Por Emerson Fonseca Fraga, Jornalista do CAU/BR

Lina, sem mais adjetivações, é um nome que representa inspiração a arquitetas e urbanistas de vários cantos do país. Nascida italiana em 1914 e naturalizada brasileira em 1951, imergiu-se na cultura nacional e, além de arquiteta e urbanista, foi uma artista multifacetada: atuou como ilustradora, cenógrafa, designer, escritora, curadora e artista visual. Pioneira em vários desses espaços, abriu fronteiras para a participação política, intelectual e de oportunidades das mulheres no Brasil em um cenário em que o exercício da Arquitetura era quase exclusividade dos homens.
Em 1940, depois de se formar pela Universidade de Roma e amedrontada pela ascensão fascista na cidade, mudou-se para Milão, onde abriu o estúdio “Bo e Pagani”, em parceria com o arquiteto Carlo Pagani, e colaborou para várias revistas de arquitetura e arte. A sede do negócio sofreu um bombardeio em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. No período, inconformada com a situação política no país e no continente europeu, Lina militou contra o regime chefiado por Benito Mussolini.

“Aqueles que deveriam ter sido anos de sol, de azul e alegria, eu passei debaixo da terra, sob bombas e metralhadoras. Senti que o único caminho era o da objetividade e da racionalidade. Sentia que o mundo podia ser salvo, que esta era a única tarefa digna de ser vivida. Entrei na resistência, com o Partido Comunista clandestino”, afirmou a arquiteta.
Nessa época, Lina chefiou uma revista, mas sua atuação política custou seu emprego após o fim da guerra. Junto com seu marido, o crítico de arte Pietro Maria Bardi, ela decidiu se mudar para o Brasil em 1946 e se afastar da instabilidade da Europa.
No ano seguinte, Pietro foi convidado pelo jornalista, empresário e político Assis Chateaubriand para fundar e dirigir o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Animado pela curadoria do casal na primeira exposição, Chateaubriand convidou a arquiteta para projetar a sede do MASP, que seria sua obra mais famosa. Ela própria escolheu o local, o antigo Parque Trianon, na Avenida Paulista.

Lina considerava o projeto do MASP ao mesmo tempo simples e monumental. “Uma arquitetura simples, uma arquitetura que pudesse comunicar, de imediato, aquilo que no passado se chamou de monumental, isto é, o sentido ‘coletivo’ de Dignidade Cívica”. Em documentário sobre a arquiteta, ela afirma: “não procurei a beleza, e sim a liberdade. Os intelectuais não gostaram, mas o povo gostou”.

A italiana não veio ao Brasil provisoriamente: tornou-se de fato brasileira e viveu aqui até sua morte, em 1992. Estudou nossa cultura popular, destacou-se personagem da vida intelectual da elite da época e participou do movimento modernista nacional.
Entre 1950 e 1951, teve construído seu primeiro projeto: a “Casa de Vidro”, sua residência na região do Morumbi, em São Paulo (SP). A edificação ganhou o nome pela fachada imponente de vidro, que parece flutuar sobre os pilares. Além de marco arquitetônico do modernismo brasileiro, a “Casa de Vidro” tornou-se ponto de encontro de artistas, arquitetos e intelectuais da época. Atualmente, o local serve como sede do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, que promove e divulga, segundo sua página oficial na internet (clique aqui para acessar), “arquitetura, design, urbanismo e arte popular”.

Em 1958, após uma conferência na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia, Lina foi convidada para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Assinou o projeto de restauro, revitalização e adaptação do antigo Solar do Unhão para o novo uso – um espaço vivo, que abrigaria teatro, debates, música e artes plásticas.
De volta a São Paulo em 1966, concluiu o projeto do Museu de Arte de São Paulo (MASP), que após sua inauguração, em 1968, tornou-se um dos marcos mais icônicos da arquitetura Brasileira.
Fez ainda o SESC Pompeia, inaugurado em 1982. “Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompeia, em 1976, o que me despertou curiosidade, (…) foram os galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização europeia (…). Na segunda vez em que lá estive, num sábado, (…) (encontrei) um público alegre de crianças, mães, pais e anciãos passava de um pavilhão a outro. (…) É essa a atmosfera que quero manter aqui”, afirmou a arquiteta. Veja episódio da série “Arquiteturas” sobre o projeto:
Para Archilina Bo Bardi, a arquitetura não era somente uma utopia. “No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a ver com arte, uma espécie de aliança entre dever e prática científica”, afirma ela no documentário “Lina Bo Bardi”, dirigido por Aurélio Michiles e lançado em 1993, um ano após sua morte. Veja a íntegra do vídeo:
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7 respostas
Excelente documentário!Retrata não só trajetória de uma profissional na arquitetura mais um resgate da criativa em toda sua potencialidade de ser Brasileiro
Todos quem conheceu pensamentos e atitudes,tem visto o permanente.
Muito interessante, gostei principalmente porque e tudo bem harmonizo,amplo, belo. Parabéns
Ótimo comentário, faz a gente repensar na profissão e resgatar conceitos esquecidos ao longo da carreira decorrente do consumismo e da banalização do que é arquitetura e arte genuína por modelos pré prontos de reprodução.
Ótimo comentário, faz a gente repensar na profissão resgatando conceitos esquecidos pelo consumismo e banalização da arquitetura e da arte decorrente da massificação de reproduções.
A melhor de todas as Arquitetas brasileiras na minha humilde opinião!!
Eu tive o prazer de conhecer esta arquiteta na rua do SESC quando ainda fazia colegio de edificações.
Inclusive tenho autógrafo da mesma. Otima representação e da trajetória desta maravilhosa profissional.