Desde o primeiro levantamento realizado pelo CAU Brasil em 2019 sobre a presença da mulher na arquitetura e urbanismo, a participação feminina na profissão tem sido crescente e tende ainda a aumentar, considerando que quanto menor a faixa etária, maior a proporção de mulheres.
Atualmente , o total de 193.443 profissionais registrados no CAU (até 15/02), 123.997 são mulheres (64%) e 69.446 homens (36%).
Na faixa de até 29 anos, as mulheres chegam a representar 76% dos profissionais ativos.
As mulheres já são maioria em 25 das 27 Unidades da Federação. Os estados que lideram esse ranking são Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Alagoas, onde elas representam 73% dos profissionais ativos.
A partir da consciência de que os espaços de decisão na profissão e no planejamento urbano representam historicamente visões e interesses de um grupo restrito e pouco diverso, que não refletem completamente as reais necessidades da maioria dos cidadãos e cidadãs, o chamado por mais equidade e maior representatividade tem tomado força nos últimos anos. Para a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, “as mulheres têm mais facilidade para compartilhar, para ter uma gestão mais horizontal e para dar crédito “.
[…]É fundamental que os Arquitetos tenham a capacidade de compreender e responder às diversas necessidades dos clientes e da comunidade como um todo. Esse objetivo será mais facilmente alcançado quando todas as esferas da profissão refletirem a diversidade da sociedade […] (Policy on Gender Equity in Architecture, da UNION INTERNATIONALE DES ARCHITECTES (UIA), 2017)
O CAU, enquanto promotor da Arquitetura e Urbanismo para todos e todas, tem ampliado a percepção de seu papel no fomento à equidade como vetor de transformação social. Essa evolução pode ser percebida no gráfico abaixo, que demonstra um aumento global da representatividade feminina nos 4 primeiros mandatos desde a criação do Conselho:
Mesmo com o aumento de representatividade em quase todas as categorias e sendo maioria nos plenários e vice-presidências estaduais, nota-se uma redução nos percentuais de mulheres nas posições de presidência, que passou de 26 para 22%. Das 13 mulheres que se candidataram a presidências de CAU/UF, somente 6 foram eleitas, ou seja, menos da metade. Dentre os homens, por outro lado, 21 dos 25 candidatos foram empossados presidentes, ou seja 84% deles.
Se propor a um cargo de presidência não é uma tarefa simples para uma mulher, muito menos em períodos de pandemia. Segundo o IBGE, no terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho. No contexto da pandemia, as mulheres se sobrecarregaram ainda mais com afazeres domésticos e cuidados com outras pessoas – com o trabalho reprodutivo. Elas dedicam quase o dobro de horas semanais com essas atividades do que os homens.
Nas eleições de 2017, o estado de Santa Catarina inovou ao compor uma chapa integralmente feminina para as eleições do CAU. Em 2020, três estados repetiram esse feito: São Paulo, Mato Grosso do Sul e novamente Santa Catarina. A decisão de uma rede de mulheres em ocupar esses espaços decisórios na profissão, mesmo com maiores obstáculos do que os homens, fez com que o número de conselheiras estaduais eleitas para o triênio 2021-2023 (titulares e suplentes) aumentasse de 17% em relação à gestão anterior. As mulheres já são maioria na maior parte dos plenários estaduais.
Apesar desses avanços significativos, ainda há um caminho a ser percorrido. Comparando-se os percentuais das conselheiras estaduais titulares aos percentuais de arquitetas e urbanistas ativas, nota-se que em muitas unidades da federação elas ainda estão subrepresentadas. Em quatro estados, os percentuais de conselheiras titulares eleitas são menores do que a metade dos percentuais de arquitetas e urbanistas do estado : Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná e Maranhão. No Maranhão, enquanto as mulheres representam 60% dos profissionais do estado ativos, o plenário possui somente 13% de representantes femininas.
Considerando que na média nacional as mulheres representam 64% dos profissionais ativos, os percentuais de representatividade feminina de uma forma geral ainda estão aquém de um cenário de equidade. As posições onde as mulheres estão menos presentes são nos cargos de presidência dos CAU/UFs. Dos 27 presidentes, somente 6 são mulheres.
No Plenário do CAU/BR, apesar de as conselheiras suplentes representarem a metade dos eleitos, entre os 28 titulares somente 10 são mulheres.
No âmbito das entidades do Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas (CEAU), os percentuais de mulheres em cargos de direção também cresceram entre 2019 e 2021: no levantamento anterior, somente a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) tinham maiorias femininas. Neste ano, em 4 das 6 entidades as mulheres já são mais da metade.
Considerando as presidências do CEAU, o cenário é otimista: pela primeira vez na história, 5 das 6 entidades são presididas por mulheres. No caso do CAU/BR e do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), que esse ano completa 100 anos de história, a presidência feminina é um fato inédito.
Por Ana Laterza, arquiteta e urbanista