Encerrando a programação paralela à exposição “Souto de Moura – Memórias, projetos e obras”, o CAU Brasil e o Instituto Camões promoveram no dia 25 de maio o Ciclo de Debates sobre Patrimônio e Acervo – Memórias da Arquitetura Brasileira. O evento convidou profissionais e instituições interessadas na preservação do patrimônio arquitetônico para um dia inteiro de reflexões na Embaixada de Portugal, em Brasília.
Na abertura do evento, a presidente Nadia Somekh lembrou que a valorização dos acervos está na pauta da atual gestão e que o tema será reforçado no próximo mês, quando o CAU participa da 9ª edição do Fórum Internacional de Patrimônio Arquitetônico Brasil (FIPA) – Portugal 2023, em São Luís, no Maranhão. “Promover ações para preservação da arquitetura também é missão do CAU. A valorização patrimonial, das pré-existências, da arquitetura e dos arquitetos e arquitetas faz parte da nossa cruzada”, afirmou a presidente.
A mesa de abertura da programação apresentou boas práticas direcionadas à conservação e difusão da documentação arquitetônica no país. Foram convidados para o debate Márcia Elizabeth Martins, do Centro de Memória do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul; e Raquel Furtado Schenkman, responsável pelo Acervo do IAB/SP.
Diretamente de Portugal, o arquiteto Nuno Sampaio apresentou o trabalho desenvolvido pela Casa da Arquitectura, em Matosinhos. O espaço promove acesso a acervos documentais de diferentes arquitetos, incluindo, mais recentemente, Paulo Mendes da Rocha.
O conselheiro superior do IAB e funcionário de carreira do Iphan, Luiz Sarmento, foi convidado a mediar o debate. O arquiteto ofereceu um breve contexto das lacunas de preservação arquitetônica no Brasil. “Temos tem uma produção de relevância, especialmente a modernista do século 20, com edifícios e conjuntos de importância mundial. E também temos os materiais produzidos para construí-los”, lembrou. No entanto, observou que nem mesmo Brasília, que abriga o primeiro conjunto urbano construído no século XX reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, dispõe de um museu de arquitetura. “Há uma potência guardada em caixas e que não são acessíveis. É preciso tratar, organizar e dar acesso”, afirmou.
O CENTRO DE MEMÓRIA DE ARQUITETURA E URBANISMO DO RS
Desde 2012, quando recebeu volume físico documental até então em posse do CREA, o CAU/RS se dedica a organizar registros e disponibilizar acervos arquitetônicos. Para isso, criou o Centro de Memória de Arquitetura e Urbanismo do RS. A conselheira do CAU/RS Márcia Elizabeth Martins, que também é especialista em Patrimônio Cultural em Centros Urbanos pela UFRGS, fez um resgate da construção da política e da estrutura de preservação dentro do conselho dos arquitetos e urbanistas gaúchos.
A catalogação e digitalização do material levou cerca de quatro anos, entre 2014 e 2018. São processos, projetos, atas, materiais bibliográficos, periódicos outros materiais que datam das décadas de 30 e 50, quando a atividade profissional da arquitetura e urbanismo começava se projetar no país.
Para viabilizar o armazenamento e o acesso, o CAU inseriu o centro de memória na própria estrutura organizacional, procurando consolidar a política de acervos. Atualmente, o serviço conta com suporte funcional de profissionais técnicos, como arquivista, museólogo e biblioteconomista. Parte do apoio técnico é viabilizado por meio de convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O material está disponível virtualmente por meio do site centrodememoria.caurs.gov.br, onde é possível visualizar pranchas, desenhos e projetos de arquitetos de referência no estado.
A estrutura fortaleceu a criação de outras iniciativas, como as Caminhadas do Patrimônio, roteiros educativos que referenciam a arquitetura em algumas das principais cidades gaúchas. Também vem recebendo atenção de tutores de acervo de arquitetos gaúchos, como Armando Boni e Clóvis Ilgenfritz.
A EXPERIÊNCIA DE SÃO PAULO
Membro do ICOMOS (sigla para Internacional Concil on Monuments and Sites), Raquel Furtado é conselheira DO CAU/SP e presidente do IAB-SP e relatou os esforços da entidade pela conservação e acesso público a documentação arquitetônica. Um deles é o projeto do reconhecimento da própria sede, em São Paulo, como acervo. O edifício situado na Praça da República e construído no final dos anos 1940 ostenta obras arquitetônicas de relevância, como um móbile do escultor estadunidense Alexander Calder e dois painéis dos artistas Antônio Bandeiras e Ubirajara Ribeiro.
A entidade de representação dos arquitetos e urbanistas mais antiga do país estimulou a criação de uma rede de cooperação formada por mais de vinte instituições interessadas na preservação, difusão e estímulo à pesquisa de acervos brasileiros de arquitetura e urbanismo. Também realiza projetos permanentes de valorização do patrimônio arquitetônico, como a tradicional Bienal de Arquitetura, concursos de projetos e eventos diversos. Recentemente, constituiu uma divisão específica para tratar de acervos, ligada à sua diretoria de cultura.
Segundo Raquel, assim como no Rio Grande do Sul, os arquitetos e urbanistas paulistas também planejam estruturar o seu centro de memória e acervo junto ao CAU/SP.
SAIBA MAIS SOBRE OS PALESTRANTES
A programação paralela à exposição Souto de Moura contou com outros três encontros dedicados à memória, aos projetos e às obras do arquiteto português, ganhador do prêmio Prietzker de 2011 e do Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2018. A mostra esteve aberta a visitação entre 22 de março e 21 de maio no Paço Imperial do Rio de Janeiro. Foi iniciativa da embaixada de Portugal no Brasil, do Consulado-Geral de Portugal no no Rio de Janeiro e do Instituto Camões – Centro Cultural, em Brasília. Também contou com a parceria da Casa da Arquitetctura e patrocínio da Petrogal Brasil.
Também foram apoiadores da mostra o CAU/RJ, o IAB nacional e seu departamento no Rio de Janeiro, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
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