Com tantos nomes que marcam a arquitetura pernambucana, a professora Mônica Raposo Andrade, 77 anos, conta a sua história com o olhar no futuro. “É preciso se reinventar sempre”, preconiza a criadora do mais importante manual de habitação de interesse social já publicado, reconhecido mundialmente pelos conceitos inovadores. Com planos atuais que descartam a aposentadoria, ela quer editar livros, fazer projetos e seguir um caminho que confirma cada vez mais a presença da mulher no mercado de trabalho.
Nascida no Recife, encontrou a arquitetura por influência do pai, mas logo entendeu que a paixão estava além. Graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1964, lembra com alegria a sua turma diferenciada por contar com cinco mulheres, numa época em que a presença masculina era dominante.
O preconceito por ser mulher ela diz ter tirado de letra. “Nunca tive olhos para as dificuldades”, ensina com a experiência de quem admite haver enfrentado situações pontuais com pessoas que passaram por sua vida e, talvez, tenham duvidado de seu conhecimento. “O mérito, esse sim, supera qualquer preconceito”, assegura.
Desbravadora, logo após sair da universidade, passou uma temporada na Inglaterra, onde começou a ver a arquitetura com outros olhos. Foi decisivo para ela começar a enxergar o desenho da cidade e a se interessar pelo urbanismo.
Ao retornar ao Brasil, atuou na Secretaria de Habitação de Pernambuco, nos idos de 1980, tempo em que elaborou o Manual de Habitação Popular, no qual formulou a Teoria dos Acoplamentos para este segmento arquitetônico, projetando moradias sob a lógica do “Casa–Mento”, ou seja, unindo princípios da Casa e do Apartamento.
“Nosso desafio foi manter a privacidade das casas, do terreno individualizado e a alta densidade de ocupação urbana propiciada pelos apartamentos”, explica a professora que voltou à UFPE, anos depois, como concursada para integrar o corpo docente no curso de Arquitetura e Urbanismo, onde permaneceu por quase 40 anos em sala de aula. Também voltou à Inglaterra para seu doutorado, em Cambridge, abordando a geometria das vias de acesso urbano.
Novos desafios – Em plena atividade produtiva no escritório que dirige com Paulo Raposo e Moisés Andrade, Mônica Raposo repete, sem pestanejar, que a arquitetura é sua paixão. Por isso mesmo não pensa em parar tão cedo. Seu desafio atual está nos desenhos, traços e na tela do computador, criando novos projetos profissionais , um deles a Biblioteca Submersa, uma ideia que se transformou em livros publicados sobre arquitetura, em parceria com editora portuguesa e professores da Unversidade Católica do Porto, em Portugal.
O segredo para tanta vitalidade e amor à profissão, segundo ela, está explicado numa frase de Steven Jobs: você não consegue ligar os pontos olhando para a frente; você só consegue ligá-los olhando para trás, pois todos estarão ligados algum dia no futuro.
Além da hegemonia – O presidente do CAU/PE, Rafael Amaral Tenório, destaca a presença feminina na arquitetura e urbanismo, com reconhecidas profissionais que inspiram e orgulham. Em Pernambuco, quase 70% dos profissionais registrados no CAU são mulheres. “Essa presença cria um novo paradigma de toda sociedade, no qual o olhar sobre a arquitetura e urbanismo, sempre buscando a igualdade, vai além da hegemonia de gênero”, afirma.
Por Márcia Guenes, da Diálogo – Comunicação Integrada para o CAU/PE