A integração entre as culturas arquitetônicas e urbanísticas do Brasil, Paraguai e Bolívia esteve em foco no seminário Fronteiras: exercício e mobilidade internacional. O evento foi promovido pela Comissão de Relações Institucionais (CRI) na sede do Sebrae em Campo Grande no dia 14 de setembro e contou com o apoio do CAU/MS. É mais uma iniciativa do CAU Brasil para promover a mobilidade profissional para arquitetos e urbanistas.
Na abertura do evento, a presidente Nadia Somekh afirmou sobre a relevância de buscar diálogo com os dois países latino-americanos que fazem fronteira com o estado do Mato Grosso do Sul. “É uma questão de irmandade com os países vizinhos que acolhem os arquitetos e urbanistas e também de traduzir a perspectiva contemporânea em termos da atividade profissional e das atribuições do conselho. Nossa missão é mostrar para o Brasil que o nosso ofício é importante e que a aproximação com os nossos vizinhos ajuda a buscar qualidade de vida para a população”.
Também participaram da mesa de abertura o presidente do CAU/MS, anfitrião do evento, João Augusto Albuquerque Soares, o coordenador da CRI, Jeferson Navolar (PR), a coordenadora do Fórum de Presidentes, Edwiges Leal, e representantes de entidades que representam os profissionais de arquitetura e urbanismo em nível nacional e internacional.
Para a representante do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU), Maria Elisa Baptista, tornar as fronteiras mais permeáveis é ainda mais importante diante da crise ambiental. “Estamos aprendendo, a duras penas, que o mundo é um só, e bem pequeno, e está exaurido. A globalização, ou mundialização preconiza um mundo plano, pobre na sua esterilidade. Para transformar esse futuro, o tempo que ainda temos precisa ser bem usado, bebendo na riqueza de nossas culturas, na diversidade de nossos povos, na pujança de nossos territórios, na conversa urgente e necessária sobre o que desenhamos com esse nome de fronteiras”, disse.
O Vice-Presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA) para a Região das Américas, Nivaldo Andrade, enviou vídeo de saudação especialmente para a ocasião. Nivaldo saudou a iniciativa da aproximação do Brasil com os países vizinhos para ampliar o espaço geográfico de atuação dos arquitetos e urbanistas e colocou a representação brasileira no UIA à disposição para ampliar os debates sobre a mobilidade profissional.
Membro do Conselho Honorário Vitalício do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, João Suplicy representou a Federação Panamericana de Associações de Arquitetos (FPAA)
No primeiro painel, o secretário geral do Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP), Odilo Almeida, abordou as relações das associações de arquitetos dos países de língua portuguesa. Apresentando números que descrevem a abrangência da atuação do CIALP nos dezesseis países e territórios, Almeida relatou as atividades realizadas pela organização nos últimos anos. Para o arquiteto, o Brasil ingressa em uma nova e favorável fase do ponto de vista da projeção internacional, com maior integração junto à América latina e a blocos importantes, como os BRICS. “Estamos retomando a vocação de nos tornarmos um país protagonista e nós, arquitetos, temos muito a contribuir”, afirmou.
Quando os países compartilham biomas e bacias hidrográficas, os limites geográficos extrapolam as fronteiras desenhadas pelos mapas geográficos. O segundo painel do seminário foi dedicado a explorar a arquitetura de países vizinhos, provocando a percepção sobre suas semelhanças e diferenças com a produção brasileira.
O coordenador da CRI, Jeferson Navolar, abordou o tema “As duas grandes bacias hídricas da América do Sul – o encontro das águas”. O arquiteto contextualizou a lógica de ocupação do território imposta pelos países colonizadores e que determinou a constituição das fronteiras do Brasil com a América latina e focou sua abordagem no Arco Central, que compreende a faixa de fronteira dos estados de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Navolar defendeu um programa de ocupação do território que leve em consideração as bacias hidrográficas. Segundo o coordenador, estes marcadores geográficos têm grande potencial para a economia e para o urbanismo, favorecendo estruturas de transporte, aspectos sanitários e agricultura saudável, para citar alguns exemplos. O arquiteto também mencionou estudos baseados no mapeamento das bacias e formação de aquíferos para a a integração física regional a partir do potencial hídrico.
A palestra da Presidente Colégio de Arquitetos da Bolívia -CAB, Rim Safar e refletiu sobre a identidade da arquitetura local, que tem influências oriundas da colonização espanhola, mas também da região amazônica, como é o caso das cidades de Cobija, Riberalta e Trinidad. A arquiteta boliviana mostrou exemplares da arquitetura contemporânea produzida pelos arquitetos Rolando Aparício e Ardwin Bause. Algumas das obras fizeram parte da Bienal Internacional de Arquitectura de Santa Cruz. A mostra itinerante esteve em exposição no Bioparque Pantanal durante a semana.
Rim Safar saudou o CAU por abrir o diálogo e afirmou que a aproximação fortalece a arquitetura e urbanismo amazônico. Segundo a arquiteta, a projeção mundial do Brasil é “um sonho latino”. Para que isso ocorra, afirmou, é preciso reafirmar os idiomas nacionais.
Maria Luz Cubilla, vice-presidente Cone Sul da FPAA falou sobre os intercâmbios milenares entre os países que compartilham biomas na América Latina. Antes da ocupação europeia, lembrou a arquiteta, a América se comunicava pelos caminhos de Peabiru e pelas águas. Como iniciativa que pretende incentivar a integração da região, Maria Luz mencionou a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana(IIRSA), um programa que tem mais de 500 projetos nos doze países da América do Sul. A participação dos arquitetos, segundo a palestrante, é importante para defender cidades resilientes integradas aos rios. A arquitetura contemporânea paraguaia foi representada, na palestra, pelos arquitetos José Cubilla e Solano Benítez.
A última apresentação da noite, feita pelo conselheiro Ricardo Mascarello, falou sobre o histórico e os produtos do Projeto Amazônia, iniciativa da Comissão de Política Urbana e Ambiental (CPUA).
O Seminário “Fronteiras: exercício e mobilidade internacional” é preparatório para o Encontro das Águas, que acontecerá em Foz do Iguaçu no mês de novembro. O evento é mais uma iniciativa da CRI-CAU Brasil que tem como objetivo avançar nos debates sobre a mobilidade profissional.