
Carlos Leite, coordenador do Núcleo de Urbanismo Social do Laboratório de Cidades do Inper-ArqFuturo e professor na Universidade Prebisteriana Mackenzie e Carmen Silva, liderança do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC) e professora do Insper, participaram do Ciclo de Debate “Patrimônio e Acervos – memórias da arquitetura brasileira” com o lançamento do Guia de Urbanismo Social.
O Guia de Urbanismo Social é a primeira publicação sobre o tema no país e teve um lançamento realizado no dia 20 de março, em São Paulo. Produzido pelo Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper, a partir do Núcleo de Urbanismo Social, em parceria com a consultoria de gestão socioambiental Diagonal, o Guia já está disponível em versão digital. Acesse aqui.

Carlos Leite, organizador da publicação, explicou que o Guia é um cardápio. “São vários temas que aparecem e que levam ao conhecimento para capacitar aqueles que mais precisam. São, aproximadamente, 18 milhões de pessoas que vivem em periferias e que não tem moradias dignas. A publicação tem um conceito de urbanismo social. Não é possível falar apenas de habitação e interesse social. É preciso falar do que vem junto, ou seja, cidade digna”.
Durante dez meses, diversos pesquisadores, professores, alunos, gestores públicos, fontes internacionais, lideranças comunitárias e jovens de favelas trabalharam coletivamente para criar o Guia de Urbanismo Social. O objetivo é que o material tivesse uma linguagem acessível e didática e chegasse até os profissionais e lideranças que lidam diretamente com a gestão urbana e territórios de vulnerabilidade do Brasil, servindo como instrumento de capacitação.

Carlos Leite falou, ainda, que a meta agora é fazer uma pequena cartilha para chegar nas comunidades. “O Guia fala de habitação, legislação, políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, financiamento, estudos de casos, tem o trabalho das mulheres, de lideranças comunitárias, entre outros”.
Liderança social

Carmen Silva Ferreira é baiana, de origem humilde, mãe de oito filhos e retirante que viveu em situação de rua na cidade de São Paulo no início dos anos 1990. Hoje é liderança respeitada do Movimento dos Sem-Teto do Centro (MSTC), iniciativa social de luta por habitação que atua na região central de São Paulo, professora do Insper, urbanista e assessora do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Ela aponta a desigualdade social e a falta de moradia digna como um dos principais problemas da cidade. Dedicou sua vida ao ativismo social e elaborou uma metodologia para enfrentar as necessidades habitacionais da cidade e gerir as ocupações como, por exemplo, a Ocupação 9 de Julho, que além de abrigar as famílias também estimula a participação democrática e o debate político, incluindo as pessoas na vida sociopolítica da nação. Ela já ganhou inúmeros prêmios, entre eles o da Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas, pelo trabalho em devolver vida a prédios abandonados no coração da capital paulista. Ela desenvolveu uma metodologia para reduzir o déficit habitacional da cidade e gerir ocupações.
Carmen participou do encerramento do Ciclo de Debates e na ocasião fez uma referência sobre o Guia de Urbanismo Social. “Temos que fazer referências as pessoas. Sem pessoas não há urbanismo social. Não há nada. Quando falamos de Guia de Urbanismo Social eu afirmo que levamos a prática para dentro de um livro. Essa prática precisa ser direcionada para quem mais necessita que são os territórios”.
Carmem, ainda, contou sobre sua conhecida vida de levar reinvindicações e apresentar soluções criativas em todos os lugares onde são tomadas decisões que afetam a população sem moradia e sem visibilidade.
“Carmen Silva é uma liderança forjada na luta que saiu da Bahia fugida para não morrer na mão de um feminicida. Cheguei com um sonho em São Paulo que teria trabalho e moradia. Percebi que apesar de ser brasileira eu me sentia uma refugiada em meu próprio país. Uma refugiada da nossa diversidade cultural que deveria nos unir. A cultura ancestral e a cultura das regiões nos separam, mas isso não me abateu. Conheci o Movimento Moradia e entendi que não tinha pertencimento. E sem pertencimento ao território eu estaria de todas as formas fora do eixo. Então eu passo a perceber dentro do movimento que quem está ao meu lado tem os mesmos problemas que eu. Só o trabalho em rede daria a sustentabilidade para o que a gente veio buscar como objetivo. ”
Durante o evento, Carmen Silva lembrou sua relação com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU Brasil). “Percebemos que o movimento não podia ser radicalista nem tão pouco sectário. Temos que trabalhar em rede. A primeira quebra de paradigmas do movimento foi com a academia. A nossa arquitetura insurgente, que é aquela da mão de obra mesmo, a operacional, ela sem uma orientação não teria validade. Então começamos essa troca com o CAU, pois precisávamos de uma assessoria técnica de interesse social. Essa parceria faz com que o MSCT hoje tenha uma grande rede de arquitetos, sociólogos, psicólogos, entre outros profissionais, para que a gente possa trazer as pessoas para uma educação cidadã. Além disso, com o CAU temos cinco editais. O primeiro edital que participamos foi com 60 arquitetos recém-formados. Nós trouxemos 30 para as cinco ocupações que o MSTC coordena e mais 30 para cinco comunidades que formam o Instituto Casa Verbo, com comunidades de vulnerabilidade. Também estamos com o último edital que é de regularização fundiária”.

Nadia Somekh, presidente do CAU Brasil, também participou do encerramento do evento. Na ocasião, ela agradeceu a presença de todos e, principalmente, de Carlos Leite e Carmen Silva que compartilharam suas experiências além de ressaltar mais uma vez que é preciso fazer urbanismo para todos e disso que o país necessita.
A presidente do CAU Brasil também participa do Guia de Urbanismo Social. No Capítulo 5 ela é uma das autoras e traz suas contribuições sobre Dimensão Territorial.
SAIBA MAIS SOBRE OS PALESTRANTES
A programação paralela à exposição Souto de Moura contou com outros três encontros dedicados à memória, aos projetos e às obras do arquiteto português, ganhador do prêmio Prietzker de 2011 e do Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2018. A mostra esteve aberta a visitação entre 22 de março e 21 de maio no Paço Imperial do Rio de Janeiro. Foi iniciativa da embaixada de Portugal no Brasil, do Consulado-Geral de Portugal no no Rio de Janeiro e do Instituto Camões – Centro Cultural, em Brasília. Também contou com a parceria da Casa da Arquitetctura e patrocínio da Petrogal Brasil. Também foram apoiadores da mostra o CAU/RJ, o IAB nacional e seu departamento no Rio de Janeiro, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Em breve, as gravações dos debates do Ciclo de Debates sobre Patrimônio e Acervo – Memórias da Arquitetura Brasileira estarão disponíveis no canal do CAU Brasil no Youtube. Assine e receba as notificações.
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