Na visão da Docomomo-França, a Casa do Povo de Clichy (1939), pura expressão formal das inovações técnicas e do caráter social da arquitetura da Era da Máquina, ela mesma um edifício-máquina, é uma relíquia da arquitetura do entre guerras europeu, classificada Monumento Histórico pelo Ministério da Cultura da França, que se encontra em lamentável estado de abandono, demandando urgente restauro e revitalização. A sigla Docomomo significa Documentation and Conservation of Buildings, Sites and Neighbourhoods of the Modern Movement – em português, Documentação e Conservação dos Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno.

Esta obra revolucionária em aço e vidro, executada por Jean Prouvé (1901-1984), foi fruto de um concurso público de projetos realizado em 1935 por iniciativa da municipalidade de Clichy, para cobertura da feira-livre do centro da cidade. No projeto laureado, os arquitetos Eugène Beaudouin (1898-1983) e Marcel Lods (1891-1978) foram além da demanda e criaram uma estrutura mutante – com teto translúcido deslizante, e divisórias e lajes retráteis – que pode abrigar sazonalmente a feira-livre e outros eventos públicos a céu aberto ou abrigados, e se transformar em cinema, teatro, salas de convenções, de reuniões e de serviços comunitários diversos.
Recentemente, uma mega operação de renovação imobiliária da área metropolitana de Paris (Inventons la Métropole du Grand Paris) propôs o restauro do edifício histórico, porém condicionado à construção de uma torre de escritórios e habitação de alto luxo com 96 metros de altura encimando o monumento. Essa proposta, contra a qual se posiciona o Docomomo-França e outras entidades francesas e internacionais que lutam pela preservação do patrimônio histórico, está ensejando uma polêmica que interessa a toda a comunidade internacional de arquitetos, estudantes e amantes da arquitetura moderna.
Acesse aqui a versão completa do artigo, de Bernard Toulier, do conselho científico do Docomomo-França, sobre a controvertida proposta (traduzido por Sônia Marques).