Ser profissional negro em uma profissão elitizada não é nada fácil. Enfrentar obstáculos, desvantagens e discriminação é ir além da resistência, parte do combate à normatização da exclusão e da apropriação cultural. Garantir a presença de mais pessoas negras na categoria é valorizar seus saberes, ideias e ensinamentos na arquitetura e urbanismo brasileiro, além de empoderamento.
A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) busca, por meio de seus profissionais, ser exemplo em inclusão e equidade, como afirma a presidente Andréa dos Santos: “Para melhorar as cidades, é preciso subverter o olhar hegemônico sobre elas. Hoje, o racismo é a principal fonte de desigualdade. O que estamos fazendo enquanto entidade sindical é assumir o compromisso de sermos antirracistas e trazer este debate para a arquitetura e urbanismo”.
De acordo com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), em seu 1º Diagnóstico Gênero na Arquitetura e Urbanismo, dos 185 mil entrevistados e entrevistadas, apenas 4,33% dos profissionais arquitetos e urbanistas se autodeclaram negros. Isto é, há uma incidência de 4,5% arquitetas negras e 3,8% de arquitetos negros atuando na profissão, apontando em sua maioria, um alto índice de desemprego entre as arquitetas negras, equivalendo a 27%.
Conforme a Comissão Temporária de Equidade de Gênero, o levantamento revela que apesar de negras e negros corresponderem a 55% da população brasileira dentro da profissão de Arquitetura e Urbanismo, representam apenas 22% dos profissionais, sendo 18% pardos e 4% pretos.
A baixa inclusão de profissionais negros na arquitetura e urbanismo mostra que a profissão precisa caminhar muito para reconhecer, além do papel social, debates sobre raça (assim como gênero). O ajuste a uma realidade desigual traz a busca pela representatividade, reforçados com o pouco espaço na academia e no mercado de trabalho, os quais exigem o dobro do estudo e esforço na construção de cidades e vidas melhores.
“Acredito que todos, homens e mulheres, negros, brancos, indígenas e outras etnias, para criar espaços que sejam livres de desigualdades de fato, devem passar pelo processo de letramento racial. Neste contexto, há a conscientização sobre as relações raciais na sociedade, o que a motiva a ser melhor”, afirma a presidente da Federação.
O Arquitetura D’ Preto é um movimento que visa promover desenvolvimento social, econômico, histórico, cultural e representatividade de profissionais pretos nos setores de Arquitetura e construção civil. Ao promover legado cultural e histórico, também é rede de representatividade para profissionais pretos nos setores de Arquitetura e construção civil, a fim de gerar impacto positivo à comunidade negra.
Para Pedro Rubens, arquiteto e urbanista, fundador da rede de profissionais e coordenador do grupo regional de Minas Gerais, trata-se de proporcionar o crescimento, capacitação e visibilidade a profissionais pretos. “O Arquitetura D’ Preto surge com o objetivo de gerar e compartilhar conteúdo sobre o tema de maneira crítica e reflexiva, dialogando e evidenciando novas maneiras de se pensar, representar e fazer arquitetura, com destaque naquela feita por pretas e pretos.”
“Os corpos pretos ainda não ocupam estes espaços: de professor universitário, de um diretor de uma construtora, de um fundador de um escritório, de um cargo na prefeitura ou, de um lugar onde geralmente a gente começa, de um estagiário ainda na graduação”, adiciona o arquiteto.
Dar relevância à presença dessas pessoas nas etapas de edificação e realização de projetos arquitetônicos e planos urbanísticos é dar realismo e ressignificar a vivência na cidade, cujo recorte racial é imprescindível numa sociedade que quer equidade. Ou seja, é necessário dar visibilidade a profissionais negros, com mais oportunidades e políticas públicas para que os lugares possam acolhê-los de forma justa e digna, pois a arquitetura e urbanismo preto segue inspirando as cidades.
“A maioria das cidades brasileiras, de municípios históricos até as grande capitais, foram e ainda são edificadas por corpos negros. Acredito que habitar esses lugares já são exemplos concretos de como somos, há centenas de anos, detentores de saberes valiosos e potentes”, conclui Rubens.
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