Organizar ideias e buscar as melhores soluções a partir das necessidades e não de suposições estatísticas. Esse conceito tem um nome e se chama Design Thinking. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) conversou com a arquiteta e urbanista Michele Raimann, diretora do MAENA designconecta, empresa que soma conhecimento de gestão e comunicação de marca com metodologias estratégicas, para criar projetos que conectem propósitos e resultados. Confira a entrevista a seguir:
Design Thinking – Conceito
Para o desenvolvimento dos nossos processos sempre valorizamos o aprofundamento sobre o contexto do cliente antes de começar a desenvolver projetos. Acreditamos que quanto mais conseguimos compreender diferentes ângulos de uma demanda, mais rico se torna o processo criativo e melhor atendemos as aspirações das pessoas.
Nesse sentido, buscamos abordagens e metodologias como o Design Thinking e o Design Estratégico, formas de estruturar processos mais inteligentes para projetos de arquitetura. O Design Thinking é uma abordagem que visa a inovação com foco no ser humano e se baseia nos conceitos de empatia, colaboração e experimentação. É a maneira de pensar do Design, que se motiva em qualificar a vida das pessoas a partir do profundo conhecimento de suas necessidades (funcionais, emocionais e estéticas), gerar criatividade e inovação a partir da inteligência coletiva e racionalizar e analisar as variáveis para formatar soluções.
Aplicação na arquitetura
É natural a aplicabilidade do Design Thinking na arquitetura, já que seus conceitos também norteiam as competências básicas da profissão do arquiteto: projetamos para pessoas, lidamos com muitas condicionantes e concretizamos projetos a partir de uma cadeia de parceiros fundamentais no esclarecimento das ideias. Não trabalhamos sozinhos e aquilo que construímos interfere na vida das pessoas e na cidade por muito tempo.
A empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo o que é realmente significativo para ele, permite que possamos nos distanciar o suficiente de nós mesmos, de modo que nossas preferências não falem mais alto que as expectativas dos usuários do nosso projeto. Observar, ouvir, conversar com as pessoas, ajuda a compreender as relações emocionais com o espaço e com as dinâmicas que podem ser proporcionadas.
Cultura da colaboração
A colaboração já faz parte da arquitetura, devido à complexidade da profissão. Desde o projeto até a realização, muitas disciplinas precisam se sobrepor e colaborar para a construção de um todo. Entendemos que cabe ao arquiteto, em função da sua inerente capacidade de relacionar questões e tomar decisões, unir todos os envolvidos em um desafio de projeto para definirem juntos qual o objetivo a perseguir. Unindo o cliente, o usuário (quando o mesmo se trata do cliente do nosso cliente), os projetistas, os realizadores e os comercializadores (quando falamos de trabalhos de arquitetura comercial ou para o mercado imobiliário) em uma equipe multidisciplinar que cria e estabelece junto as premissas de um projeto, todo o processo ocorre de forma mais eficiente, mais rápida e gerando um resultado melhor, além de mais satisfação para todos os envolvidos.
Conectando propósitos e resultados
A experimentação diz respeito a testar as ideias e poder voltar atrás quando elas não performam como gostaríamos. Ao reunir todas as condicionantes de uma demanda de arquitetura e tomar as decisões necessárias, é valioso poder novamente se distanciar e avaliar se estamos conseguindo atingir uma experiência compatível com as expectativas do cliente, da equipe e que entregue para a cidade algo qualificador.
Acreditamos que o que muda na forma de projetar arquitetura com a ajuda do Design Thinking é equilibrarmos mais a energia dispensada entre as fases de compreensão e solução de um problema. Por diversos motivos, a profissão do arquiteto acabou se focando mais na segunda etapa, a de formatação de soluções, quando já passamos a desenhar. Essa abordagem nos traz ferramentas que nos auxiliam na primeira etapa, especialmente para que as pessoas sejam a principal motivação de um projeto, e não o próprio projeto. Um projeto pode ser muito eficiente em muitas escalas, mas se não for significativo para quem o utiliza e para a cidade, pouco tem valor. E quando uma ideia deixa de ser “minha” e passa a ser “nossa”, de todos os envolvidos, o efeito positivo é muito mais sinérgico e transformador.
Cases
Iguaçu – Porto Alegre/RS
Artsy – Porto Alegre/RS
Cine Teatro Presidente – Porto Alegre/RS
Fonte: CAURS