Você já parou para pensar no poder transformador que a Arquitetura e o Urbanismo têm em nossas vidas? Confira o incrível discurso da deputada federal Erika Kokay no IX Seminário Legislativo de Arquitetura e Urbanismo.
Suas palavras vibrantes e apaixonadas convidaram os valorizar cada vez mais os(as) arquitetos(as) e urbanistas e entender como eles/elas garantem o direito à cidade, lutando por espaços mais humanos, inclusivos e harmoniosos.
***
Discurso da deputada federal Erika Kokay (PT-SP)
No IX Seminário Legislativo de Arquitetura e Urbanismo (17/05/2023)
Queria saudar cada um e cada uma de vocês e dizer a grande alegria que é recebermos aqui na Câmara dos Deputados, de tempos em tempos, e pelo menos uma vez por ano, o CAU. Para que possamos fazer as discussões que são pertinentes às nossas cidades.
Eu penso que nós temos direitos que são muito contemporâneos. Nós temos o direito de ser, o direito de amar, e em particular o direito à cidade.
São os arquitetos e urbanistas que asseguram o direito à cidade.
Porque a cidade não é a mesma para todas as pessoas.
A cidade às vezes é negada. É negada para o afeto, para as mulheres durante a madrugada, para determinadas pessoas. Muitas vezes ela é organizada com a lógica de exploração dos próprios corpos.
Portanto, nós temos uma mobilidade urbana que se concentra em levar as pessoas para o trabalho, mas nega a existência das pessoas nos seus direitos: direito ao seu lazer, direito à cultura.
Os arquitetos e urbanistas não esquecem, porque constroem a cidade com centralidade nas pessoas.
Por isso, a gente se depara com tantos exemplos de construções da democracia, dos direitos, que saem das entidades que defendem arquitetos e urbanistas.
Vamos nos dedicar à Assistência Técnica que é fornecida às pessoas de baixa renda. Vamos ver nas áreas de interesse social a presença dos arquitetos e urbanistas. Vamos ver o direito à água, o direito de você estar em harmonia com as diversas formas de vida.
Na cidade, os arquitetos e os urbanistas.
E nós estamos falando de um lugar, do Distrito Federal, onde a gente lembra que foi um arquiteto e urbanista que fez um traço mágico, que alguns até chamam de avião, e eu digo:
“Moço, não é um avião. É como se fosse uma borboleta, porque tem a leveza de uma borboleta e é fruto de uma transformação, das mãos de brasileiros e brasileiras que vieram de todo o Brasil para construir o traço mágico de Lúcio Costa”.
Nós também temos aqui Oscar Niemayer, que fala das curvas e que fala da leveza das nossas próprias existências.
E esta cidade, a capital da República, tombada nas suas escalas, lembra que Lúcio Costa dizia: “ela tem que estar circundada por flores”.
Por isso a gente vê bouganvilles, a gente vê os ipês, a gente vê espatódeas, vai vendo sempre as flores cercando a cidade, cercando as quadras de Brasília.
Lúcio Costa também falava que os prédios tinham que ter até seis andares, porque as mães têm que escutar o chamado dos seus filhos.
Espaços coletivos onde os limites são o próprio infinito, o infinito é o limite.
Por isso nós estamos falando aqui de uma cidade que foi fruto da lógica que move os arquitetos e os urbanistas do nosso país, que têm um compromisso com o pulsar humano.
E se você me perguntar o que significa ser humano, eu digo:
“A gente reconhece a nossa humanidade na nossa condição de sujeito do nosso corpo, do nosso pensar, do nosso sentir, na construção dos nossos direitos e pensar uma cidade. Uma cidade para contemplar todos os direitos, para contemplar o direito à educação, para contemplar o direito à cultura, para contemplar o direito aos credos e também aos não-credos, que está previsto na nossa própria Constituição.”
Nós estamos falando de construtores e construtoras da liberdade, da democracia e dos direitos.
Neste sentido, o Minha Casa Minha Vida, tem que ser pensado a partir deste olhar, com propostas habitacionais que não apartem o direito da moradia de outros direitos.
Porque a gente não só mora, a gente também tem que contemplar tudo aquilo que reafirma a nossa própria humanidade.
Eu queria, portanto, saudar cada uma e cada um de vocês. Dizer que nós construímos um projeto que é o Microempreendedor Profissional (MEP), a partir das contribuições do próprio CAU.
Esse projeto está apensado a outros projetos, e é fundamental que a gente não descaracterize o sentido do projeto do MEP para que possamos assegurar os direitos daqueles que precisam ter a valorização profissional.
Arquitetura e Urbanismo é a profissão que assegura o direito à cidade. Mas para além do direito à cidade, a gente também assegura o direito à cidade com a liberdade de ser, a liberdade de amar, a liberdade de existirmos como seres que somos faltantes e, portanto, somos seres sempre querentes.
O nosso respeito imenso por todos os arquitetos, arquitetas e urbanistas do nosso país, da nossa cidade e pelo movimento que desenvolvem.
Onde tem um chão, nós temos também arquitetos e arquitetas.
Temos também arquitetos e urbanistas da nossa cidade e do nosso país dialogando e colocando o seu conhecimento a favor de uma sociedade mais justa e mais igualitária.
Onde nós possamos vivenciar essa sociedade tão açoitada e que precisa ser reconstruída.
Será pelas mãos de cada uma e cada um de vocês que teremos o exercício dessa profissão valorizado e disseminado em cada obra.
Num Brasil muitas vezes invisibilizado, num Brasil profundo que ali nós temos também os urbanistas atuando para que nós possamos ter esse fortalecimento.
Nós precisamos da valorização dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo.
Portanto, lembrando, que é só sendo borboleta que se constrói o fruto da transformação, da leveza e da beleza.
Em nome de todos os arquitetos e urbanistas que transformaram o nosso chão em território como possibilidade de tranças, de saberes, de fazeres, de desejos, de afetos, de existências.
Eu queria saudar cada uma e cada um de vocês e concluir a minha fala com a única frase: gratidão pelo trabalho!