Neste final de semana, dias 9 e 10 de novembro, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE) e do Pará (CAU/PA) promovem o 1º Encontro de Arquitetura e Urbanismo Negro e Indígena do Ceará. O evento, realizado no Kuya – Centro de Design do Ceará, busca criar um espaço para diálogos transformadores que fortaleçam a representatividade e valorizem pautas étnico-raciais para a formação e atuação profissional no campo da arquitetura e urbanismo.
Arquitetos e urbanistas, estudantes e docentes se reunirão para debater práticas antirracistas, equidade no mercado de trabalho e o impacto social do setor em comunidades historicamente marginalizadas, com destaque para temas como a valorização do patrimônio cultural, educação inclusiva e desenvolvimento urbano sustentável.
“Este evento inovador visa fortalecer a representatividade negra e indígena na arquitetura e urbanismo, promovendo diálogos essenciais para a transformação do espaço urbano de forma mais inclusiva e democrática”, destaca Cristiellen Rodrigues, conselheira do CAU/CE e mediadora do evento.
Em entrevista exclusiva ao Perspectiva CAU/BR, a conselheira Cristiellen Rodrigues aborda, entre outros, questões relacionadas à influência das culturas negra e indígena na arquitetura e o urbanismo no Ceará e os principais desafios.
Confira a seguir, a íntegra da conversa.
Perspectiva CAU: Qual foi a principal motivação para o CAU/CE organizar o 1º Encontro de Arquitetura e Urbanismo Negro e Indígena?
Conselheira estadual Cristiellen Rodrigues: A principal motivação foi a falta de espaços no Ceará onde se discuta raça na arquitetura e urbanismo. Como arquiteta negra, sempre senti desde a graduação um deslocamento em relação à representatividade profissional e às práticas no campo da arquitetura e urbanismo cearense. Este evento nasce como uma forma de fechar essa lacuna, mas também como uma oportunidade de abrir portas para outras formas de pensar o espaço e a cidade. Queremos um ambiente inclusivo, que reconheça e valorize a diversidade étnico-racial como parte essencial para a produção arquitetônica e urbana.
Perspectiva CAU: Como as culturas negra e indígena têm influenciado a arquitetura e o urbanismo no Ceará?
Conselheira estadual Cristiellen Rodrigues: Isso é algo que também estamos buscando descobrir! O Ceará, por muito tempo, negou a existência e a presença significativa de negros e indígenas, o que gerou um apagamento das nossas práticas culturais e de suas influências na construção dos espaços. Com a mudança no perfil dos profissionais de arquitetura e urbanismo, especialmente com o impacto das cotas no ensino superior, estamos agora em um processo de resgate dessas memórias e de criação de novos futuros ancestrais. Esse movimento nos leva a olhar para as técnicas tradicionais, o uso de materiais locais e as formas de ocupação territorial de outra forma, criando uma arquitetura que reflete nossa verdadeira identidade cultural.
Perspectiva CAU: Que impacto você espera que este encontro traga para a valorização da diversidade cultural na arquitetura do estado?
Conselheira estadual Cristiellen Rodrigues: Primeiramente, queremos criar um espaço para falar, mostrar nossas pesquisas e práticas profissionais, e destacar a importância de entender a arquitetura e o urbanismo sob essa ótica. Queremos que profissionais, estudantes e professores percebam o quanto é fundamental incorporar a diversidade étnico-racial no pensamento e na prática da arquitetura e urbanismo. Esperamos que esse encontro inspire mudanças na formação e no mercado de trabalho, valorizando e integrando as contribuições apresentadas.
Perspectiva CAU: Quais são os principais desafios enfrentados por arquitetos e urbanistas negros e indígenas no Ceará?
Conselheira estadual Cristiellen Rodrigues: Com certeza, o racismo estrutural é um dos maiores desafios. Ele se manifesta desde a negação da nossa existência até a falta de representatividade em espaços de tomada de decisão. Muitos profissionais negros e indígenas enfrentam dificuldades para acessar oportunidades, ver suas propostas valorizadas e serem incluídos nas discussões de planejamento urbano e arquitetônico. Isso não só limita a carreira desses profissionais, mas também priva a sociedade de uma arquitetura justa e inclusiva.
Perspectiva CAU: Há planos para transformar esse evento em uma iniciativa contínua ou para desenvolver outras ações de inclusão na arquitetura cearense?
Conselheira estadual Cristiellen Rodrigues: Sim! A ideia é que o evento se torne recorrente, mas a discussão não deve parar por aí. Estamos trabalhando para criar a Comissão de Políticas Afirmativas, onde promoveremos ciclos contínuos de debate sobre raça, classe e gênero na arquitetura e urbanismo do Ceará. Queremos que essa comissão se torne um espaço permanente para aprofundar essas questões e estimular práticas inclusivas e diversificadas, refletindo um compromisso duradouro com a valorização da diversidade no nosso campo.