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Mayumi Watanabe e Maribel Aliaga

Crédito: Reprodução Revista Habitare

 

Mayumi Watanabe de Souza Lima nasceu em 1934, em Tóquio, no Japão. Seu pai era jornalista e sua mãe trabalhava no teatro do Grupo de Arte Proletária. Seus pais migraram para o Brasil com as duas filhas pequenas, Sayumi e Mayumi, quando o governo começou a perseguir os intelectuais marxistas.

 

Ao chegar no Brasil, a família viveu em fazendas nas cidades de Lins e Guaratinguetá até 1940. Depois, se mudaram para a capital paulista.

 

Em 1956 Mayumi se naturalizou brasileira e ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), obtendo seu título em 1960. Fez estágio com grandes nomes da Arquitetura brasileira, como Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Joaquim Guedes. Na Arquitetura, ela se dedicou a estudar planejamento, projeto e construção de equipamentos públicos para a educação de crianças e de jovens.

 

Ainda na faculdade, Mayumi conheceu o estudante de Arquitetura Sérgio Souza Lima, com quem se casou em 1961. Foram grandes companheiros durante toda a vida, na atuação profissional, na vida acadêmica e na militância política de esquerda. Juntos, executaram diversos projetos de Arquitetura, como escolas públicas, residências e até mesmo o detalhamento e coordenação das obras do MASP para a arquiteta Lina Bo Bardi.

 

Em seu trabalho profissional, desenvolveu uma série de projetos de escolas públicas para o país, chegando a construir algumas delas. Sua intervenção na área da educação se consolidou em projetos arquitetônicos, de mobiliário educativo e no restauro de colégios. Ao longo de seus mais de 30 anos de trabalho junto a educadores, administradores de ensino básico, de jardins de infância, desenvolvendo uma profunda reflexão teórica sobre os espaços educativos destinados às crianças. Sua produção intelectual aparece em dois livros chamados “Espaços educativos, uso e construção” (Brasília, MEC/CEDATE, 1986) e “A Cidade e a Criança” (São Paulo, Nobel, 1989).

 

Crédito: Fundação Perseu Abramo

 

As escolas que Mayumi e sua irmã frequentavam na infância ficavam distantes de sua casa e as duas precisavam caminhar longos percursos diariamente para poder estudar. Alguns colegas arquitetos creditavam a isso a escolha dela de trabalhar com a acessibilidade das escolas e o planejamento da rede escolar.

 

Ela também trabalhou com o arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, diretor executivo de Centro de Planejamento da Universidade de Brasília (UnB), com quem projetou e construiu com componentes pré-fabricados e a Unidade de Vizinhança de São Miguel, um edifício para 10 mil habitantes na cidade. Este foi o projeto com que Watanabe concluiu seus estudos de mestrado em Arquitetura sob a orientação de Lelé.

 

Atuou em órgãos públicos trabalhando na construção de complexos escolares e universitários. Foi superintendente da Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo (Conesp) e na frente do Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários (Cedec) teve grande importância quando dirigiu a experiência da produção de elementos pré-fabricados para equipamentos sociais urbanos, que possibilitou a montagem de escolas públicas compatíveis com as necessidades do país.

 

Mayumi também foi professora nas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, de Santos, de São José dos Campos e da Escola de Engenharia de São Carlos. 

 

Colocava seus alunos em contato com favelas no primeiro ano de estudo, buscando a politização dos estudantes. Acreditava na Arquitetura aliada às mudanças sociais. Faleceu em 1994.

 

 

Maribel Aliaga 

 

Maribel Aliaga é doutora em Teoria e História da Arquitetura pela UnB e professora adjunta da mesma instituição

 

Arquiteta e urbanista pela Belas Artes de São Paulo, Maribel Aliaga é mestre em Teoria da Arquitetura e Urbanismo pelo Programa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PROPAR – UFRGS), doutora em Teoria e História da Arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB) e professora adjunta da mesma instituição desde 2008. Feminista e Pesquisadora do Observatório Amar.é.linha.

 

 

Entrevista com a pesquisadora

 

 

  1. Explique a sua pesquisa resumidamente (metodologia, variável e unidade de análise, recorte temporal).

Mayumi Watanabe e Philomena Chagas Ferreira, hoje Milles Chagas, apareceram na minha vida mais ou menos em 2012, em uma das últimas greves de docentes antes das viradas políticas do país. Não sei se fui eu que encontrei Mayumi ou se ela me escolheu. Passeando pelas prateleiras da Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE/UnB), sua dissertação de mestrado saltou aos meus olhos, abrindo um leque de possibilidades investigativas, o que viria a ser minha tese de doutorado. Partindo do trabalho da Mayumi, entendi que haviam outras dissertações e que alguns dos mestrandos dos anos 1960 ainda estavam por aí. Philomena era uma delas que apesar de morar na França há muitos anos, tem casa em Brasília e costumava vir aqui para passar o inverno europeu. Em uma dessas viagens, consegui um encontro com ela. Na conversa ela contou que partiu do Brasil em 1966, e talvez por isso mesmo preserva tão bem as memórias daquele tempo.

 

Meu contato inicial com as duas arquitetas tem a historiografia como base, e o esforço de recontar um tempo pouco lembrado até então. O período estudado é curto, vai de 1963 a 1965, aproximadamente, que é o tempo de permanência delas como mestrandas na UnB. Mas apesar do recorte, para entender a trajetória destas mulheres, é preciso entender o antes e o depois. Nelas há um emaranhado de fios e pontas que retratam tanto este período conturbado da história brasileira, como também a transformação das mulheres e o seu papel na sociedade.

 

 

  1. O que te motivou a pesquisar sobre o tema?

A pesquisa de doutorado é um dos requisitos da carreira acadêmica, escolher um tema pode ser uma tarefa complexa, pois a relação dura em torno de quatro anos. Ter com a pesquisa uma proximidade teórica e política foi uma das minhas premissas. Tal diálogo só foi possível graças aos documentos, mas sobretudo das entrevistas realizadas com algumas das personagens. Como em uma colcha de retalhos, a montagem do texto foi se construindo entre um e outro, e a partir desta trama foi possível recontar a história da criação da UnB pelo olhar das arquitetas e arquitetos que fizeram parte deste momento.

 

 

  1. Qual a relevância da(s) arquiteta(s) pesquisada(s) para a historiografia da Arquitetura e do Urbanismo? Comente as dificuldades e/ou especificidades enfrentadas pela(s) arquiteta(s) pesquisada(s) no exercício profissional relacionadas ao fato de ser(em) mulher(es)?

Tanto a Philomena como a Mayumi se formaram arquitetas e urbanistas no início dos anos 1960, a primeira na Escola de Minas e a segunda na FAUUSP. É preciso lembrar que na época havia apenas cinco escolas de arquitetura no país, e que a participação das mulheres no curso era em torno de 15 a 20%. Em um tempo em que as mulheres estavam ingressando no mercado de trabalho, elas foram muito à frente do seu tempo, e participaram da equipe de mestrandas que compôs o primeiro curso de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Isso tudo em um país que buscava a modernidade, mas ainda era extremamente conservador. Elas eram estudantes e intelectuais do seu tempo, militantes e envolvidas com movimentos de esquerda, enfrentaram a repressão da ditadura militar.

 

Após o golpe, Philomena parte para o exílio e Mayumi é presa, apesar disso, ambas seguiram carreiras sólidas em ensino e pesquisa trilhando o caminho iniciado na UnB. Philomena é até os dias de hoje referência nos estudos bioclimáticos e de ambiência no Brasil. Em Estrasburgo, participou dos debates de 1968, que transformaram o ensino superior francês. Mayumi exerceu um importante papel técnico e político, no governo da prefeita Luiza Erundina, desenvolvendo projetos de peças moduladas em concreto para escolas primárias na cidade de São Paulo, criando um conceito embrionário de projeto e participação popular.

 

A recolocação de ambas e de tantas outras que ficaram invisibilizadas na historiografia da arquitetura moderna brasileira é um projeto de vida e de pesquisa que vem sendo desenvolvido pelas pesquisadoras do Observatório Amar.é.linha.

 

 

  1. Indique link(s) ou arquivo(s) para demais informações sobre a sua pesquisa, ou artigos publicados relacionados ao tema (podendo incluir referências bibliográficas de outras autorias).

ALIAGA FUENTES, Maribel; LATERZA, Ana; COELHO, Luíza Dias . Philomena Miller: Brasília-França, entre o exílio e o ensino. PERSPECTIVAS: Revista Científica de la Universidad de Belgrano., v. 4, p. 134-148, 2021. <https://revistas.ub.edu.ar/index.php/Perspectivas/article/view/187>

 

ALIAGA FUENTES, Maribel; COELHO, Luíza Dias ; TABOSA, Mayara . Mayumi Souza Lima e a Unidade São Miguel:  a herança feminina da Brasília dos anos 60. REVISTA ELETRÔNICA DE CIÊNCIAS HUMANAS, SAÚDE E TECNOLOGIA, v. 8, p. 109-124, 2020. <https://revista.fasem.edu.br/index.php/fasem/article/view/211>

 

ALIAGA FUENTES, Maribel. Três pioneiras no Cerrado. Monolito, v. 33, p. 80, 2017. <https://www.academia.edu/42652328/AS_ARQUITETAS_MULHERES_QUE_FIZERAM_A_CAPITAL_seus_projetos_suas_vidas_Hist%C3%B3ria_e_Historiografia_da_Arquitetura_e_do_Urbanismo_Modernos_no_Brasil>

 

ALIAGA FUENTES, Maribel. MAYUME E SÉRGIO SOUZA LIMA: OS BLOCOS RESIDÊNCIAS DA VILA SÃO MIGUEL. In: X SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL ARQUITETURA MODERNA E INTERNACIONAL: conexões brutalistas 1955-75, 2013, Curitiba. Anais do X Seminário Docomomo Brasil, Arquitetura Moderna e Internacional: Conexões Brutalistas 1955-75.. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2013, 2013. <https://www.academia.edu/44150151/MAYUME_E_S%C3%89RGIO_SOUZA_LIMA_OS_BLOCOS_RESID%C3%8ANCIAS_DA_VILA_S%C3%83O_MIGUEL>

 

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