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Natália, Layara e Ana Carolina: Arquitetas e urbanistas em defesa da profissão

As arquitetas e urbanistas Layara Cavalcante, Natália Magri e Ana Carolina Rodrigues (Foto: CAU/MT)

 

No Brasil, as mulheres representam 62% do total de profissionais arquitetos e urbanistas em atividade no país, mas lista de profissionais reconhecidamente ilustres da área é pequena em relação a de homens que alcançaram o mesmo status. Apesar de nem sempre terem o mesmo destaque, de seus trabalhos nem sempre alcançam o grande público, as mulheres estão presentes nas mais diversas áreas de atuação realizando trabalhos significativos.

 

Nesse Dia da Mulher, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Mato Grosso decidiu prestigiar as profissionais que compõem o Conselho, e que se dedicam diariamente para contribuir com a sua profissão e a sociedade.

 

Layara Cavalcante de Campos

Layara Cavalcante de Campos, 28 anos, nascida em Frederico Westphalen, se mudou para Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, com cinco anos, e reside aqui desde então. Atualmente é Analista Técnica do CAU/MT. Desde pequena era fascinada por revistas de arquitetura e sempre teve um interesse por desenho. No colégio teve experiências com a disciplina de artes plásticas que despertaram essa preferência pela arquitetura, que foi consolidada pelo resultado de um teste vocacional. Decidida a seguir essa vertente artística, ela optou pelo curso de Arquitetura e Urbanismo, tendo se formado em 2011 na Universidade de Cuiabá.

 

A arquiteta e urbanista Layara tem interesse na área de arquitetura sustentável e eficiência energética. Ela admira o trabalho Ruy Ohtake por sua versatilidade, como ele coloca sua marca em projetos para os mais variados fins, sejam residências, hotéis, obras públicas; pela sua originalidade e capacidade de inovar, sobretudo na plasticidade das obras, que é o que mais lhe encanta.

 

Depois de formada ela trabalhou em um escritório de arquitetura e também se dedicou a trabalhos paralelos. Contudo, devido a grande influência familiar e seu desejo por estabilidade, ela decidiu se dedicar aos estudos para concurso público, e foi quando surgiu a oportunidade de prestar o concurso para trabalhar no CAU/MT. Infelizmente ela acredita que no estado os escritórios nem sempre valorizam o profissional, mas que ao trabalhar no Conselho que representa sua classe, ela foi capaz de encontrar esse respeito e valorização. Além disso, ela tem grande satisfação em fazer parte do Conselho, colaborar com seus colegas profissionais e participar desse projeto que é o CAU. A construção de um conselho próprio para os profissionais arquitetos e urbanistas é um projeto recente que está em andamento. A profissional se declara contente em poder contribuir com ele.

 

Sobre o papel da mulher na arquitetura ela afirma que a sensibilidade natural da mulher é capaz de gerar grandes contribuições para a arquitetura. Ser sensível é conseguir compreender o que a pessoa quer e o que ela precisa. Contudo, ela completa que independente do gênero todos os profissionais devem buscar oferecer a sua contribuição para a implementação de uma arquitetura e urbanismo acessível, que seja capaz de mudar a realidade da cidade e consequentemente das pessoas que dela usufruem.

 

Ana Carolina Rodrigues

Ana Carolina Rodrigues, de 32 anos, nascida em Cuiabá, é Agente de Fiscalização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Mato Grosso. Desde pequena ela estava envolvida com o mundo da construção, já que seus pais eram engenheiros, de onde ela acredita ter surgido certa influência. Somada a essa influência, Ana apresentava um lado criativo muito forte, o que fez com que ela optasse pelo curso de Arquitetura e Urbanismo, tendo se formado na Universidade Federal de Mato Grosso em 2008.

 

A arquiteta e urbanista Ana Carolina tem um grande interesse por obras institucionais, ela falou sobre a participação em concurso públicos de projetos, citando sua última participação na Câmara Municipal de Porto Alegre, e de como lhe encantam essas construções cheias de história e força. Ela não tem um arquiteto preferido. Em cada momento, a cada fase que vive, ela busca conhecer um pouco mais sobre o trabalho de algum profissional, o que acredita ser muito enriquecedor. Atualmente Ana Carolina está estudando o trabalho do arquiteto português Eduardo Souto de Moura, que segunda ela possui uma visão ampla, que abrange diferentes aspectos como política, economia, sociedade em seus trabalhos, o que o torna um profissional completo.

 

O início da carreia profissional de Ana foi em Porto Velho, onde viveu experiências enriquecedoras tanto com obras particulares, trabalhando em escritório, e também com projetos institucionais dos mais variados portes, pela sua vinculação na Associação Rondoniense de Municípios – ARON, o que também gerou um contato com públicos distintos. Após três anos a profissional retornou à cidade de Cuiabá e trabalhou durante aproximadamente dois anos em um escritório com projetos particulares de grande porte. Em seguida ela teve a experiência de abrir um escritório próprio com um sócio, com foco em arquitetura de residências e mídia. Quando abriu a possibilidade de trabalhar no Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso, ela viu nesse concurso público uma oportunidade de trabalhar pela sua profissão, pela sua categoria, e se esforçar no reconhecimento da mesma pela sociedade. Ela afirma que é de extrema importância o profissional arquiteto e urbanista ocupar o espaço público, pois ele é uma figura importante no planejamento, no olhar estratégico, na melhoria das cidades.

 

Quanto à figura da mulher na arquitetura, Ana Carolina fala como a grande quantidade de mulheres presente na profissão contrasta com a minoria que é reconhecida. Através de sua própria experiência no mercado ela diz que a mulher geralmente não é vista como alguém que possa percorrer todos os caminhos que a profissão oferece. Existe uma clara distinção no mercado onde cabe a mulher um foco em trabalhos com interiores, mas dificilmente ela é vista como uma profissional que pode realizar uma participação completa, do projeto até a execução da obra. Ela acredita que as mulheres têm muito a contribuir, principalmente ao usar a sensibilidade intrínseca a elas, para gerar qualidade ambiental das nossas cidades. Ela conclui afirmando que a mulher é capaz de atuar em qualquer âmbito da arquitetura e urbanismo, basta que enfrente os preconceitos e prove sua capacidade, pois a igualdade de gêneros só é alcançada quando cada indivíduo acredita em sua capacidade.

 

Natália Magri

Natália Magri, de 29 anos, nascida em Cuiabá, é Agente de Fiscalização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de Mato Grosso. Ela sempre teve um interesse pela arte e valorizava a capacidade de se expressar de uma maneira artística própria. A princípio, pensou em cursar a faculdade de Jornalismo e se expressar através das palavras, mas encontrou na Arquitetura uma possibilidade de ir além, de transcender a matéria, uma abordagem mais abrangente.

 

Quando ingressou na faculdade, ela não tinha real dimensão do que era a profissão. Natália percebeu que apesar da ênfase na arquitetura de edificações, que se destaca pelo visual, seu curso oferecia duas profissões em uma, e que, apesar da pouca ênfase em urbanismo, foi por essa área que se apaixonou. Ela vê o urbanismo como um transformador da cidade, sendo o planejamento capaz de gerar uma realidade diferente, integrando as pessoas, sendo este um poder de transformação social.

 

Após se formar na Universidade Federal de Mato Grosso em 2010, a profissional Natália Magri trabalhou no Núcleo de Planejamento Urbano da Prefeitura de Cuiabá. Foi nesse momento em que ela percebeu como a falta de planejamento afeta as cidades e como implicações políticas geram entraves para o desenvolvimento da mesma. Depois dessa experiência ela viu no Concurso Público para trabalhar no CAU/MT a possibilidade de participar ativamente e contribuir com a consolidação do Conselho da classe e com o bem-estar da comunidade.

 

Natália admira o trabalho da arquiteta Lina Bo Bardi, por quem se interessou desde a época da faculdade. A primeira obra que conheceu da arquiteta Lina foi o MASP, ela se lembra de seu deslumbramento e de como se sentiu maravilhada, mais do que quando conheceu obras de outros arquitetos famosos como Oscar Niemeyer. Ela ressalta alguns aspectos do trabalho da profissional, como a sutileza e nuances de elementos arquitetônicos, o simbolismo, o contraponto entre o peso do concreto e a leveza, e a sensibilidade da arquiteta.

 

Quanto ao papel da mulher na arquitetura, ela acredita que a tendência é que haja uma distinção cada vez menor entre os gêneros. Ela já presencia essa igualdade em concursos públicos, mas acredita que no setor privado, principalmente na área de edificações, há uma predominância e preferência pelo profissional de gênero masculino. Ela acredita que esse preconceito velado existe, mas que aos poucos vem sendo rompido, e que é importante um posicionamento da mulher para ajudar na quebra desse tabu.

 

Natália ressalta os dados do senso realizado pelo CAU que revelam que a maioria dos profissionais é do sexo feminino, além disso, a cada dia mais mulheres se formam nessa profissão. Ela declara seu incômodo diante da grande quantidade de mulheres na área, mas como quase não há referências femininas, sendo que as referências que existem não são atuais, não há mulheres expoentes na arquitetura, porque mesmo que haja a produção, não existe a divulgação desse trabalho, o que ela vê com um reflexo do mercado. Ela acredita na capacidade da mulher de expressar seu eu, no seu modo de transparecer sua impressão do mundo, o que gera uma maior diversidade de leituras, uma percepção diferenciada. Ela preza pela construção de uma linguagem mais essencialmente feminina na arquitetura e urbanismo.

 

 

Por Juliana Kobayashi, Analista de Comunicação do CAU/MT

 

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