Leonardo Benevolo, uma das maiores autoridades em história da Arquitetura e Planejamento Urbano, veio a falecer aos 93 anos de idade. Benevolo esteve em São Paulo na década de 80, convidado a ministrar curso para doutorandos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na rua Maranhão, sobre experiências italianas no campo de sua especialidade.
À sua chegada, pediu-nos para falar em português, dispensando o ítalo-paulista de que geralmente eram vítimas alguns visitantes.
Logo em São Paulo, Leonardo Benevolo, a meu convite, embarcou em um monomotor e sobrevoamos parte da Grande São Paulo incluindo a Baixada Santista – a uma altura média de cerca de 1500 metros. Dessa forma, tive a oportunidade de descrever em pormenores (desculpando a pretensão) o que seria relevante para nosso colega de voo, “o verde da Serra do Mar, do Ibirapuera e dos Jardins; o adensamento industrial do ABC, a Billings, as praias do litoral paulista. De volta ao centro, o rio Tamanduateí, o centro velho, os rios Tietê e Pinheiros, o bairro do Morumbi e as reservas florestais da Cantareira, até o fim da viagem no Campo de Marte”.
O professor Benevolo voltaria a ver São Paulo “do alto”, dessa vez em terra. Do Terraço Itália, no centro da cidade, ele pode ter uma noção mais exata de que a resolução dos problemas dessa cidade não seriam nada fáceis.
Benevolo parecia revelar interesse em tudo o que se relacionasse à vida na área central. Experimentava os sucos de frutas naturais, o cafezinho. Ficou claro, eu diria, que pretendia conhecer como os paulistanos usavam sua cidade.
Ficou hospedado na Tudor House, (hoje demolida) à rua Joaquim Eugênio de Lima, um acolhedor hotel em pequena escala, onde os proprietários se desfaziam em atenções para que os visitantes se sentissem em casa.
Nesse ambiente, resolvi convidar o prof. Aziz Ab’Saber para conhecer Benevolo. A conversa ocorreu ao pé da lareira e eu, em minha situação privilegiada, lamentava não haver levado um gravador.
Com um compreensível constrangimento, mostrei ao professor o conteúdo de meu livro “São Paulo : três cidades em um século”, a ser editado em breve. No dia que se seguiu, Benevolo presenteou-me com um texto destinado a ser um prefácio para a obra.
Hoje, como professor aposentado de História da Arquitetura da FAUUSP, constato como foi profícuo a produção desse grande mestre. Seus livros são referências essenciais e, como toda obra consistente, parecem tornar-se mais úteis à medida que o tempo passa.
Benedito Lima de Toledo, arquiteto e urbanista, é professor titular de História da Arquitetura da FAU/USP e membro da Membro da Academia Paulista de Letras
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Publicado em 07/01/2016