A influência das condições habitacionais para a saúde mental da população foi o tema da última live da série “Moradia digna é uma questão de saúde pública”, realizada nesta quinta-feira, 15 de julho. Como parte da campanha “Mais Arquitetos”, o CAU Brasil convidou especialistas da área para refletir sobre como a pandemia afetou de forma transversal a vida dos brasileiros e como o trabalho dos arquitetos e urbanistas pode ser uma ferramenta de saúde pública. O conselheiro federal Ednezer Flores conduziu a conversa com as psicólogas Sandra Fagundes, militante dos movimentos sanitarista e de saúde mental; e Anna Carolina Ramos, professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
Sandra Fagundes (Mestre em Educação e Saúde pela UFRGS)
Segundo Sandra Fagundes, vivemos um fenômeno que vai além de uma pandemia: é uma sindemia, que combina os efeitos da covid-19 sobre os aspectos sociais, econômicos e políticos. “Nós vivemos no Brasil uma sindemia que se expressa agudamente devido à desigualdade social. O vírus é democrático em relação aos corpos, mas ele encontra mais facilmente os corpos de pessoas negras e moradoras das periferias”, exemplificou.
Anna Carolina Ramos (Doutora em Ciência pela Unifesp)
No entanto, a saúde mental vem sendo afetada pela pandemia de maneira ampla, incluindo mesmo quem não foi contaminado pela doença. “A questão afetiva, o temor, o medo, mudança de comportamento e o cotidiano é um mal estar que atinge a humanidade”, afirma Sandra Fagundes, que faz parte da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO), coletivo criado em Porto Alegre, onde os lutos da pandemia são tratados coletivamente.
Ednezer Flores (CAU Brasil)
Além das vidas humanas, a covid-19 também provocou perdas de emprego, oportunidades, vínculos, sonhos e separações, observou a doutora em Ciências, Anna Carolina Ramos. “A pandemia é estressante para todos nós, mas vamos pensando nos fatores de intensificação desse estresse”, provocou a psicóloga ao observar o impacto dos espaços físicos no bem estar e na saúde mental. “Na psicologia existem muitos estudos mostrando como as condições do local (onde as pessoas vivem) influenciam: a iluminação, a disposição dos móveis, o aquecimento do ambiente. Tudo isso afeta o desempenho e o emocional das pessoas. Quando a gente está desconfortável não tem como estar satisfeito e isso é uma condição adicional de estresse” afirmou.
Sandra Fagundes lembrou os índices elevados de violência doméstica e de separações durante o período de pandemia e apontou as condições do espaço físico como um dos fatores de estresse para as relações. Ex-secretária de estado do RS, falou também sobre a relevância da intersecção entre a arquitetura e a saúde. Ela defendeu projetos intersetoriais para o atendimento à população e a inclusão do arquiteto nos núcleos de apoio à família dentro do sistema de saúde. “O arquiteto é fundamental, assim como o nutricionista, e o dentista, por exemplo. Todos fazem a diferença na saúde da população” defendeu a psicóloga, que colaborou com projetos do CAU/RS para a capilarização da ATHIS no Rio Grande do Sul. “A melhoria de uma casa também é uma inserção na sociedade”, disse.
Mesmo sendo previsto na constituição, o direito à moradia não faz parte da cultura do país. Este também é um dos motivos para o distanciamento da figura do arquiteto do contexto da saúde. “Só a lei não basta para mudar uma cultura. Tem estudos que mostram que o fato de uma lei ‘não pegar’ tem a ver com um desajuste entre a proposição da lei e as culturas nas quais ela vai se inserir”, disse Anna Carolina Ramos.
Assista à live na íntegra:
A conversa foi transmitida ao vivo pelo Instagram e está disponível para acesso também no Facebook.
Confira todas as lives da série “Moradia digna é uma questão de saúde pública”
Temporada 1:
Live 1 – Amanda Dias (@granapretaoficial), a arquiteta e urbanista Riva Feitoza, pioneira em arquitetura popular no estado de Sergipe. Mediação da conselheira Camila Leal Costa. Assista!
Live 2 – Paulo Vieira (@paulovieiraoficial) e arquiteto Paulo Jordão, ex-diretor de Planejamento Urbano do Município de Porto Nacional (TO). Mediação do conselheiro Matozalém Sousa Santana. Assista!
Live 3 – Nathaly Dias (@blogueiradebaixarenda), Rene Silva (@avozdascomunidades) e a arquiteta Claudia Pires. Mediação da conselheira do CAU Brasil Maíra Rocha. Assista!
Live 4 – Verônica Oliveira (@faxinaboa) e a arquiteta Mariana Estevão, da ONG Soluções Urbanas. Mediação da conselheira Cristina Barreiros. Assista!
Temporada 2
Live 1 – Raquel Marques, doutora em Saúde Pública pela USP; Mayara Floss, médica de família e comunidade. A conversa contou com mediação da conselheira federal e vice-presidente do CAU Brasil, Daniela Sarmento. Assista!
Live 2 – Sandra Fagundes, ex-secretária de estado do RS; e Anna Carolina Ramos, professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Mediação do conselheiro Ednezer Rodrigues Flores. Assista!
Sobre a campanha Mais Arquitetos
A série de lives foi uma ação da campanha Mais Arquitetos. Desenvolvida pelo CAU Brasil desde abril, a campanha realiza uma série de ações de comunicação para divulgar a Lei 11.888/2008, que prevê o direito dos brasileiros e brasileiras com renda de até três salários mínimos a assistência técnica para habitação de interesse social, e envolver a população brasileira no debate sobre o direito à moradia. A campanha também mantém o hotsite https://caubr.gov.br/moradiadigna.