O [MORA] Pesquisa em Habitação, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), tem se consolidado desde 2009 como um espaço de inovação e ação interdisciplinar em habitação de interesse social. Com mais de 30 pesquisadores integrantes, o grupo desenvolve projetos como “Minha Casa sem Dengue e Casa Resiliente”, que utilizam tecnologias acessíveis e metodologias participativas para melhorar as condições habitacionais de comunidades vulneráveis. Conta atualmente com alunos de graduação e pós-graduação das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação, Design e Geografia. Todos os trabalhos são desenvolvidos de forma integrada e colaborativa formando uma rede interdisciplinar de conhecimento. Conheça mais os seus pesquisadores.
Após 15 anos de produção, o grupo tem desenvolvido vários projetos significativos. Dentre eles, os projetos mais recentes, destacam-se “Minha Casa sem Dengue”[2] e “Casa Resiliente”[3], que incluem ferramentas como o aplicativo web “Reforma na Palma da Mão”[4]. Os projetos são desenvolvidos por equipes interdisciplinares de alunos de Iniciação Científica, de mestrado, doutorado e pós-doutorado do PPGAU/UFU – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFU. Conheça um pouco dos trabalhos dos alunos de mestrado e doutorado do grupo e de suas publicações científicas.
Durante entrevista exclusiva ao Perspectiva CAU, a professora doutora em arquitetura e urbanismo Simone Villa, uma das líderes do MORA, destacou o impacto de ferramentas como o aplicativo “Reforma na Palma da Mão”, que capacita moradores para realizar melhorias em suas moradias de forma prática e segura. Villa também ressaltou como parcerias internacionais e iniciativas locais têm promovido avanços significativos na saúde, bem-estar e qualidade de vida, enfrentando desafios como o déficit habitacional e a vulnerabilidade a desastres climáticos.
A seguir, a pesquisadora detalha os principais projetos e aprendizados do MORA, destacando a força da colaboração e da tecnologia na construção de um futuro habitacional mais acessível e sustentável no Brasil.
Confira trechos da entrevista a seguir:
Perspectiva CAU: O que é o MORA[1] – Pesquisa em Habitação e quais são seus principais objetivos? Poderia nos dar uma visão geral dos projetos mais relevantes desenvolvidos até agora e como eles impactam a habitação de interesse social no Brasil?
Simone Villa: O [MORA] Pesquisa em Habitação – Espaço físico e virtual de diversas discussões sobre o habitar foi formado em 2009. Faz parte do Núcleo de Pesquisa em Projeto de Arquitetura (NUPPA) do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (PPGAU/FAUED/UFU) e conta com mais de 30 pesquisadores atuantes. Desenvolve projetos interdisciplinares de pesquisa e extensão focados no tema da Habitação, financiados por órgãos nacionais e internacionais.
A pesquisa em habitação tem como objetivo principal desenvolver soluções que atendam às necessidades habitacionais da população, com foco em conforto ambiental, flexibilidade e resiliência. Para alcançar esses propósitos, são aplicados métodos de Avaliação Pós-Ocupação (APO), que permitem analisar o desempenho das edificações e a satisfação dos moradores em relação aos espaços construídos.
Após 15 anos de produção, o grupo tem desenvolvido vários projetos significativos. Dentre eles, os projetos mais recentes, destacam-se “Minha Casa sem Dengue”[2] e “Casa Resiliente”[3], que incluem ferramentas como o aplicativo web “Reforma na Palma da Mão”[4].
Esses projetos contribuem significativamente para a redução do déficit qualitativo habitacional no Brasil, estimado em 26,5 milhões de moradias inadequadas, segundo dados de 2022 da Fundação João Pinheiro. Ao fornecer estratégias práticas para melhorias habitacionais, como a eliminação de focos de doenças e a adaptação das moradias às necessidades dos moradores, iniciativas como “Minha Casa sem Dengue” e “Casa Resiliente” beneficiam diretamente milhões de famílias, promovendo saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Além disso, ao capacitar moradores e profissionais para realizar reformas, esses projetos fortalecem a participação comunitária e a redução de impactos nas intervenções, contribuindo para a construção de um ambiente construído mais resiliente.
Perspectiva CAU: Como os aplicativos desenvolvidos pelo MORA, como o “Minha Casa sem Dengue” e “Casa Resiliente – Reforma na Palma da Mão”, têm impactado as comunidades atendidas? Quais são os maiores desafios na implementação tecnológica em áreas de interesse social?
Simone Villa: Essas ferramentas têm capacitado os moradores a identificar e implementar medidas de prevenção de doenças, como a dengue, e a realizar reformas que aumentem a funcionalidade, o conforto e a resiliência de suas moradias. Além disso, ao oferecer orientações técnicas de forma simplificada, os aplicativos ampliam o acesso ao conhecimento especializado, promovendo a autonomia dos usuários.
No entanto, a implementação tecnológica em áreas de interesse social enfrenta desafios consideráveis, como ocorre em qualquer outro contexto. Entre os principais obstáculos estão a resistência inicial ao uso de novas tecnologias, ao engajamento dos moradores e a necessidade de adaptação das ferramentas ao contexto cultural e às limitações técnicas. Esses desafios ressaltam a importância de iniciativas complementares, como a realização de oficinas presenciais, campanhas educativas e suporte técnico contínuo, para garantir que as soluções tecnológicas sejam efetivamente incorporadas e beneficiem o maior número de moradores.
Perspectiva CAU: Quais soluções tecnológicas ou metodológicas desenvolvidas pelo MORA têm mostrado maior impacto na melhoria das condições de habitação sustentável? Poderia destacar exemplos específicos de aplicação prática?
Simone Villa: O MORA tem se destacado ao desenvolver soluções tecnológicas e metodológicas inovadoras para melhorar a habitação sustentável, com foco em Habitações de Interesse Social (HIS). Entre as iniciativas, destaca-se a Avaliação Pós-Ocupação (APO), utilizada em conjuntos habitacionais de Uberlândia para identificar melhorias práticas
Principais Projetos:
- [MINHA CASA SEM DENGUE]:
Iniciado em 2020, este projeto promove o retrofit de quintais como estratégia para prevenir arboviroses em empreendimentos habitacionais sociais. Realizado no bairro Shopping Park, em Uberlândia, ele resultou na significativa redução de criadouros de mosquitos e no aumento da conscientização sobre saúde e salubridade entre os moradores.
- [SISTEMA APO DIGITAL][5]:
Lançado em 2022, o projeto introduz interfaces digitais para a avaliação pós-ocupação, permitindo uma análise mais abrangente da qualidade ambiental no habitar. Essa ferramenta facilita a coleta e análise de dados.
- [REFORMA NA PALMA DA MÃO]:
Esta ferramenta tecnológica criada para ser utilizada por moradores e arquitetos, para facilitar o planejamento e execução de reformas habitacionais de interesse social. O aplicativo promove a autonomia dos usuários, fornecendo orientações práticas para intervenções que melhorem a resiliência das moradias.
Essas iniciativas reforçam o papel estratégico da tecnologia e das metodologias participativas na transformação da realidade habitacional em comunidades de interesse social.
Perspectiva CAU: Como as oficinas comunitárias e os mapeamentos realizados pelos projetos do MORA fortalecem a interação com os moradores? Há algum caso de sucesso que você destacaria como exemplo de transformação real na vida das comunidades?
Simone Villa: As oficinas comunitárias e os mapeamentos realizados pelos projetos do MORA desempenham um papel fundamental na construção de uma relação colaborativa com os moradores, promovendo sua participação ativa no planejamento e nas decisões que afetam diretamente a qualidade de suas habitações. Essas práticas permitem que os moradores identifiquem problemas, compartilhem suas perspectivas e cocriem soluções que atendam às suas reais necessidades. Ao engajar a comunidade, o MORA fortalece o senso de pertencimento e garante que as intervenções propostas sejam mais eficazes e sustentáveis.
Em parceria com a Universidade de Sheffield (SSoA/TUoS), tem dedicado algumas de suas pesquisas no desenvolvimento de ferramentas avaliativas e práticas colaborativas que possam auxiliar comunidades locais e carentes, principalmente no que tange as comunidades residentes em Conjuntos Habitacionais de Interesse Social. Por meio da pesquisa “[RES_APO] método de análise da resiliência e adaptabilidade em conjuntos habitacionais sociais através da avaliação pós-ocupação e coprodução”[6], o grupo atua em um Conjunto de Habitação de Interesse Social, envolvendo de forma direta e indireta líderes comunitários, ONGs e cerca de 120 famílias através de questionários, reuniões, oficinas, assessoria técnica, entre outros. Para essa pesquisa, foram adotados os conceitos de resiliência e adaptabilidade, aplicados através de técnicas da coprodução, com a intenção de entender a situação atual dos CHIS e as mudanças realizadas nas casas pelos seus moradores, além do seu potencial de qualificação e recuperação, buscando a melhoria do espaço e da qualidade de vida.
Outro exemplo notável é o projeto [Minha Casa sem Dengue][7], implementado no bairro Shopping Park, em Uberlândia. Por meio de oficinas comunitárias, os moradores foram capacitados a identificar e eliminar focos de mosquito Aedes aegypti em seus quintais. Esse caso demonstra como a interação ativa com os moradores, combinada com práticas participativas e educativas, pode gerar impactos positivos duradouros, promovendo não apenas melhorias habitacionais, mas também o fortalecimento social e ambiental nas comunidades atendidas[8].
Perspectiva CAU: Os projetos do MORA contam com parcerias de instituições renomadas no Brasil, como o CAU/MG, e no exterior. Como essas colaborações têm contribuído para enriquecer e aplicar as pesquisas no contexto das habitações brasileiras?
Simone Villa: Essas colaborações possibilitam a troca de conhecimentos, experiências e recursos, enriquecendo tanto a abordagem metodológica quanto a execução prática dos projetos no contexto brasileiro. Por meio dessas parcerias, o grupo tem acesso a recursos técnicos e financeiros que viabilizam a realização de estudos aprofundados e a implementação de iniciativas de maior alcance. Um exemplo é a colaboração com o CAU/MG para o desenvolvimento do aplicativo web “Reforma na Palma da Mão”, em 2021[9], e para o projeto de aprimoramento da plataforma agora em 2024[10].
A troca de experiências internacionais também tem sido fundamental, permitindo o acesso a práticas e soluções inovadoras desenvolvidas em outros países, que são adaptadas às demandas específicas das habitações brasileiras. Um destaque é a parceria com a professora doutora Fionn Stevenson, da Sheffield School of Architecture – The University of Sheffield, no Reino Unido desde 2016. Nesse contexto, o MORA apresentou o projeto “Minha Casa sem Dengue”[11], uma colaboração entre Brasil e Reino Unido, financiada pelo Global Challenges Research Fund (GCRF-UK), demonstrando como a cooperação internacional pode contribuir para o enfrentamento de desafios habitacionais complexos.
Essas parcerias fortalecem a atuação do MORA, ampliando seu repertório técnico e metodológico, além de garantir que as soluções desenvolvidas tenham impacto local e global, promovendo a transformação das condições habitacionais no Brasil.
Perspectiva CAU: De que maneira o “Casa Resiliente” aborda questões como conforto térmico e resiliência a desastres climáticos? Há resultados ou aprendizados específicos que podem ser aplicados em futuras políticas públicas ou projetos habitacionais?
Simone Villa: O projeto Casa Resiliente aborda questões de conforto térmico e resiliência climática. Ao longo dos anos de produção científica, o conforto térmico é um atributo investigado e reconhecido como fundamental para promover a resiliência, entendida como a capacidade do ambiente construído de se adaptar, absorver impactos e se transformar diante de condições adversas. Atualmente, uma das linhas de pesquisa do grupo está focada na resiliência climática em habitações sociais[12].
Por meio de análises e propostas práticas, o Casa Resiliente busca fomentar avanços significativos em políticas públicas e projetos habitacionais. Seu objetivo é assegurar que as moradias estejam mais bem preparadas para enfrentar desafios como eventos climáticos extremos. Essa abordagem contribui para a melhoria do desempenho habitacional em contextos de vulnerabilidade climática e promove qualidade de vida e segurança para as populações atendidas pelos programas.
[1] [MORA]: https://morahabitacao.com/artigos/
[2] [Minha Casa sem Dengue]: https://minhacasasemdengue.com.br/
[3] [CASA RESILIENTE]: https://www.casaresiliente.com/
[4] [REFORMA] na palma da mão: https://reformacasa.facom.ufu.br/home.php
[5] [SISTEMA APO DIGITAL]: https://apodigital.wixsite.com/pesquisa
[6] [RES_APO] https://www.casaresiliente.com/agindo
[7] Resultados da Pesquisa: https://morahabitacao.com/wp-content/uploads/2021/10/final-report_resume_merged.pdf
https://morahabitacao.com/wp-content/uploads/2021/03/573.pdf
[8] Relatório: https://morahabitacao.com/wp-content/uploads/2021/10/final-report_resume_merged.pdf
[9] https://morahabitacao.com/pesquisas-em-andamento-2/estrategias-na-palma-da-mao-para-uma-casa-saudavel-e-resiliente/
[10] https://transparencia.caumg.gov.br/wp-content/uploads/SEI_0350593_Ata_de_julgamento.pdf
[11] https://youtu.be/_TQF2QlmRQ
[12] https://www.revistas.usp.br/gestaodeprojetos/article/view/215364
https://href.li/?https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/39335