Faleceu em Paris, aos 96 anos, o ecodesenvolvimentista Ignacy Sachs. Nascido em Varsóvia(PL), em 1927, Sachs se refugiou no Brasil durante o período da Segunda Guerra, aos 14 anos, onde iniciaria sua jornada de estudos econômicos sobre os países mais pobres e que o tornaria especialista nas questões brasileiras. Foi professor emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, na França, onde fundou o Centro de Pesquisa sobre o Brasil Colonial e Contemporâneo.
A presidente Nadia Somekh lamentou a morte do economista e lembrou suas contribuições para o Plano Diretor de São Paulo. “Conheci Ignacy em 1985, quando ele veio para a Secretaria de Planejamento, durante a gestão Jorge Wilheim. Ele trouxe a questão ambiental para o Plano Diretor”, recorda. Segundo a presidente, suas perspectivas farão falta em um momento em que as soluções viáveis e sustentáveis se tornam ainda mais urgentes. “É uma perda pessoal e também uma perda para o mundo, ainda mais agora que as mudanças climáticas estão se constituindo como uma questão global muito importante”, afirmou a presidente.
Foi Sachs que apresentou ao mundo o ecodesenvolvimento na Conferência das Nações Unidas de Estocolmo em 1972, estimulando a descoberta de aspectos econômicos capazes de alavancar o crescimento com sustentabilidade ambiental e justiça social. Depois disso, o economista defenderia o conceito do desenvolvimento sustentável nas conferências Rio92 e Rio+20. “Há duas maneiras de olhar o planeta. Uma consiste em considerar que o mundo é um bolo, que depois é cortado em visões unidimensionais: economia, sociologia e ecologia. Depois vêm aqueles que partem do conjunto e tentam pensar quais são as dimensões pertinentes para o problema”, afirmou.
“O ecodesenvolvimento é uma das mais importantes contribuições intelectuais para as ciências sociais contemporâneas. Ignacy Sachs deixa uma obra que tem que ser mais conhecida e muita saudade entre seus amigos”, escreveu o colega e amigo Ricardo Abramovay, professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (USP) em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo.
Ignacy Sachs iniciou seus estudos em economia na Universidade Cândido Mendes no Rio de Janeiro, e cursou doutorado na Universidade de Nova Delhi/IN. Entre suas principais publicações, estão “Extrativismo na Amazônia Brasileira: Perspectivas sobre o Desenvolvimento Regional” (1994), “Estratégias de Transição para o Século 21: Desenvolvimento e Meio Ambiente” (1993), “Rumo à Ecossocioeconomia — Teoria e Prática do Desenvolvimento” (2007), todos traduzidos para vários idiomas.
Seu último livro foi a autobiografia “A Terceira Margem – Em Busca do Ecodesenvolvimento” (2009). “Daqui a pouco, terei 80 anos, mas não tenho a intenção de ‘amarrar minha canoa’. Como o herói de um conto de João Guimarães Rosa, eu continuarei a navegar à procura da terceira margem cujas paisagens sociais sejam harmoniosas, de onde tenham desaparecido as polaridades e exclusões, o ódio e a violência observados nas duas margens (a capitalista e a do real socialismo) do longo e não tão tranquilo assim rio da minha vida”, escreveu.