Parte do calendário oficial do Rio Capital Mundial da Arquitetura, a exposição “Sergio Bernardes – 100 anos” já recebeu cerca de oito mil visitantes desde que foi inaugurada no último dia 17 de dezembro. Instalada no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), a mostra reúne diversos itens do acervo de um dos mais importantes arquitetos brasileiros do Século XX entre pranchas impressas de projetos; peças de mobiliário de sua autoria; projeção de filmes, maquetes, curiosidades e documentos inéditos.
O Rio Capital Mundial da Arquitetura entrevistou as curadoras da mostra, Adriana Caúla (EAU/UFF) e Kykah Bernardes (Plano Memória/Bernardes Arquitetura). Elas realçam detalhes da trajetória de Sergio e adiantam os próximos passos da agenda que promove o nome do arquiteto no centenário do seu nascimento.
“Além da atual exposição no MNBA, esperamos ainda realizar um novo seminário reunindo pesquisadores de Sergio Bernardes, com uma abrangência maior de sua obra e pensamento, além de um projeto educativo vinculado à temática da exposição que será coordenado por sua neta, Renata Bernardes Proença”, afirmam.
A exposição é resultado da parceria entre o MNBA, a Associação de Amigos do MNBA e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ) e, além de fazer parte da programação do Rio Capital Mundial da Arquitetura, é um dos eventos preparatórios do 27° Congresso Mundial de Arquitetos. Quem ainda não visitou a mostra em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes tem tempo para conhecer um pouco mais da obra de Sergio Bernardes: a exposição ficará em cartaz até o dia 12 de abril.
RCMA – Qual é a importância desta exposição para as atuais gerações?
Adriana Caúla e Kykah Bernardes – Escolhemos através da curadoria um recorte que ao mesmo tempo fosse provocador e convidativo. Assim, aqueles que apenas ouviram falar em Sergio Bernardes ou mesmo o desconhecem podem ter contato com sua instigante produção e sua permanente inquietude e desejo de criar e transformar o mundo. Mostrar a intensidade e a variedade de ações e proposições de arquitetos como Sergio Bernardes é fundamental para incentivar o olhar para nossa rica arquitetura, a complexidade de nossa história, nossos atores e suas muitas facetas.
RCMA – Qual a principal marca deixada por Sergio na arquitetura?
Adriana Caúla e Kykah Bernardes – A criatividade e a experimentação que o levaram a uma produção de grande variedade. Sergio Bernardes esteve durante toda a sua vida profissional ligado às pesquisas e atento aos avanços científicos e tecnológicos, buscando sempre experimentar e avançar tecnicamente.
RCMA – A exposição já recebeu cerca de oito mil visitantes. Ao que se deve essa grande procura?
Adriana Caúla e Kykah Bernardes – A sociedade, de uma forma geral, precisa da abertura de horizontes. O pensamento prospectivo e livre como de Sergio Bernardes, que transita por tantas escalas, aborda tantos assuntos, é provocador e capaz de instigar esta abertura. São formas de pensar e propostas inventivas que transformam o mundo, são ideias ativas e inquietas. Acreditamos que neste momento, uma exposição trazendo estes componentes, torna-se atrativa e fundamental.
RCMA – De que maneira o trabalho de Sergio contribuiu para o Rio de Janeiro?
Adriana Caúla e Kykah Bernardes – Podemos afirmar que desde jovem Sergio Bernardes participou ativamente na produção arquitetônica e urbanística. Assumiu cargos governamentais, o que proporcionou ações importantes como a construção do Sanatório de Curicica, quando recém-formado tornou-se chefe do setor de arquitetura da CNCT (Campanha Nacional Contra Tuberculose). Trabalhou intensamente na organização administrativa, política e territorial da Guanabara quando assessor da Secretaria de Obras do Governo do Estado da Guanabara durante a gestão de Carlos Lacerda, período em que também integrou grupo para criação do Aterro do Flamengo chefiado por Lota Macedo Soares. Elaborou ainda o Plano Político Administrativo de Nova Iguaçu quando foi secretário de Planejamento daquele município, em 1984. Sergio contribuiu também para a discussão sobre cidade e arquitetura com muita intensidade e projetou para o Rio de Janeiro incessantemente com muita dedicação. O projeto Rio do Futuro, publicado na revista Manchete em 1965, é um extrato de suas ideias para a cidade. Remodelou ainda Copacabana, propôs Plano de Urbanização para as Favelas em contraposição à política de remoção do Governo Lacerda, explorou as questões sensíveis do Rio de Janeiro como a mobilidade, ocupação de encostas e baixadas, áreas de expansão urbana. E concomitantemente, estava projetando e construindo obras emblemáticas da cidade como os Postos de Salvamento da Orla e o Pavilhão de São Cristóvão.
RCMA – Quais são as próximas iniciativas que marcarão o centenário deste arquiteto?
Adriana Caúla e Kykah Bernardes – Antes de falarmos sobre as próximas iniciativas, achamos importante destacar alguns eventos que já fizeram parte do ano comemorativo do centenário, ainda em curso. Exposição SB-100, no CCD (Centro Carioca de Design), em abril de 2019, com a nossa curadoria. Seminário SB-100, que reuniu os pesquisadores da obra do arquiteto no CCD. Exposição SB-100 e Seminário na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, com curadoria de Ana Amora e Fabiola Zonno, em outubro de 2019. Além da atual Exposição no MNBA, esperamos ainda realizar um novo seminário reunindo pesquisadores de Sergio Bernardes, com uma abrangência maior de sua obra e pensamento, além de um projeto educativo vinculado à temática da exposição que será coordenado por sua neta, Renata Bernardes Proença.