Salvador, a cidade mais negra fora da África, recebe nesta semana o III Encontro da Diversidade do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O evento, que começou nesta quinta-feira (21/11) e se estende até o dia 22/11, ocorre em conjunto com o 10º Seminário Salvador e Suas Cores e destaca as contribuições da arquitetura para a valorização da cultura afro-brasileira, a inclusão racial e a diversidade nos espaços urbanos.
O encontro reúne arquitetos, urbanistas, estudantes e ativistas para discutir temas como a representação negra em equipes de trabalho, a criação de espaços públicos inclusivos e a preservação da memória cultural. “É essencial tratar de questões como racismo estrutural e memória, aspectos que ainda permeiam nossas cidades e precisam ser enfrentados”, afirmou Josemée Gomes de Lima, coordenadora da Comissão Especial de Política Afirmativa (CPA) do CAU/BR.
Na abertura, o professor Fábio Velame, primeiro diretor negro da Faculdade de Arquitetura da UFBA, reforçou a importância de garantir o acesso aos direitos urbanos e ao respeito à diversidade. “Na Bahia, temos 980 comunidades quilombolas, 123 acampamentos ciganos, mais de 150 comunidades de fundo e fecho de pasto, além de 98 aldeias indígenas e 480 comunidades ribeirinhas que necessitam do trabalho de arquitetos e urbanistas em seus planos diretores”, destacou.
O evento também marca um momento de reflexão sobre o papel do profissional de arquitetura na construção de políticas públicas. Velame destacou a retomada dos Ministérios das Cidades e da Igualdade Racial como oportunidades para integrar as demandas das comunidades às práticas urbanísticas.
Outro ponto alto, informado pela coordenadora da CPA-CAU/BR, foi o reconhecimento da Coleção Perseverança, tombada como patrimônio cultural pelo Iphan. A coleção, que conta com cerca de 200 itens sobreviventes ao massacre de 1912 em Maceió (AL), representa uma memória simbólica de resistência e preservação cultural.
O III Encontro da Diversidade do CAU integra ainda debates sobre a atuação de arquitetos em territórios de expressiva relevância cultural e religiosa, como os mais de 2 mil terreiros de candomblé mapeados em Salvador. Para o presidente do CAU/BA, Tiago Fontenelle Brasileiro, o evento reafirma a necessidade de os profissionais compreenderem a arquitetura como um meio de inclusão e transformação.
Transmitido ao vivo pelo canal oficial do CAU/BR no YouTube, o evento segue com palestras e mesas-redondas, consolidando a arquitetura como ferramenta de combate às desigualdades e de valorização da diversidade cultural brasileira. Assista à transmissão do evento.