Fiquei otimista com as declarações do governador que iria focar seu governo no Porto Sul e no projeto Águas do Sertão, dois pontos cruciais para o desenvolvimento da Bahia. Estas ações só serão efetivas se forem tratadas como projetos de estado desenvolvidos por instituições competentes públicas e não por empreiteiras que oferecem projetos de ocasião para pegarem obras. Estamos vendo o fracasso da renúncia ao planejamento público com os apagões de energia e agua ao mesmo tempo de inundações no Sudeste.
Mas a reforma administrativa que se anuncia atinge especialmente a área técnica, A liquidação do que restou do Derba, uma referência da engenharia nacional, com os melhores geólogos, engenheiros e urbanistas da Bahia é preocupante. O Derba não só foi responsável pela criação e manutenção da rede de estradas baianas, em seus 97 anos de vida, como o socorro emergencial de catástrofes naturais, por meio de suas vinte residências.
Outro órgão técnico que está sendo extinto é a Superintendência de Construções Administrativas, Sucab. Há anos foram liquidadas a Superintendência de Engenharia e Manutenção de Unidades de Saúde, Semus e a Conesc, que cumpria a mesma função com relação às construções escolares. Edificações publicas sem manutenção se transformam em bens de consumo duráveis, que devem ser reconstruídos a cada 15 ou 20 anos com enormes prejuízos para a educação, a saúde e os cofres públicos.
Na área do planejamento, a Conder, concebida para desenvolver a RMS, foi a partir de 1998 transformada em órgão apenas executor de projetos de empreiteiras. A Interurb responsável pela política de desenvolvimento urbano e articulação municipal no resto do estado foi dissolvida. Os resultados podem ser vistos no abandono da RMS, na transformação de Salvador em vila dormitório e cidades do interior sem saneamento nem mobilidade, lixões a céu aberto e conjuntos habitacionais sem equipamentos.
Aguas do Sertão, poderá transformar o abandonado semiárido baiano – um terço do Polígono das Secas – numa região produtiva com seu rico potencial mineral, de oleaginosas e fibras e de turístico espeleológico. Mas tudo depende da agua e o anunciado canal Juazeiro/S. José do Jacuipe pode ser uma revolução no tradicionalmente combate à seco com carros-pipas e tanques de fibra em ano eleitoral.
Infelizmente o solitário Porto Sul parece não sair do papel com a queda do valor do minério de ferro. Embora se feche esta porta, outra mais sustentável se abre, o porto de Salinas da Margarida no Canal de Itaparica, com calado de 21 m em aguas abrigadas e junto aos estaleiros de São Roque. Esse complexo industrial-portuário estaria articulado à Relan, ao Cia e ao Copec pela Envolvente Rodoferroviária da Baia de Todos os Santos. Esse polo seria o principal fornecedor de insumos e equipamentos para a exploração do pré-sal e um dos mais importantes hubports do país. Fontes de financiamento não faltariam.
Não podemos realizar esses projetos sem engenheiros. Enquanto a Rússia forma 190 mil deles por ano, a Índia 220 mil e a China 650 mil, nós formamos 40 mil e estamos diminuindo sua participação no governo. Menos engenheiros, mais médicos.
Publicado em 02/02/2015. Fonte: A Tarde, de 01/02/2015.
Uma resposta
Falar do DERBA dessa maneira me faz questionar todo o restante do texto. Para quem não conhece o Estado da Bahia só foi coberto por uma malha de estradas asfaltadas ao final da década de noventa. E ainda assim esse serviço foi realizado por empreiteiras privadas. Caso essa “referência” de bons serviços prestados seja real, então deve ser exclusividade da capital baiana, as outras cidades ficaram no cascalho e na lama por ANOS. O serviço estatal no Brasil é circense, em nenhum setor possui relevância comprovada. Acho melhor ter um pé atrás com esse governador, pois seu antecessor não trouxe grandes transformações, assim como a presidente que é do mesmo partido.