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“Mulheres na Arquitetura” e “Arquitetas Invisíveis”: equidade de gênero no mercado

A condição da arquiteta no mercado de trabalho ainda não é ideal, mas uma série de coletivos e organizações busca transformar esse cenário. Dentro do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP), formou-se um Grupo de Trabalho (GT) denominado “Mulheres na Arquitetura”. O objetivo do grupo, que completa quatro anos de atividade em 2019, é melhorar as condições trabalhistas das arquitetas, por meio da exposição da opressão de gênero, da conscientização e do fortalecimento das mulheres frente a essa violência e da busca por ferramentas práticas de ação para casos de opressão.

 

Recepção de uma das reuniões do Grupo de Trabalho Mulheres na Arquitetura, do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP). Foto: Cortesia do SASP/ Acervo pessoal.

 

As reuniões do grupo são abertas a todas as profissionais de arquitetura. Por ser relacionado com o Sindicato, o grupo foca sempre na questão da precarização do trabalho para arquitetas.  Os encontros são divulgados na página do “Mulheres na Arquitetura” no facebook. Para debates informais, o GT possui um grupo no facebook, que conta com quase 200 participantes.

 

Segundo Paula Fernanda Faria Rodrigues, uma das coordenadoras do “Mulheres na Arquitetura”, o carro-chefe do Grupo esse ano será o “São Paulo Por Elas”. O projeto consiste em um aplicativo móvel que mapearia e evidenciaria toda a produção arquitetônica feita por mulheres no estado de São Paulo. Essa produção, no entanto, não se restringe apenas a edificações: o programa irá contemplar também projetos de decoração, design, expografia, cenografia.

 

Imagem de divulgação do projeto “São Paulo por Elas”, aplicativo que irá mapear a produção feminina de arquitetura em São Paulo. Foto: Cortesia São Paulo Por Elas/Divulgação.

 

A luta por equidade de gênero no mercado de trabalho não se restringe apenas ao meio profissional, grande parte dela parte das universidades. É o caso do coletivo “Arquitetas Invisíveis”. Fundado em 2014 por cinco então estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, o projeto se consagrou como uma ferramenta de exaltação de mulheres arquitetas.

 

Hoje, já formadas, as participantes do coletivo encaram novos desafios e propostas. Para uma das co-fundadora do grupo, Luiza Coelho, a motivação do “Arquitetas Invisíveis” alterou com a entrada das integrantes no mercado de trabalho. “Agora que estamos tendo contato com o mundo profissional de forma mais concreta e real, vemos que a capacidade da mulher ainda é questionada na parte de conhecimentos técnicos, obras e construção”.

 

Para 2019, o “Arquitetas Invisíveis” pretende lançar ferramentas práticas para aumentar o reconhecimento da mulher na arquitetura. Neste 8 de março, o coletivo lança a primeira parte de uma biblioteca digital de design de mobiliário produzido por arquitetas. Em parceria com o ArchDaily e com o coletivo norte-americano “Say It Loud”, o grupo irá lançar um compilado de trabalhos de 31 arquitetas negras.

Exposição organizada pelo Arquitetas Invisíveis, em 2014, contou a trajetória de 26 arquitetas. Foto: Arquitetas Invisíveis.

 

Em meio a esses projetos, o “Arquitetas Invisíveis” busca financiamento para o lançamento da terceira revista produzida pelo coletivo. A revista é construída de forma colaborativa com estudantes e arquitetas do Brasil e do exterior que enviam seus trabalhos para o grupo para a publicação. Nesta edição, o coletivo recebeu três vezes mais trabalhos do que nos anos anteriores.

 

Por ser um coletivo formado dentro de uma universidade, o “Arquitetas Invisíveis” orienta suas ações para as estudantes, para que possam assim transformar a estrutura acadêmica e, posteriormente, o mercado de trabalho.

 

Sobre a falta de arquitetas da bibliografia das faculdades, Luiza Coelho acredita que a transformação dos currículos não depende só dos professores, mas também dos alunos. “Os professores estão dispostos a melhorar, mas a questão da bibliografia, muitas vezes, é por falta de conhecimento. Eles têm uma carga de trabalho muito grande, por isso focamos em conversar com os estudantes, para que eles tenham um bom repertório para apresentar aos professores”.

 

Ainda assim, ela evidencia que a adaptação dos currículos é necessária para se estudar uma arquitetura realmente atual. “Se todo mundo se alimenta sempre do mesmo repertório, estamos fazendo arquitetura contemporânea, atual, ou só reproduzindo um padrão consagrado que não sabe mais em nosso contexto? ”

 

Luiza Coelho (terceira, da esquerda para direita) representando o Arquitetas Invisíveis em uma palestra da Casa Vogue sobre mulheres nas artes, em 2018. Foto: Casa Vogue/Divulgação

 

Quanto a condição das arquitetas no mercado de trabalho atualmente, Paula Fernanda acredita que a mudança ainda é lenta, mas gradual, pois a conscientização das mulheres, que vem aumentando cada dia mais, influencia no mercado. “Quando uma empresa passa por uma crise e precisa demitir funcionários, as primeiras a serem despedidas são as mulheres. É uma via de mão-dupla, a evolução no mercado também depende da própria consciência das mulheres”.

 

A conscientização das arquitetas sobre condições justas de trabalho, segundo a coordenadora Paula Faria, é a principal missão do GT. Para a arquiteta, o resultado desse trabalho já pode ser percebido, principalmente, nas universidades. “Há dez anos atrás, quando eu me formei, esses temas não eram discutidos, mulher e arquitetura, mulher e cidade. Agora, muitas meninas fazem trabalhos de conclusão de curso sobre o assunto, até mestrados. Os professores ainda não estão preparados pra isso, pela diferença de idade e de gerações. ”

 

Hoje, Luiza Coelho está no mestrado na Universidade de Brasília estudando a perspectiva de gênero na arquitetura, tema que também orientou seu projeto de conclusão de curso. Segundo ela, seu ensaio teórico foi o primeiro em 10 anos, e o segundo em toda a história da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UnB a abordar questões de gênero, e isso só foi possível pois uma professora da faculdade comprou sua ideia para que pudessem aprender juntas. Hoje, todo semestre tem ao menos um trabalho com perspectiva de gênero na FAU. “Professores são pessoas que se formaram há muito tempo, e nós estamos mudando muito rápido”.

 

Quanto ao futuro do mercado de arquitetura com base na nova geração de graduandos, Luiza Coelho acredita que haverá uma melhora de qualidade não só para as arquitetas, mas para a sociedade como um todo. “O que a gente vê hoje são cidades projetas por e para homens brancos de classe média alta. Quando um projeto é idealizado por uma mulher, ela coloca sua vivência e suas percepções naquela obra, o que melhora a qualidade de vida da população como um todo”.

 

 

Por Beatriz Castro, estagiária, com supervisão de Júlio Moreno. 

2 respostas

  1. Amei o assunto, sou Arquiteta e Urbanista e sinto muita dificuldade em conseguir emprego de carteira assinada. direi segui-las e farei o possivel para ser bem participativa.
    abraços.

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