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MUITO PRAZER, DONA RUA

 

No Brasil, considerando o recorte de 0 a 11 anos, verifica-se que 81% das crianças brasileiras vivem em áreas urbanas (IBGE, 2010). Além disso, as crianças que vivem em cidades passam 90% do tempo em lugares fechados (SKENAZY, 2009), o que é explicitado no decréscimo da quantidade de crianças que brincam na rua: em 1973 eram 75%, em 2006, esse número caiu para 15% (SKENAZY, 2009). Segundo Tonucci (2015), a rua que outrora foi um lugar de socialização e lazer, tornou-se via de circulação e lugar de perigo, sobretudo para as crianças.

Esses dados suscitaram alguns questionamentos: As crianças conhecem o espaço onde vivem? Quantas crianças sabem seu endereço? Será que elas reconhecem os cheiros, os sons e as cores do caminho de casa à escola e vice-versa? E seus vizinhos de rua, sabem quem são?

O que aprendemos na nossa infância, diz muito sobre a(o) cidadã(o) que seremos. Mas o pensamento não pode estar voltado apenas para o “futuro adulto”, é preciso que sejam proporcionadas às crianças oportunidades de fala, que elas sejam estimuladas a atuarem de forma propositiva, como sujeitos ativos que são, com responsabilidades sobre o espaço público que vivem e convivem. A origem da palavra “infância” vem do latim “infantia”, onde o verbo “fari” significa falar; “fan” que significa falante; e “in” que constitui a negação do verbo em questão; dão sentido ao conceito como um todo. Nesse sentido, “infância” designa aquele indivíduo sem fala, não sob a perspectiva biológica ou racional, mas sim pela representatividade da fala.

Nessa perspectiva, a importância do contato dos pequenos com o meio em que vivem, parte da necessidade de fortalecer a sua consciência cidadã, de forma a motivá-los a participarem na solução de problemas que surgem na realidade do dia a dia, na relação com os espaços e pessoas que estão ao seu redor. E a escola não pode estar distante dessa construção. A vida escolar não pode ficar separada da vida cotidiana.

Assim, partindo dessa importante premissa e da inspiração através da poesia de Murilo Cisalpino, a prática pedagógica intitulada como “Muito prazer, dona rua!” tem como objetivo ampliar a compreensão das crianças acerca do espaço físico e temporal em que vivem. Com a utilização de ferramentas de aproximação com esses espaços, as atividades visam fortalecer a noção de pertencimento, de cidadania e da perspectiva da rua como um lugar não apenas de passar, mas também de ficar, de aprender, conviver e cuidar.