Presidente da União Internacional dos Arquitetos no triênio 2017-2020, o arquiteto americano Thomas Vonier veio ao Rio pela segunda vez para ser atualizado sobre o planejamento do 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2020Rio, que será realizado em julho de 2020. Com escritórios em Paris, na França, e na capital norte-americana, Washington DC, Vonier tem uma longa história em associações profissionais. Foi o presidente fundador da AIA Continental Europe, o primeiro presidente da AIA International Region e do Instituto Americano de Arquitetos. Conversamos com ele sobre suas expectativas para o nosso Congresso.
É a segunda vez que o senhor vem ao Rio com a Comitiva de Monitoramento da UIA. O que achou do planejamento para o UIA2020Rio até aqui?
O Congresso está começando a tomar forma agora. À medida que a data se aproxima, tudo se torna mais real. Estamos muito animados com o Rio como sede, as ideias para o conteúdo programático, o planejamento para os locais do evento e a experiência que os visitantes vão ter durante o evento.
Vai ser um Congresso bem diferente dos outros, certo?
E deve ser mesmo! O espírito do Rio é muito diferente. E o Congresso deve refletir o espírito da cidade onde está. Além disso, os tempos estão mudando. Nossa organização tem 70 anos. E nós continuamos fazendo tudo da mesma maneira que fazíamos há 70 anos. Está na hora de mudar algumas coisas, até para progredir.
Caso a UNESCO aprove o Rio como Capital Mundial da Arquitetura, será o primeiro Congresso sediado numa cidade com este título. Que mudanças isso traz para o evento?
Em primeiro lugar, o público local toma mais conhecimento sobre o Congresso, sobre o fato de que há arquitetos de todo o mundo em sua cidade e que as pessoas estão vindo a sua cidade por conta da arquitetura. O Rio recebeu visitantes para os Jogos Olímpicos, por conta do futebol e do carnaval. Mas as pessoas têm vindo aqui por conta da cidade e de sua arquitetura? Não sei. Talvez essa seja a primeira vez. Então, espero que as pessoas tenham mais consciência sobre o ambiente que as cerca, a arquitetura e o urbanismo.
E para os arquitetos? O que muda?
A Capital Mundial da Arquitetura é um reflexo da importância da arquitetura no cotidiano das pessoas. Arquitetos sempre querem mais atenção e mais crédito por seu trabalho. Acredito que, se tivermos sucesso, ganharemos mais visibilidade entre o público de maneira geral, mais atenção para o trabalho dos arquitetos e a contribuição da arquitetura para melhorar a vida das pessoas.
Esse será o primeiro Congresso na América Latina em 42 anos. Qual a importância para os profissionais dessa região de ter um congresso aqui?
A América Latina está crescendo em importância econômica, em população, culturalmente, de todas as formas, na verdade. E acho maravilhoso estarmos nos voltando para cá. Estivemos também no continente africano, onde realizamos o penúltimo Congresso, e é importante que a instituição esteja presente em regiões que estão em desenvolvimento. Estou muito animado com essa vinda para o Brasil. É um país e uma cidade (Rio) que tem uma herança arquitetônica maravilhosa, que é conhecida no mundo todo. Especialmente, o trabalho de (Oscar) Niemeyer, mas não só ele. Há muitos outros arquitetos brasileiros importantes. Acho muito importante que os arquitetos vejam o Rio não somente por sua beleza, mas também pelos problemas e desafios que apresenta como cidade. É importante ver como o Rio lida com esses problemas e pensar como a arquitetura pode ajudar a resolver. Ou, até mesmo, se ela não é relevante nessas situações. O Rio apresenta problemas de uma cidade do século XXI e isso traz muitas oportunidades.
E a realização do Congresso no Rio levanta novas discussões para a arquitetura também?
Eu acho que sim. Boa parte do conteúdo programático do Congresso traz preocupações com problemas como mobilidade urbana, saneamento e outros requisitos básicos na vida das pessoas. São questões que não dizem respeito apenas ao Rio. Toda grande cidade mundial enfrenta problemas e desafios para melhorar a vida das pessoas de menor renda. Poluição, congestionamento são problemas que toda cidade enfrenta. E é importante trazer à tona essas questões e discuti-las abertamente. O foco do programa está diferente e nós vamos precisar prestar atenção nessas questões, graças aos nossos amigos do Brasil, já que essas são ideias trazidas por eles.
Então, o senhor gostou do programa do Congresso? Estamos no caminho certo?
Com certeza! Acho que só precisamos tentar atrair os jovens para o nosso Congresso. Focar no trabalho de arquitetos mais jovens e tentar também ter um equilíbrio de gênero entre os palestrantes convidados. Essa é uma questão que nossa profissão precisa enfrentar. Muitas mulheres entram na Faculdade de Arquitetura e não completam o curso. Ou até completam, mas abandonam a carreira. Certamente, não temos hoje uma equidade de gênero, nem de raça, nem de minorias de maneira geral. É importante que nós, como uma instituição mundial, sejamos um reflexo do mundo. E o mundo tem muita diversidade. Então, acho importante que o conteúdo do Congresso traga essa diversidade e equilíbrio: de gênero, de religiões, de etnicidades, de todos os elementos que fazem parte de nossa instituição que é muito, muito diversificada.