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Lygia Fernandes e Clara Vasconcelos

Lygia Fernandes. Fonte: Silva, 1991.

 

 

Lygia Fernandes nasceu em São Luís, no Maranhão, no dia 27 de setembro de 1919. Filha de um oficial do Exército se mudou para o Rio de Janeiro, em 1936, quando ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo, na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA).

 

Em sua trajetória universitária estudou um ano de Urbanismo e cinco de Arquitetura, concluindo o curso após seis anos, em 1945.

 

Enquanto estudante, Lygia chamou a atenção de arquitetos que davam ênfase ao processo de concepção do projeto, como Jorge Machado Moreira, e assim, ela conseguiu desenvolver projetos hospitalares, ainda no período de graduação.

 

Participou da equipe que projetou o Ministério da Educação e Saúde. Sua carreira foi marcada por intensa participação em órgãos de classe e comissões públicas. Após sua formatura, trabalhou com Henrique Mindlin, que lhe permitiria ampliar seus contatos profissionais.

 

No dia 9 de julho de 1948 ingressou no Departamento de Habitação Popular (DHP) do Rio de Janeiro onde atuou no serviço de planejamento e trabalhou com Affonso Eduardo Reidy. Realizava pequenos projetos para distribuir, de graça, para as pessoas que queriam construir suas casas.

 

Entre 1951 e 1972, a arquiteta teve intensa atividade social participando de eventos culturais, bienais, exposições e cerimônias, em especial, no Rio de Janeiro. Em 1955, ela assumiu o cargo no Conselho Diretor do Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB), função que exerceria por um ano.

 

No final da mesma década, em 1958, o então prefeito Henrique Mindlin que foi arquiteto, urbanista, professor e historiador da Arquitetura, considerado um dos maiores colaboradores para a consolidação e regulamentação profissional dos arquitetos no Brasil, designou Lygia junto a outros arquitetos para estudarem o enquadramento dos conjuntos residenciais em vários locais do então Distrito Federal.

 

Na ocasião, Lygia visitava toda a cidade, incluindo, localidades que só chegava a pé, principalmente, nos morros. Além dos encargos dentro da área de Arquitetura, Lygia assumiu o papel de chefe dos fiscais no Depósito do Caju (Rio de Janeiro), que eram encarregados de checar a pesagem e a quilometragem percorrida em cada viagem dos caminhões de lixo da cidade.

 

Depois de anos de trabalho dedicados ao DHP foi trabalhar no Departamento de Parques e Jardins, em 1960, e se aposentou no Departamento de Estradas e Rodagem (DER),0 em 1989.

 

Lygia pode ser considerada uma das principais (ou mesmo a principal) arquitetas modernistas brasileiras considerando sua atuação nacional e reconhecimento internacional. Apesar de ter trabalhado majoritariamente na capital carioca, durante a década de 1950, a arquiteta desenvolveu projetos residenciais em Maceió, como as casas para José Lyra e Paulo Netto. Ambas tiveram repercussão em revistas e livros de circulação nacional e internacional.

 

A contribuição da arquiteta para o movimento moderno brasileiro pode ser visto por diferentes abordagens. Tais como: a primeira que ela faz parte de um conjunto de arquitetas que, em maior ou menor grau, vinha atuando profissionalmente na área, embora, muitas delas ainda permanecem desconhecidas ou obscurecidas pela própria historiografia hegemônica. E, em segundo lugar, pela importância na divulgação da produção arquitetônica e urbanística fora dos eixos Rio de Janeiro-São Paulo.

 

Lygia conseguiu passar por muitas áreas dentro da Arquitetura, o que a tornou uma profissional muito versátil, sendo capaz de atuar tanto em projetos públicos como privados, assim como arquiteta e urbanista. Mesmo apresentando essa característica, a arquiteta se manteve dentro das suas origens, escolhendo materiais regionais que nos dão indícios de sua preocupação com a adaptação de seus projetos aos locais onde foram projetados.

 

 

Clara Demettino Castro Vasconcelos

 

Clara Demettino Castro Vasconcelos é bacharel em Ciência e Tecnologia e formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA

 

A pesquisadora Clara Vasconcelos desenvolveu uma pesquisa sobre a vida de Lygia Fernandes em conjunto com seu orientador, o professor e doutor em Arquitetura e Urbanismo, José Carlos Huapaya Espinoza. Clara é bacharel em Ciência e Tecnologia e formanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre 2017 e 2018 participou do projeto de pesquisa _ARQUITETAS E URBANISTAS [DES]CONHECIDAS: Por uma ampliação da história da Arquitetura e do Urbanismo modernos na América Latina (1929-1960). Entre 2018 e 2019 fez parte do curso (graduação sanduíche) na École Nationale Supérieure d’Architecture et de Paysage de Lille (ENSAPL).

 

 

Entrevista com a pesquisadora

 

  1. Explique a sua pesquisa resumidamente (metodologia, variável e unidade de análise, recorte temporal).

A pesquisa sobre Lygia Fernandes utilizou uma série de artigos publicados em jornais, revistas especializadas e livros com o objetivo de visibilizar sua produção ao longo da sua vida.

 

 

  1. O que te motivou a pesquisar sobre o tema?

Esse processo começou com o projeto de pesquisa: ARQUITETAS E URBANISTAS [DES]CONHECIDAS: Por uma ampliação da história da arquitetura e do urbanismo modernos na América Latina, 1929-1960, iniciada em 2016, e coordenada pelo professor Dr. José Carlos Huapaya Espinoza, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Nessa pesquisa foi possível observar e revelar a importância e influência dessas mulheres no período moderno para nossa história.  Isto permitiu nossa reflexão sobre a necessidade de ampliar o espaço de discussão sobre a produção delas já que em poucos casos isto é possível.

 

 

  1. Qual a relevância da(s) arquiteta(s) pesquisada(s) para a historiografia da Arquitetura e do Urbanismo?

Lygia Fernandes foi, talvez, a única arquiteta moderna brasileira que teve projeção internacional e reconhecimento nacional com sua produção tão particular. Apesar disso, sua atuação ainda é desconhecida e pouco vista dentro da nossa história. Considerando o contexto histórico, que sempre focou muito na região sudeste, o fato de Fernandes ser maranhense, traz aspectos muito interessantes para sua produção pessoal.

 

 

  1. Comente as dificuldades e/ou especificidades enfrentadas pela(s) arquiteta(s) pesquisada(s) no exercício profissional relacionadas ao fato de ser(em) mulher(es)?

O interesse principal do artigo foi identificar e evidenciar a sua produção arquitetônica e urbanística. Dito isso, não é possível dizer ao certo se houve problemas profissionais pelo fato de ser mulher. No entanto é importante salientar que Lygia tinha aproximação e contatos com pessoas importantes como Lúcio Costa, Niemeyer e Carmen Portinho, o que pode ter ajudado a minimizar esse tipo de problema. 

 

 

  1. Indique link(s) ou arquivo(s) para demais informações sobre a sua pesquisa, ou artigos publicados relacionados ao tema (podendo incluir referências bibliográficas de outras autorias).

 

ARTES PLÁSTICAS. A cravação da “Estaca Fundamental”. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 14 dez. 1954, p. 14.

 

ARTES PLÁSTICAS. Arquitetos. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 09 ago. 1952, p. 9.

 

ARTES PLÁSTICAS. Notícias da Bienal. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 21 set. 1951, p. 11.

 

CESSÃO de terreno ao departamento de turismo. O Jornal, Rio de Janeiro, 28 set. 1962, p. 11.

 

CONCHA acústica no Rio. Diário Carioca, Rio de Janeiro, 20 fev. 1960, p. 6.

 

CONCOURS du Jockey Club Brésilien. L’architecture d’Aujourd’Hui, Paris, n. 21. nov./ dez. 1948, p. 64-65.

 

DIÁRIO EDUCACIONAL. Congresso Pan-Americano de Estudantes de Arquitetura. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 11 abr. 1956, p. 11.

 

EMPRESAS privadas dão solução para lixo na cidade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 24 set. 1972, p. 40.

 

ENTREVISTA com a Arquiteta Lygia Fernandes, maio 2002. Disponível em: <https://marcosocosta.wordpress.com/2010/12/24/entrevista-com-lygia-fernandes/>. Acesso em: 15 maio 2018.

 

FERNANDES, Lygia. Maison de Week-end a Tijuca. L’architecture d’Aujourd’Hui, Paris, n. 42-43, ago. 1952, p. 74.

 

FERNANDES, Lygia. Residência Dr. Paulo Netto. Arquitetura e Engenharia, Belo Horizonte, n. 35, abr./jun. 1955a, p. 12-17.

 

FERNANDES, Lygia. Residência do Dr. José Lyra. Arquitetura e Engenharia, Belo Horizonte, n. 35, abr./jun. 1955b, p. 21-23.

 

FERNANDES, Lygia. Residência em Alagoas. Acrópole, São Paulo, n. 204, set. 1955c, p. 542-545.

 

FERNANDES, Lygia. Residência em Maceió, Alagôas. Hábitat, São Paulo, n. 31, jun. 1956, p. 67-69.

 

HUAPAYA ESPINOZA, José Carlos. Arquitectas sudamericanas: por una historia desconocida de la arquitectura y del urbanismo modernos, 1929-1965. In: VIII Encuentro de Docentes e Investigadores en historia del Diseño, la Arquitectura y la Ciudad, 2018, Córdoba. Actas del VIII Encuentro de Docentes e Investigadores en historia del Diseño, la Arquitectura y la Ciudad, 2018a.

 

HUAPAYA ESPINOZA, José Carlos. “Nordeste selvagem e acolhedor”: o olhar Carioca, Paulista e Mineiro sobre a Arquitetura Moderna Nordestina mediante as Revistas Especializadas, 1950-1970. In: JUCÁ, Clovis; PAIVA, Ricardo (Orgs.). Projeto, obra, uso e memória. A intervenção no patrimônio modernista no Norte e Nordeste. Fortaleza: Edições UFC, 2018b, p. 521-538.

 

HUAPAYA ESPINOZA, José Carlos; VASCONCELOS, Clara Demettino Castro; TAPIA, Nedda María Noel; SANTOS, Priscila Monique da Silva; RUBIO, Sabrina Rachel. South American Foreign and Female Professionals: Reflections on an Unknown Contribution through Specialised South American Journals, 1929-1965. In: Women’s Creativity Since The Modern Movement (1918-2018): Toward a New Perception and Reception, Turim, 2018a.

 

LIMA, Ana Gabriela Godinho. Arquitetas e arquiteturas na América Latina do século XX. São Paulo: Altamira, 2014.

 

MINDLIN, Henrique. Modern architecture in Brazil. Rio de Janeiro: Colibris, 1956.

 

PREFEITURA. Transferidos para extranumerários os antigos interinos. Atos do prefeito. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29 jul. 1958, p. 3.

 

PREFEITURA VAI construir concha acústica de grandes proposições. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 12 fev. 1960, p. 3.

 

PRIMEIRA concha acústica será no Campo de Santana. Diário da Noite, Rio de Janeiro, 20 fev. 1960, p. 4.

 

SILVA, Maria Angélica. Arquitetura Moderna. A Atitude Alagoana. Maceió: SERGASA, 1991.

 

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