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Especial: eventos marcam centenário de nascimento de Vilanova Artigas

João Vilanova Artigas discorre sobre o tema “A função social do arquiteto”, em 1984 (Foto: Acervo Vilanova Artigas)

 

No último dia 23 de junho, o arquiteto Vilanova Artigas completaria 100 anos de idade. Uma das maiores referências da Arquitetura brasileira do século 20, João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) foi fundador e professor universitário da FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, escola cujo prédio ele mesmo projetou. Seu estilo é característico da assim chamada escola paulista ou escola brutalista de São Paulo, dentro do modernismo.

 

Autor de uma extensa e contundente obra, Vilanova Artigas é no Brasil o maior exemplo de um arquiteto que consegue aliar engajamento político-social efetivo, densidade poético-formal, apuro técnico-construtivo e trabalho docente, combinados por um princípio geral de inquietude experimental e coerência ideológica. É capaz de formar discípulos tão importantes e distintos, como Paulo Mendes da Rocha, Joaquim Guedes (1932-2008) e Sérgio Ferro (1938). Nesse sentido, como define o professor Carlos Lemos (1925), é o fundador da chamada “escola paulista”, também denominada “brutalismo paulista”, em referência à produção do “novo brutalismo” inglês. Sediada em São Paulo, onde o ensino de arquitetura deriva da engenharia, e não das belas-artes, essa produção se caracteriza por uma ênfase construtiva, expressa na criação de grandes vãos e no amplo emprego do concreto armado e aparente, ressaltando o perfil das estruturas e os esforços a que está submetida.

 

Por sua atuação política de esquerda e associação com o Partido Comunista Brasileiro, foi demitido da FAU em 1969 na esteira do AI-5 e exilou-se no Uruguai. Foi responsável pela reestruturação da grade curricular do curso de arquitetura no início dos anos 60, mas essas diretrizes foram abandonas assim que a ditadura se instalou. Artigas voltou ao Brasil pouco tempo depois, mas só retornou à FAU depois da anistia e na condição secundária de professor auxiliar.

 

 

COMEMORAÇÕES – Na Câmara dos Deputados, o arquiteto e deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) fez pronunciamento em homenagem ao arquiteto e urbanista. “Registro aqui […] na condição de arquiteto e urbanista, o centenário de quem foi grande como arquiteto, homem público e educador. Sobretudo, quem foi pleno sendo tudo isto ao mesmo tempo. A memória de João Vilanova Artigas nos inspira a enfrentar a concretude e dureza das injustiças que presenciamos, mas lançando luz sobre o futuro de igualdade, liberdade e justiça que haveremos de construir”, disse o parlamentar.

 

Entre as comemorações do centenário de Vilanova Artigas, está previsto ainda o lançamento de um documentário, no dia 25/06, com depoimentos de profissionais como Paulo Mendes da Rocha, Rosa Kliass e Ruy Ohtake, uma exposição no espaço Itaú Cultural, além de dois livros: um deles destacando trajetória de Artigas como “pensador, educador e arquiteto”, e outro infantil, com desenhos que fazia para os netos.

 

Em novembro de 2014, com o patrocínio do CAU/SP, foi lançado um portal com detalhes de sua vida e obra, imagens e uma série de vídeos (veja alguns abaixo) que antecipam o documentário.

 

Conheça aqui o site dedicado ao arquiteto: http://vilanovaartigas.com/

 

“Artigas foi um dos principais nomes da Escola Paulista e formou uma geração de arquitetos, deixando um grande legado à arquitetura brasileira”, destaca o Presidente do CAU/SP, Gilberto Belleza. “Tive a oportunidade de conviver com ele na minha época de estudante na FAUUSP, momentos inesquecíveis de aprendizado”, lembrou.

 

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1961), em São Paulo/SP. Imagem: Gabriel de Andrade Fernandes/Flickr CC

 

MAIS DE 400 PROJETOS REALIZADOS – Autor de mais de 700 projetos, dos quais cerca de 400 realizados, Artigas elaborou suas criações, principalmente, pelos estados do Paraná (onde nasceu) e São Paulo (onde se formou e iniciou sua carreira).

 

Em São Paulo estão algumas de suas principais obras: o edifício Louveira (1946), a “casinha” (1949), o estádio do Morumbi (1953), a casa Rubens de Mendonça (1958) e o prédio da FAUUSP (1961), considerado por muitos como sua obra-prima. “A FAU é um espaço fluido, integrado, somático. A pessoa não sabe se está no primeiro andar, no segundo ou no terceiro”, declarou ele à época. No Paraná, o Hospital São Lucas (1945), a (antiga) rodoviária de Londrina (1950) e a casa Bettega (1952) são alguns dos destaques.

 

Influenciado por Frank Lloyd Wright (EUA, 1867-1959) no início da carreira, e mais tarde, por Le Corbusier (Suíça, 1887-1965), o arquiteto trilhou seu próprio caminho como criador do que hoje é identificada como a “Escola Paulista” de Arquitetura, marcada pela adoção do concreto aparente e pela valorização da estrutura, bem como o uso amplo de rampas e grandes vãos.

 

Natural de Curitiba, migrou logo cedo para São Paulo a fim de concluir seus estudos como engenheiro-arquiteto na Escola Politécnica da USP em 1937. É dessa época um de seus primeiros trabalhos de destaque, o projeto para o Paço Municipal de São Paulo, intitulado “praça cívica” (1939), feito em parceria com Gregori Warchavchick, e que tirou o segundo lugar em um concurso público.

 

Casa Vilanova Artigas (1949), em São Paulo/SP. Imagem: Nelson Kon

 

AUTOR DO PROJETO DO EDIFÍCIO DA FAU-USP – Nos anos 40, participou da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1949), onde se tornou um de seus primeiros professores e da qual, doze anos mais tarde, projetaria o prédio localizado na Cidade Universitária.

 

“O Artigas deu uma nova dimensão do que era ser arquiteto. Porque o Artigas vislumbrava um destino de uma grandiosidade para esse país que só um otimista e um idealista como ele poderia ter. (…) Ele nos inculcava essa ideia de país grande, e nesse país grande, ele encontrava uma coisa fundamental para contribuir para esse país crescer, que era a profissão do arquiteto”, relatou o aluno e depois colega de docência na USP Jon Maitrejean, em depoimento ao portal dedicado ao arquiteto.

 

A PERSEGUIÇÃO DO REGIME MILITAR – Nas décadas seguintes, ganhou reconhecimento internacional ao receber o prêmio Jean Tschumi, da União Internacional dos Arquitetos, em 1972, por seu trabalho como professor. Ao mesmo tempo, sofreu as consequências do Golpe de 1964, que interrompeu sua carreira acadêmica por mais de uma década.

 

O primeiro afastamento da universidade ocorreu justamente em 1964, quando se refugiou no Uruguai. Filiado ao PCB desde 1945, fez parte da primeira leva de vítimas do recém-instalado regime militar. Retornou clandestinamente ao país em 1965, retomando as aulas na USP dois anos depois e por pouco tempo. Em abril de 1969, junto com vários outros professores da universidade, foi aposentado compulsoriamente pelo AI-5 (o Ato Institucional nº 5).

 

Casa Rubens de Mendonça (1958), em São Paulo/SP. Imagem: Nelson Kon

 

O RETORNO À USP – O “exílio” da USP durou até 1980. A década da redemocratização do país marcou seu retorno à universidade paulista, porém como auxiliar de ensino até 1984, quando retomou seu cargo de professor titular após prestar novo concurso.

 

Infelizmente, desfrutou pouco dessa condição. Faleceu no dia 12 de janeiro de 1985, “num dia claro de verão”, como recorda sua filha Rosa Artigas, em artigo publicado na página do Facebook dedicada ao pai (https://www.facebook.com/vilanova.artigas#). Ainda em 85, recebeu postumamente o prêmio Auguste Perret, o segundo concedido pela União Internacional de Arquitetos, por sua obra construída.

 


Para saber mais:

https://www.facebook.com/vilanova.artigas

http://www.vilanovaartigas.com/

 

Link para os vídeos:

http://vilanovaartigas.com/centenario/por-secao/documentario

 

 

 

Fonte: CAU/SP

 

Publicado em 11/06/2015. Atualizado em 25/06/2015.

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