“Mudar o ambiente é mudar a mente. Se uma pessoa pega um transporte ruim e leva duas horas para chegar ao trabalho, ela vai levar essa carga de volta para casa. Ao melhorar o transporte, você dá mais tempo para a pessoa descansar, estudar, se desenvolver”, afirma o arquiteto e urbanista Gustavo Adolfo Restrepo, coordenador do projeto urbano da comunidade de San Javier, em Medellín, na Colômbia. “As pessoas, em sua imensa maioria, são dignas, elas só precisam de um empurrãozinho para melhorar”. Ele foi o principal palestrante do primeiro dia do II Congresso Internacional de Arquitetura e Sustentabilidade na Amazônia (ArqAmazônia).
Em sua conferência “Planejamento urbano e participação cidadã”, ele deu a fórmula para que as cidades tenham sucesso em seus projetos de reformulação urbana: planejamento continuado, participação social e uso intensivo de concursos públicos de Arquitetura e Urbanismo e de parcerias público-privadas. “Durante muitos anos, os habitantes de Medellín não podiam sair à rua, por medos de tiros e bombas. Demos prioridades às pessoas, demos oportunidade a elas oportunidades de caminhar pela cidade, com espaços públicos, centros de formação profissional e bancos, localizados perto dos pontos de transporte público”, explicou. “O uso arquitetônico permite que a família se empodere, criando lugares de esperança onde antes havia o medo”.
Gustavo destaca que o pilar de todo o processo é a cultura de cidadania, onde a população participa abertamente das discussões sobre as mudanças a serem feitas. Segundo Gustavo, essa sensação de pertencimento é fundamental. “A Arquitetura e não é só estética, é ética. O que se passa dentro dos edifícios é o que as pessoas necessitam fazer, não o que quer o arquiteto. As pessoas sabem o que querem. Nós temos que perguntar, isso é ética”, diz.
Em San Javier, a comunidade ajudou a escrever seu plano de desenvolvimento local, que depois se converteu em política pública. Não uma política de governo, mas de Estado, com continuidade. No caso de Medellín, o planejamento começou há 15 anos, e vem sendo mantido pelos quatro governantes que já assumiram a Prefeitura desde então. “A chave é planejar para não improvisar. Não podemos fazer nada se a cada quatro anos se quer mudar tudo”, afirmou. “Os cidadãos têm que fazer observatórios para acompanhar as políticas, com dados e informações”. Mais de 3 milhões de pessoas participaram do processo em Medellín.
TRANSPORTE PÚBLICO INTEGRADO
Dois grandes vetores para a transformação urbana estão nas parcerias de empresas com o governo, ajudando a dinamizar a economia local, e a escolha de projetos por meio de concursos públicos de Arquitetura e Urbanismo. “Concurso público deve ser visto como uma estratégia. Assim teremos mais jovens brilhantes fazendo cidades, com uma enorme diversidade de propostas”.
O uso de sistemas integrados de transporte público é um dos grandes símbolos da mudança urbana em Medellín. Além do ônibus de trânsito rápido (BRT) e de veículos leves sobre trilhos (VLT), foram construídas ciclovias e escadas rolantes. “Mudamos o uso de veiculos pelo espaço publico, fizemos as pessoas caminhar. Construímos seis escadas rolantes que sobem 150 metros e percorrem 100 metros de distância, para que possam chegar em casa de uma maneira mais lógica e prazerosa. Reduzimos em 50% os acidentes de automóveis”, afirma Gustavo. “Nenhum projeto está desligado de outro. Ciclovias é um projeto de educação, acima de tudo”.
Outro grande paradigma buscado por Gustavo é a transformação de espaços públicos em espaços de convivência. Diminuindo a necessidade de uso do automóvel, as ruas foram abertas aos pedestres e os comércios se desenvolveram. Tudo isso ajudou a criar um senso de comunidade. “A transformação não pode ser apenas física, deve também ser social e econômica”, afirma.
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Publicado em 15/09/2015