Por Jorge Francisco Liernur
As autoridades brasileiras estão cientes de que o edifício – que, como resultado de suas medidas, deixará de pertencer ao povo do Brasil – representa não apenas algumas características que estão profundamente ancoradas em sua história, mas, talvez mais importante, é um trabalho brasileiro que mostrou os recursos e características mundiais que, mesmo os países mais ricos e avançados, não tinham até então sido capazes de realizar?
Nunca antes os edifícios de escritórios tomaram a forma pura do Ministério de Educação e Saúde – MES. Nunca antes um prédio público incorporou um telhado ecológico. Nunca antes o ar condicionado de um edifício de magnitude em áreas quentes foi baseado em um cuidadoso sistema independente de meios mecânicos. Nunca antes na cultura do século 20 a pintura, arquitetura, paisagismo e escultura foram incentivadas a serem articuladas nessas dimensões e com essa qualidade.
Além disso, o MES mostrou ao triste mundo atravessado pela destruição da guerra que era possível ter esperança de uma nova forma para o futuro e fezThe Architectural Review dizer que
“Não há dúvida de que esta guerra provará, nas palavras do Sr. Churchill, um choque, iniciando entre outras novas ordens um rearranjo do Equilíbrio de Poder. Uma das novas forças a serem contadas poderia ser a terceira maior entidade política do Hemisfério Ocidental, com mais de quarenta milhões de habitantes, e três milhões de quilômetros quadrados de território, o Brasil, um país tão grande quanto os Estados Unidos” (1)
Para aquele mundo triste e destrutivo, o MES era um símbolo de que a luz e a alegria ainda eram possíveis.
O prédio do qual as autoridades planejam despojar o povo brasileiro não é apenas um monumento que fala dos brasileiros, é uma obra-prima que continua mostrando estradas, que continua nos falando tudo sobre uma arquitetura mais razoável em sua articulação com o planeta e, ainda, mais humana em sua forma de construir a futura cidade. Transformá-la em apenas mais uma mercadoria é uma afronta que não devemos permitir.
Sobre o autor
Jorge Francisco Liernur é arquiteto pela Universidade de Buenos Aires. Foi diretor fundador da Escuela de Arquitectura y Estudios Urbanos de la Universidad Torcuato Di Tella, onde é professor emérito. É professor associado no Doutorado em Arquitectura da Facultad de Arquitectura y Estudios Urbanos de la Pontificia Universidad de Chile. Doutor honoris causa pela UNL, é curador convidado do MoMA de Nova York.
Fonte: Vitruvius
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