CONFERÊNCIA NACIONAL DE AU

Criatividade e papel social do arquiteto e urbanista são temas de mesa-redonda

A programação do último dia de atividades da II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo começou com a abertura do Seminário “Arquitetura e Urbanismo como aprendizagem intercultural”, composto por duas mesas-redondas e um debate. Na abertura dos trabalhos, o presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e coordenador do Colegiado das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanistas (CEAU), Cícero Alvarez, e o presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, conversaram com os participantes ressaltando a importante missão de iniciar os preparativos para o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, a ser realizado em 2020 na capital fluminense.

 

Segundo Cícero, “nosso papel não é almejar trabalho para uma elite ou para a classe média. É propiciar a inclusão das pessoas. E a gente só faz isso em conjunto, saindo do isolamento. É por isso que todas as palestras desta II Conferência dialogam com outras profissões e visões de mundo. Para que percebamos essas nuances e a sociedade nos enxergue de outra maneira”.

 

Cícero Alvarez, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) e coordenador do Colegiado das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanistas (CEAU) (Foto: André Ivo – CAU/BR)


Haroldo Pinheiro aproveitou a ocasião para convidar os participantes da atividade a conhecerem algumas publicações importantes preparadas e lançadas pelo CAU/BR, como o Anuário de Arquitetura e Urbanismo 2016 e o Relatório Executivo do Seminário Internacional de Arquitetura e Urbanismo do CAU/BR. De acordo com o presidente do Conselho, os materiais devem contribuir para consolidar as melhores práticas profissionais. “O que é bacana nisso é que a gente vai dominando as informações para planejar estrategicamente a nossa profissão”, afirmou.

 

Presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, apresenta publicações lançadas pelo Conselho (Foto: André Ivo – CAU/BR)

 

Haroldo falou ainda da necessidade da criação de marcos legais para a construção das cidades e da importância da colaboração de todos nesse processo. “É possível fazer corretamente, com mais simplicidade, obras públicas conectadas com outros instrumentos. O nosso objetivo é propor uma alternativa à Lei de Licitações, que demostre que é possível, mais rápido, mais eficiente e mais barato fazer do jeito certo. Nos sentimos aqui mais fortalecidos para essas discussões”, finalizou.

 

Criação para transformação social das cidades

A primeira mesa-redonda do “Arquitetura e Urbanismo como aprendizagem intercultural”, com o tema Arquitetura e Criatividade, foi iniciada com a participação da jornalista Mariana Barros, co-criadora do Esquina, plataforma sobre cidades que realiza encontros, cursos, passeios, vídeos e transmissões ao vivo sobre temas urbanos.

 

“O Esquina se tornou um grande laboratório de experiências. A ideia não é fazer uma cobertura da cidade, mas aprofundar os temas, trazer questões e mostrar que as cidades são um mundo e a Arquitetura e o planejamento urbano são importantes”, contou. A jornalista se apresentou como uma entusiasta de Arquitetura e Urbanismo, tendo quase 15 anos de vivências na cobertura de temas relacionados à área. “Sempre mirando o diálogo e buscando trazer as informações, provocando algumas inquietações para as pessoas pensarem sobre onde vivem”, disse.

 

Mariana Barros, co-criadora do Esquina e autora do portal Habite São Paulo (Foto: André Ivo – CAU/BR)

 

Para ela, a criatividade se traduz no desafio de trabalhar um tema que não é “novo”, como as cidades, mas de uma maneira diferente. “Os arquitetos devem estar mais abertos a isso”, afirmou. Mariana acredita que cabe a cada cidadão buscar também alternativas para a solução dos problemas das cidades. “Não é mais o momento de esperar o gestor resolver”, embora destaque que prefeitos vêm ganhando uma visibilidade muito grande, “porque têm um impacto muito maior na vida das pessoas, mais do que os presidentes”.

 

“A cidade é o resultado das ações de todos nós e, por isso, é tão interessante”. Entretanto, ressaltou Mariana, faltam indicadores objetivos, pesquisas e dados concretos que possam subsidiar e aprofundar as discussões e os problemas a serem resolvidos.

 

Periferia desconhecida


O arquiteto e urbanista Fernando Fuão, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentou um relato importante sobre sua experiência de trabalho com cooperativas de reciclagem nas periferias de Porto Alegre. O desafio de interação com as comunidades de catadores e a realidade precária de vida e trabalho encontrada foram utilizadas pelo palestrante para questionar o papel dos profissionais e da Arquitetura como agentes de transformação social.

 

“Percebi como a universidade pública está completamente afastada da realidade social. Aluno não conhece periferia, professor não conhece periferia. Os colegas que dão aula de urbanismo não colocaram os pés na periferia”, relatou. Fuão disse ainda que não entende que exista um dom de ser criativo. “Não acredito nessa herança da criatividade. Qualquer povo primitivo tem grande criatividade nas suas estruturas mitológicas”, afirmou.

 

Fernando Fuão acredita que as pessoas não têm um modo único de existir sobre a vida e habitar sobre a Terra. Para o professor, é preciso “entender outros modos de morar, modos deploráveis, punitivos da sociedade capitalista, mas que têm pensares diferentes”.

 

Fernando Fuão, escritor e doutor em Projetos de Arquitetura Texto e Contexto pela Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona (Foto: André Ivo – CAU/BR)

 

Ocupar espaços e promover mudanças criativas


Questionados a respeito de como os profissionais de Arquitetura e Urbanismo devem atuar frente a tantos desafios, sociais, políticos e econômicos, os participantes da mesa apontaram a necessidade de que arquitetos e urbanistas devem ocupar seus espaços na discussão, valorizando o conhecimento empírico como fundamental para que possam de fato atuar como vetores de transformação social.

 

Para Mariana Barros, “o maior legado deste painel é que, acima de tudo, a gente tem que ter criatividade para reinventar as nossas profissões para que possamos atingir, principalmente, os excluídos. Temos uma crise de representação? Pois temos que parar de procurar os escolhidos. Nós somos agentes de transformação. Eu saio da minha zona de conforto para explorar caminhos pouco explorados. Mas só posso fazer isso se eu tiver respeito pelos outros, se tentar o diálogo. E a política entra como a arte do possível e do entendimento com o outro. Essa mudança criativa de postura dos arquitetos e de todo a sociedade é fundamental”, concluiu.

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