, contraplacados, moldados e aramado dos americanos Saarinem, Charles Earnes e Bertoia. Suas cadeiras e poltronas não são rígidas e frias, senão flexíveis e sensuais ao tacto”.

 

Sua mais importante criação nesse período foi a “Poltrona Mole”, uma robusta estrutura de jacarandá maciço, em oposição aos móveis “pés de palito” na época, que suportava uma rede de tiras de couro sore a qual repousava um enorme almofadado, que convidava o observador a se esparramar preguiçosamente”. Em 1961, ela recebeu o primeiro prêmio do 4º. Concurso Internacional do Móvel, em Cantú, Italia, competindo com 400 concorrentes, e hoje faz parte do acervo permanente do MoMA de Nova York.

 

Paulo Ormindo de Azevedo

 

 

Em Brasília, Sérgio projetou móveis para o Itamaraty, para o Palácio do Alvorada, para o Teatro Municipal, para o Cine Brasília e o auditório da UnB. Em 1963 ele criou a Meia Pataca, uma linha de móveis mais industrializada, simples e barata. Na mesma época, projetou na pré-fabricação de casas com estruturas de madeira. Por divergência com os sócios da Oca, ele se retirou da sociedade no final dos anos 60 sem levar seus projetos nem cobrar direitos autorais dos móveis ainda em fabricação. A partir de 1973, até sua morte, ele atuou em sua própria empresa, produzindo intensamente e acumulando prêmios nacionais e internacionais.

 

“Essa biografia – completou Paulo Ormindo – não estaria completa sem uma referência à personalidade afetiva lúdica e generosa de Sérgio Rodrigues, amigo de seus operários e colegas, que dizia sempre que ninguém cria sozinho”.

 

PAIXÃO PELO TRABALHO PRECISO

 

O arquiteto Luiz Fernando Janot, conselheiro federal pelo Rio, lembrou sua convivência com Sergio Rodrigues desde a infância.  “Sempre que nos víamos ele ainda continuava me chamando de garoto, tratamento revelador do tipo afável que sempre o caracterizou, assim como seu boné, o suéter de cor destacada, as meias listradas, a bota de camurça e a bengala charmosa”.  Sérgio, no dizer de Janot, foi um exemplo de vida “de quem nunca abriu mão da precisão, do caráter e do trabalho sério acima de qualquer coisa. Do detalhe do móvel à casa, ele levava o projeto às últimas consequências, detalhando tudo, não fazia só um desenho bonito e repassava para outros completarem”.

 

A arquiteta Rose Guedes, presidente do IAB de Minas Gerais, lembrou com orgulho que a Assembléia Legislativa mineira possui provavelmente o maior acervo de obras do designer, pois todo seu mobiliário, dos anos 60, foi projetado por ele, e segue em uso. “Inclusive, depois de muita luta, conseguimos seu  tombamento”.

 

Haroldo Pinheiro, Luiz Fernando Janot e Rose Guedes

 

O arquiteto Celso Costa, conselheiro federal pelo Mato Grosso do Sul, lembrou os tempos em que trabalhou com Sérgio Rodrigues por alguns meses no Rio. “Ele tinha carinho pelo que fazia. Tinha mesmo uma certa dureza com ele próprio com o objetivo de sempre fazer o melhor. Não queria  um jacarandá simplesmente polido, ele queria um jacarandá polido até o ponto de não precisar ser envernizado”.

 

Celso Costa

 

O arquiteto Renato Nunes, conselheiro federal por São Paulo, lembrou que nos anos da ditadura o IAB paulista passou por muitas dificuldades, inclusive financeiras, e ao assumir a direção da entidade firmou um acordo com uma fábrica de móveis para que ela patrocinasse um concurso de móveis de escritórios. “Sérgio foi convidado e aceitou imediatamente o convite para fazer uma palestra no IAB. A lotação esgotou, ele nos conquistou com seu jeitão alegre, com uma palestra que sensibilizou a tods.  Aquilo foi um marco, pois atraiu para o IAB os jovens e antigos arquitetos, servindo de alavanca para a retomada do nosso espaço cultural”.

 

O arquiteto João Virmond Suplicy Neto, presidente da Federação Panamericana de Associações de Arquitetos (FPAA), suplente de conselheiro federal pelo Paraná, entregou ao representante da família do designer um livro com o depoimento que Sérgio Rodrigues deu ao departamento estadual, quando era seu presidente. Haroldo Pinheiro lembrou que uma das obras que Sérgio fez em Brasília, o Iate Clube, ainda está razoavelmente preservada.

 

Representante da família na comemoração, o arquiteto Fernando Mendes de Almeida disse que só descobriu que Sérgio era seu primo depois de ter assistido uma palestra sua, quando estudante de Arquitetura.

 

“Fiquei encantado, comentei isso em casa e então minha mãe revelou nosso parentesco. Trabalhei com ele sete anos e sou testemunho de seu estilo de trabalho criativo e a riqueza dos detalhes de sua obra. Na infância, ele tinha amigos ricos que ganhavam brinquedos importados, caros. Como não possuía as mesmas condições, Sérgio fazia os próprios brinquedos, barquinhos, carros, que deixavam os outros encantados. Esse encanto, ele descobriu depois, vinha do acréscimo do design”.

 

Fernando está organizando o acervo do Instituto que leva o nome do designer. “Ele passou por momentos difíceis, várias vezes, mas nunca desistiu, nunca abandonou a paixão pelo que gostava de fazer. Essa foi sua maior lição”.

 

Clique aqui e saiba mais sobre Sergio Rodrigues

 

Publicado em 08/01/2015.

 

 

 

2 respostas

  1. Bela homenagem e matéria. Gostaria que soubessem que o escritório de arquitetura foi preservado e continua em funcionamento na mesma sede (desde os anos 70) onde também se encontra o showroom de móveis e o Instituto Sergio Rodrigues. Formada na Escola dele e tendo tido o privilégio de ser parceira nos dois últimos projetos de arquitetura feitos e finalizados logo antes de sua morte, dentre vários outros, seguirei responsável pelo departamento de arquitetura dando continuidade à sua obra e contando na equipe com suas netas Nina e Gaia Rodrigues filhas da também arquiteta, filha de Sergio e já falecida Veronica Rodrigues.
    Martha Carvalho

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