A Arquitetura dialoga com as novas tecnologias que estão mexendo com o cotidiano de nossa sociedade? Parece que não. O impacto já está posto e não há tempo a perder. Essa constatação foi uma das que guiaram a mesa-redonda “O mundo da transição”, que aconteceu na tarde da última segunda-feira (09/10) durante a II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, sob a mediação da arquiteta e urbanista Mirna Cortopassi Lobo.

Um dos debatedores, André Lemos, professor, escritor e diretor do LAB04 – Laboratório de Pesquisa em Mídia Digital, Redes e Espaço da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fez uma reflexão sobre o conceito de “cidades inteligentes” ou “smart cities”, abordando o “invisível”. “Vocês são profissionais da materialidade, do visível. E vou falar aqui do invisível. Pensar o espaço e o tempo como associação. O invisível do qual eu vou falar é como o oxigênio que tanto precisamos e não conseguimos enxergar”. Um exemplo? O Facebook. “Ele nos mostra o que acha que nós queremos ver, por meio de algoritmos baseados nas nossas próprias ações”, disse. Para Lemos, a “suposta diferença entre físico e virtual caiu em desuso”.
O palestrante contou que se questionou sobre o que falar para arquitetos, tendo concluído: “vou tentar convencê-los de que deveriam se preocupar com essa invisibilidade. Tem muito mais coisas acontecendo nas praças dos que nós vemos nas fotos. Tem pessoas falando delas nas redes sociais, e assim até mesmo estimulando políticas públicas”. De acordo com André Lemos, não há política e sujeito sem artefato e não há arquiteto que não deva pensar sobre isso. “Esse é um grande perigo de alienação e má compreensão de nossa cultura”, acredita. Por isso, afirmou, “o papel do arquiteto não é fazer monumentos, assim como disse aqui neste evento o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. O que vocês vão projetar são relações”.

O administrador e escritor Mauro Calliari, outro debatedor, propôs uma reflexão contemporânea sobre o espaço público e sua ocupação, dando como exemplo a história da Praça Roosevelt, em São Paulo. O local viveu um processo intenso de degradação e recentemente ganhou um novo significado a partir de sua revitalização. “As pessoas de alguma maneira estavam esperando um espaço e essa é a história da relação da cidade com o espaço público. Hoje vivemos um sentimento de reapropriação, com a conjugação das políticas públicas com esse desejo”.

Mauro citou exemplos de experiências internacionais em Nova Iorque, Seul e Paris que se relacionam com iniciativas na cidade de São Paulo – apontadas por ele como exemplos de boas práticas, tais como: a abertura da Avenida Paulista e do Minhocão aos domingos para pedestres, hortas comunitárias e o carnaval de rua. “Essa é uma tendência no mundo”, ressaltou. Por fim, citou algumas inciativas que chamou de ações não tecnológicas de ocupação como propostas para as cidades. Entre elas: ressimbolizar o espaço público; a promoção de trajetos a pé; estímulo à média tecnologia; estruturas de transporte como indutoras de crescimento urbano; e o reconhecimento do espaço público como conflito.