Na tarde de 4 de julho, a Embaixada do Brasil em Copenhagen (Dinamarca) foi palco de uma palestra disruptiva sobre o futuro da urbanização e a preservação da biodiversidade na Amazônia. A arquiteta e urbanista Ana Cláudia Cardoso, conselheira suplente do CAU Brasil e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), revelou aos arquitetos europeus presentes ao UIA2023CPH a conexão entre os arranjos espaciais dos assentamentos humanos da Amazônia e a defesa do direito à biodiversidade.
A palestra “Um Vislumbre do Futuro a partir do Continente Amazônico” foi organizada pelo CAU Brasil e pelo IAB em parceria com a Embaixada do Brasil, como evento paralelo ao UIA2023CPH e parte da programação da Arquitetura Brasileira em Copenhagen. Na ocasião, Ana Claudia apresentou uma proposta inovadora: como promover o desenvolvimento urbano sem comprometer a riqueza natural e cultural da região.
Ela desafiou a promessa do século 20 de crescimento, baseada na urbanização, no consumo e em combustíveis fósseis. “Nas periferias, essa experiência se transformou em uma crise permanente, produzindo desmatamento, degradação ambiental e conflitos sociais”, afirmou.
Porém, descobertas arqueológicas ajudam a compreender os assentamentos humanos no passado na Amazônia. Segundo a professora, o urbanismo pré-colonial da floresta amazônica, desenvolvido pelos povos indígenas, era baseado em quatro eixos:
- Floresta
- Pequenos sítios de cultivo
- Assentamentos humanos
- Rios
Seria um novo conceito de ocupação: a Ecópolis, um tipo de cidade que se reconecta com seu entorno local, priorizando tecnologias de energia renovável e sistemas de produção de alimentos regenerativos.
Essa Ecópolis seria uma contraposição à Petrópolis dos dias de hoje, um modelo baseado na agricultura intensiva (mecanização, especialização e importações) que é responsável pelo consumo pesado de petróleo. Representa uma transição de uma sociedade dependente do petróleo para uma sociedade resiliente e sustentável.

A professora destacou a importância da tecnologia para esses ecossistemas, questionando por quanto tempo o conhecimento das populações tradicionais será considerado irrelevante em comparação com a indústria.
Ana Claudia mostrou exemplos impressionantes de experiências ribeirinhas, destacando suas características e ressaltando a necessidade de repensar políticas públicas.
Segundo ela, é fundamental incluir perspectivas multi-escalares e setoriais, além do bom design, na produção do ambiente construído na Amazônia.
Discutiu ainda as pressões e impactos da mudança climática nas cidades amazônicas, e o potencial dos movimentos sociais, do conhecimento indígena e do trabalho colaborativo para criar novos futuros.
No fim, ela pediu por uma reformulação das políticas públicas e um papel estratégico dos arquitetos e urbanistas na região. “Na Amazônia houve uma urbanização da baixa agricultura tropical densidade, baseada na organização galáctica de assentamentos humanos médios e pequenos, organizadas entre si pela mobilidade fluvial, por rios e canais, e terrestres
caminhos”, disse.
Para ela, projetos de edificações e assentamentos humanos não devem ser meros instrumentos de instrumentos contratuais de obras, devem estar a serviço da emancipação social e da justiça socioambiental. Suas ideias convidaram os arquitetos presentes a repensar a forma como projetam e constroem as cidades do futuro, criando cidades sustentáveis que respeitem e valorizem a biodiversidade local.
“Sua palestra mostrou que precisamos fazer uma escolha sobre as políticas públicas que serão adotadas na região”, afirmou a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh. “Mais que isso, não apenas como a Amazônia será tratada pelas políticas nacionais, mas também pelo mundo. Talvez seja o caso de políticas que façam parte de uma governança global. Mas sem esquecer de olhar para essa região a partir do seu potencial de biodiversidade e também partir da sua autonomia e soberania”.
Confira aqui a apresentação completa
No UIA2023CPH, o estande brasileiro foi concebido para sensibilizar sobre o papel dos arquitetos e urbanistas na tarefa de preservar este território estratégico para o mundo. Por definir o regime de chuvas e o clima do nosso continente e devido à sua escala e extensão, a Amazônia também influencia a vida em todo o planeta.