Para marcar o Dia Internacional da Mulher, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Rondônia (CAU/RO) realizou uma entrevista com a arquiteta e urbanista Jennifer Caroline Felipe Tivirolli, a mais nova profissional com registro no Conselho, representando os anseios da geração de profissionais que atuarão na área a partir de 2017.
Qual sua trajetória até o curso de Arquitetura e Urbanismo
Nasci e morei em Cacoal (RO) até os 17 anos, na época não existia curso de arquitetura na minha cidade, apenas em Ji-Paraná e Porto Velho. Quando saí do Estado para terminar meu ensino médio já existia um crescente “êxodo” de jovens de Rondônia indo estudar em outros lugares do Brasil.
Mas limitações locais não me impediram de conquistar essa formação. Meus pais entendiam a necessidade de cursar ensino superior e não mediram esforços. Lembro que minha mãe educou a mim e minha irmã com base feminista, querendo que fossemos capazes e independentes, fortes o bastante para conquistarmos tudo que batalhássemos com a paixão e determinação suficientes para rompermos barreiras.
Em 2011 iniciei meus estudos em arquitetura e urbanismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Foram cinco anos de testes de resistência, superações e aprendizagem.
O que levou você a escolher a área de Arquitetura e Urbanismo?
O que me envolveu desde o começo foi a liberdade criativa e a arte. Porém a vontade de cursar só me veio no final do ensino fundamental, quando eu formava minha consciência da necessidade de uma profissão, mas eu já vivia arquitetura desde que me entendia por gente sem saber. Eu gostava muito de criar coisas, brincadeiras, pintava muito, gostava de desenhar pessoas e casas em miniatura de recorte; lápis, papel, cola e tesoura conseguiam me entreter por horas.
Em qual das várias áreas da Arquitetura e Urbanismo você pretende dar mais enfoque na carreira?
Eu sou apaixonada por conforto ambiental e eficiência energética, penso que é a tecnologia aliada ao meio ambiente que fortalece a ciência da arquitetura, uma opção urgente para nossa realidade.
Durante os estudos das classes sociais da faculdade fui criando consciência sobre a atuação do arquiteto e o potencial da construção civil. Gostaria de ter a oportunidade de fazer meu trabalho chegar as pessoas menos favorecidas, desenvolvendo projetos arquitetônicos com qualidade e de acordo com suas necessidades e preferências, fugindo dos modelos padronizados existente. Seria uma elaboração de arquitetura verde com a arquitetura social.
Em sua opinião, qual a importância da boa relação entre cliente e profissional?
O bom relacionamento é essencial. A comunicação é a chave do sucesso, tanto do arquiteto como do cliente. Quanto mais entendimento mais satisfação haverá em ambas as partes.
Na sua visão, o que leva o cliente a contratar um profissional arquiteto e urbanista?
Eu percebo que o cliente vê o arquiteto como uma mente criadora e capaz de produzir uma obra autêntica para ele e dirigi-la. Acho que é essa busca pela sua obra de arte, sua vontade de planejar seu sonho. Porque o ser humano precisa de projeto e quando precisa de projeto é essencial ter uma ideia bem estudada.
Essa é uma das funções do arquiteto, transformamos ideias em qualidade de vida. Somos instrumentos sociais para criação de espaços em favor do homem e suas necessidades.
Qual a contribuição feminina na Arquitetura e Urbanismo? Existe alguma arquiteta e urbanista em especial que você pode citar como exemplo?
A questão de gênero em nosso campo profissional é grande e ainda há muito a ser vencido. Apesar do espaço da construção civil estar presenciando cada dia mais a atuação feminina, ainda precisamos vencer a ‘’cegueira’’ que muitos relutam em ter com o trabalho da mulher. Lutamos desde muito cedo pela visibilidade, duas de minhas inspirações são a arquiteta Odile Decq e a arquiteta Denise Scott Brown. Talentosas e transgressoras de seu tempo ajudaram a arquitetura e o mundo intelectual a evoluírem muito, dando voz para vencermos barreiras estereotipadas. Suas figuras presenteiam o universo feminino com mensagens de autoconfiança e a luta por igualdade.
Pode citar duas obras que te inspiram?
O arquiteto e urbanista tem uma importância fundamental e indiscutivelmente transformadora, qual contribuição como mulher você pretende dar a sociedade?
Eu pretendo persistir nos ideais da minha mãe, buscando igualdade de gênero na minha área de trabalho e na sociedade. Ainda sou uma jovem arquiteta, mas penso que é importante mantermos a essência do que realmente acreditamos, lutarmos por isso. Me vejo como uma ferramenta em potencial no meio de integração social, assim como minhas (meus) colegas. Espero que com meu trabalho eu seja uma transformadora de espaços, indo além da visão comercial; tendo a percepção dos problemas sociais e intervir para evoluir.
Qual sua mensagem às arquitetas e urbanistas de Rondônia e do Brasil?
O dia 8 de março é um dia de reconhecimento da luta feminina pela história. Somos geradoras de identidade local com força e talento para transformar o espaço. Ser arquiteta e urbanista nos concede o desafio contínuo de criatividade e competência. Feliz Dia Internacional da Mulher e obrigada pela oportunidade!
Por CAU/RO
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