Nas comemorações do Dia do Arquiteto e da Arquiteta e Urbanista 2022, os profissionais presentes ao Museu de Arte do Rio (MAR) foram brindados com uma apresentação de uma das mulheres de maior destaque no cenário internacional da Arquitetura e Urbanismo. Elizabeth de Portzamparc, arquiteta e urbanista brasileira radicada na França, é autora de obras emblemáticas no Brasil, na França e na China.
A arquiteta e urbanista construiu desde bairros inteiros, passando por centros de ciência, museus, até uma monumental torre de 262 metros de altura em Taiwan. Na solenidade promovida pela CAU Brasil e pelo CAU/RJ, ela apresentou projetos revolucionários e os conceitos que embasam a sua “Nova Arquitetura”.
“A escala urbana foi a minha primeira paixão. Esse desejo de agir na sociedade e no mundo, de ser um agente de transformação”, afirmou a uma plateia de mais de 200 arquitetos e urbanistas e estudantes presentes à solenidade realizada no Rio de Janeiro.
Na França, fundou e dirigiu o Ateliê de Urbanismo Participativo da cidade de Antony. “Eu decidi que meu trabalho seria criar costuras, desfazer as visões funcionalistas”, disse. “A qualidade de uma cidade depende da diversidade dos seus espaços urbanos”.
Elizabeth apresentou o dez pontos principais de sua “Nova Arquitetura”, uma prática capaz de responder aos desafios da contemporaneidade e do futuro. São eles:
1. Urbano sustentável é indissociável do social
2. Bairros verticais
3. Pesquisa e experimentação de novas soluções
4. Preservação da identidade dos lugares
5. Economia de formas e materiais
6. Instalar uma economia circular própria
7. Novas soluções de moradia (pré-fabricada)
8. Flexibilidade, reversibilidade e adaptabilidade
9. Pesquisa de materiais duráveis, recicláveis, de fontes renováveis
10. Autoconstrução colaborativa (faça você mesmo)
“Por que Nova Arquitetura? Eu não sabia como chamá-la. Ecossistêmica? Regenerativa? Autopoética?”, disse Elizabeth. “Todo esse trabalho foi focado na urgência ambiental, visando o longo prazo e produzindo economia circular local”. Segundo ela, essas soluções são aplicadas em todos os seus projetos.
Na torre Taichung Intelligence Operation Center, em Taiwan, é aplicado o conceito de Torre de 4ª Geração: prédios com espaços interiores conectados com a cidade através de ruas interiores e praças. O prédio está sendo construído após um concurso de projeto vencido pelo escritório de Elizabeth em parceria com o escritório Ricky Liu & Associates, de Taiwan.
Seu projeto para um Conjunto Residencial em Versalhes traz o conceito dos bairros verticais, com uma “densidade aprazível”. “Objetivos são favorecer interações entre atividades e pessoas e romper as barreiras entre animação urbana do solo e os espaços verticais”, disse. Para isso, o projeto reúne moradias de categorias mistas, com muitas áreas externas privativas, locais de vida comunitária, jardins e hortas comunitárias.
Na sua proposta para o concurso público da Marina da Glória, Elizabeth queria integrar totalmente o Parque do Flamengo com a construção de um centro cultural e um mirante para a Baía de Guanabara. “A ideia seria criar um lugar sem barreiras visuais ou físicas. A edificação prolonga o parque e o parque não atravessa a edificação”, disse.
A utilização de materiais locais é um dos conceitos principais do Hotel ‘Living in the Leaves’, em Huizhou, na China. “Utilizamos só materiais locais, como madeira e pedra, além de técnicas locais de trançados de vime”, disse Elizabeth. O projeto venceu o concurso arquitetônico ‘Ancient Tree Civilization and Residence Future’, promovido pelo Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA).
Na Biblioteca “Humatéque”, na cidade de Aubervilliers (França), Elizabeth teve a oportunidade de projetar tudo aquilo que falta nas bibliotecas clássicas. “Coloquei uma diversidade de espaços interiores, com um projeto flexível e sustentável que já inclui suas futuras extensões”, explicou.
O arquiteto e ubanista Sergio Magalhães, convidado para mediar o debate com Elizabeth de Portzamparc, afirmou que esses trabalhos mostram uma dimensão muito instigante do trabalho do arquiteto e urbanista. “Uma dimensão onírica, podemos assim dizer”, comentou. “Elizabeth conquistou sua autonomia profissional com uma produção espetacular.”
A presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, agradeceu a apresentação e ressaltou a importância desses conceitos. “Tudo o que você nos traz cabe em 15 dias de aulas. Cada projeto deveria ser dissecado”, disse. “Você é uma arquiteta e urbanista cosmopolita.”
Confira a íntegra da palestra: