O arquiteto e urbanista Clóvis Ilgenfritz da Silva, falecido em 23 de novembro passado, aos 80 anos de idade, foi homenageado na 31ª. Reunião Plenária Ampliada do CAU/BR, reunindo conselheiros federais e presidentes dos CAU/UF, realizada em Brasília em 21 de dezembro.
“A Arquitetura Social é a marca da vida de Clóvis Ilgenfritz da Silva, como arquiteto e urbanista, militante da profissão e político. Nada mais justo do que prestarmos uma homenagem, ainda que singela, à sua memória, na presença de seu filho, Tiago Holzmann, presidente do CAU/RS, a quem desejo dar um abraço extensivo aos seus irmãos Camilo e Letícia”, afirmou o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, na abertura do ato.
Para Jeferson Navolar, conselheiro federal pelo PR, a trajetória do homenageado ensina a importância da participação dos arquitetos e urbanistas na política, em especial nos parlamentos nas esfera federal, estadual e municipal. “Se não fossemos representados no Congresso Nacional com deputados federais, como Clóvis Ilgenfritz da Silva, talvez não tivessemos o Ministério da Cidade; o Estatuto da Cidade; o Estatuto da Metrópole; a Lei da ATHIS e mesmo o CAU”.
“É preciso reconhecer e valorizar a importância do parlamento na produção e na gestão do território. O Estatuto da Cidade, todos sabemos, pode ser considerado a certidão de nascimento com um olhar no seu território”, afirmou o conselheiro, que propos a realização de uma sequência de atividades no Congresso Nacional objetivando incentivar os colegas de profissão a participarem da gestão do território via parlamentos. “Temos outros, além de Clóvis, que já seguiram este caminho, mas não podemos deixar essa tarefa gigante nas mãos de poucos”.
Ednezer Rodrigues Flores, conselheiro federal pelo RS, disse ter conhecido Clóvis Ilgenfritz da Silva “como estudante, deputado e como colega de profissão. E nossa convivência fez com que nos tornássemos amigos. O Clóvis é um exemplo de luta, profissionalisto e, acima de tudo, de experiência prática de um sistema de Arquitetura e Urbanismo voltado para a sociedade”. Segundo ele, a maior homenagem que o CAU pode fazer ao colega, “um agente político, um guerreiro que lutou por um país melhor”, é aumentar de 2% para 3, 4 ou mesmo 5% a alíquota da arrecadação do Conselho destinada a projetos de incentivo à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social.
Em seu pronunciamento, o presidente do CAU/BR, Luciano Guimarães, lembrou “não foram poucas as vezes em que Clóvis Ilgenfritz da Silva, convidado, se fez presente nas iniciativas do CAU/BR, dando significativos ensinamentos”.
“Em 2016, Clólvis deu uma palestra em nossa 56ª. Plenária Ordinária, ocasião justamente em foi aprovada a alocação de no mínimo dois por cento da receita do CAU para ações estratégicas no campo da Assistência Técnica em Habitação Social. O objetivo da ATHIS, alertou ele, não deve ser produzir apenas unidades habitacionais, mas sim produzir cidades através da habitação, ou seja, praças, infraestrutura de saneamento, transporte, escola e postos de saúde. Por isso, defendeu a operacionalização da lei como “política de Estado”, para que se transforme em um programa perene que assegure o direito à moradia digna às famílias de baixa renda com a assistência de um profissional qualificado. Seria algo como o SUS na área médica”.
Em 2017, continuou Luciano Guimarães, ‘o site o CAU/BR publicou uma série de reportagens dedicada à Habitação Social. Entrevistado, Clóvis fez uma crítica contundente contra “a arquitetura sem arquitetos”, ou seja, construções feitas por leigos ou mesmo profissionais de outras áreas. “Eles podem até saber ler uma planta, mas projeto quem fez é arquiteto”.
Em 2018, ele daria outra importante entrevista para o CAU/BR, agora em uma edição especial da revista Projeto sobre Arquitetura Social editada em parceria com o Conselho. “Nela, Clóvis lamentava a falta de interesse do governo federal pela ATHIS, desde a criação da lei de 2008. “Havia recursos para esse tipo de habitação, mas não se fazia porque não se queria”, afirmou Clóvis Ilgenfritz da Silva na entrevista, completando: “Teve uma Secretária Nacional da Habitação, revelou ele, “que tinha uma visão completamente distorcida: ela considerava que a medida era uma luta corporativa dos arquitetos”.
Ao concluir, Luciano Guimarães afirmou: “Assim era Clóvis Ilgenfritz da Silva, um guerreiro do bem, que soube materializar em projetos e ações a função social do arquiteto e urbanista abraçada pela profissão no histórico I Congresso Brasileiro de Arquitetos de 1945. Muito devemos a Clóvis, com quem tiver a honra de conviver no IAB e no movimento sindical. Repito: muito devemos a Clóvis. E completo: muito temos a agradecer”
Em 2019, a Arquitetura Social perdeu também Demetre Anastassakis, falecido em 27 de julho. Um de seus projetos exemplares, o condomínio Moradas da Saúde, no centro do Rio de Janeiro, ilustrou a campanha do Dia do Arquiteto e Urbanista 2019, que teve como tema “Arquitetura e Urbanismo, Um Direito de Todos”.
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